Missa do Vaqueiro de Serrita traz Sertão ao Recife

A primeira e mais tradicional celebração religiosa em homenagem aos que trabalham duro nas caatingas do Sertão, cuidando do gado, ganha uma versão inédita no litoral. É a Missa do Vaqueiro de Serrita, que o Governo do Estado de Pernambuco, através da Empresa de Turismo de Pernambuco – Governador Eduardo Campos (Empetur), Centro Cultural Cais do Sertão e da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), promove no Recife, para marcar os 30 anos de morte de Luiz Gonzaga e do Padre João Câncio, os criadores da celebração religiosa, o projeto Tengo Lengo Tengo.

A iniciativa conta com uma programação variada, que engloba, além da realização da tradicional missa de Serrita na capital pernambucana, o lançamento da biografia de Câncio e uma exposição com uma extensa programação cultural. A mostra “Tengo Lengo Tengo” ganha abertura no dia 13 de junho e segue em cartaz até 27 de agosto, na Sala São Francisco, no Cais do Sertão. Já a cerimônia religiosa está marcada para 16 de junho, às 16h, no vão livre do Cais. A expectativa é atrair aproximadamente 25 mil pessoas.

“A Missa do Vaqueiro é um dos acontecimentos mais importantes do Sertão pernambucano, atrai muitos turistas. É uma cerimônia emocionante, e foi criada por Luiz Gonzaga e o padre João Câncio. São duas figuras emblemáticas da nossa cultura, as quais temos a felicidade de homenagear, trazendo ao Cais algo que foi concebido por eles. É um momento muito especial para o Cais do Sertão, um equipamento mantido pela Empetur, pelo Governo do Estado. Nossa expectativa é, novamente, assim como fizemos com a vinda do Zé Pereira, fazer o link entre o Litoral e o Sertão, despertando no nosso povo o desejo de viajar pelo Estado, de conhecer essa riqueza cultural que nós temos”, declara o secretário de Turismo e Lazer, Rodrigo Novaes.

O presidente da Cepe, Ricardo Leitão, reforça a importância dos dois homenageados para a cultura do Estado. “Luiz Gonzaga é um ícone, criou toda uma geração de sanfoneiros, compositores, artistas, que vivem para o forró, que é uma marca do Nordeste. E João Câncio é o padre que idealizou a missa, que colocou o nome de Serrita no mundo. Estamos apoiando a biografia escrita pelo jornalista Vandeck Santiago e toda a exposição. É um projeto que o Governo do Estado promove com muito carinho, e a Cepe tem orgulho de fazer parte”, salientou Leitão.

O Altar e o Cruzeiro que já viraram símbolos da Missa do Vaqueiro em Serrita serão reproduzidos fielmente para a celebração no Recife, um acontecimento que deve entrar para a história da capital pernambucana. Na cerimônia, vaqueiros trajando os seus tão simbólicos gibões de couro participam ativamente. Na ocasião, será realizada a liturgia completa. “Queremos que o público tenha uma experiência da grandiosidade que é este ato de fé”, explica Helena Câncio, viúva do Padre João Câncio e também organizadora do evento.

O projeto Tengo Lengo Tengo conta com o apoio da Secretaria de Cultura de Pernambuco, Prefeitura do Recife e da Janela Gestão de Projetos, de Dida Maia e Fernanda Ferrário.

EXPOSIÇÃO

A “Tengo Lengo Tengo” foi pensada como uma forma de celebrar a data que marca os 30 anos da morte das duas personalidades fundadoras da Missa do Vaqueiro, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e o Padre João Câncio. A ideia é dar ao grande público uma dimensão da importância do trabalho desenvolvido por ambos na missão de preservar a cultura e a tradição dos vaqueiros.

Dividida em três seções, a exposição começa com o espaço expográfico, que trabalha o encantamento com o Sertão Verde através das sensações. É aqui que o público poderá entender o sentimento de ter a chuva renovando a vida das plantas e dos animais no entorno da bacia hidrográfica do Rio Pajeú. De sentir as emoções geradas pelos registros em verso e prosa da influência dos rios, riachos, açudes, poços e cacimbas na vida dos sertanejos. Para dar boas-vindas ao público, projeções de vídeos e fotos ao som dos sucessos de Gonzagão.

No segundo momento, é apresentada “Quando o Sagrado Vem do Chão”, uma seção centrada na Missa de Serrita e na figura do vaqueiro, com sua armadura de couro, sua fé e tradição. Na mostra, um altar e uma cruz reproduzem o cenário de força e magia que envolve o todo o evento, desde a festa profana, reunindo sertanejos de grandes distâncias, até a parte sagrada, que tem seu auge na manhã de domingo dedicada à parte religiosa, com toda sua liturgia.

O público ainda poderá conferir um mapa com todas as Missas do Vaqueiro do Sertão, com suas respectivas datas para orientar os que se apaixonarem pelo universo do evento. Vaquejadas e pegas de boi também estão no roteiro.

A última parte, “A Música que Eleva as Raízes”, permitirá ao público conferir como a influência do Rei do Baião se espalhou pelo País com suas músicas. É através das canções que os costumes, a ética, a natureza, os amores, as relações sociais, a economia e muito fortemente a religiosidade, entre vários outros aspectos, foram se tornando motivo de orgulho para um povo tão mal representado. O universo Gonzaguiano, já tão bem exposto no Cais do Sertão, terá na exposição “Tengo Lengo Tengo” um viés retratado por outros artistas, de várias outras áreas. A tecnologia fará a aproximação do visitante com Exu, terra natal do Rei do Baião, e permitirá uma viagem virtual ao Sertão dos sanfoneiros e dos aboiadores; do xaxado e das bandas de pífano.

Ainda dentro da programação, a exposição contará com o lançamento da biografia do Padre João Cancio, no dia 13 de junho, abertura da mostra.

No decorrer do tempo em cartaz, serão realizadas mesas-redondas, com temas como “O Sertão pelas Lentes dos Fotógrafos”; “O Armorial e as Pedras do Reino” e “O Cangaço e Gênero”. Oficinas de zabumba, de costura do couro (inclusive com uma versão para crianças), apresentações culturais sertanejas e leituras dramáticas também fazem parte do programa.

Outro ponto de destaque é a realização da Cavalhada se São José do Belmonte no Recife, no dia 25 de agosto, às 16h, com a participação de 40 cavalos. A encenação inclui jogos medievais de habilidades com o cavalo, como acertar argolas, por exemplo.

O encerramento da exposição, em 27 de agosto, será marcado por uma festa, com o Som da Rural tocando grandes sucessos de Gonzagão.

SOBRE A MISSA DO VAQUEIRO

Realizada anualmente, a Missa do Vaqueiro tem em suas origens uma história que foi consagrada na voz de Luiz Gonzaga: a de Raimundo Jacó, um vaqueiro habilidoso na arte de aboiar. Reza a lenda que seu canto atraía o gado, mas atraía também a inveja dos colegas de profissão, fato que culminou em sua morte numa emboscada. O fiel companheiro do vaqueiro na aboiada, um cachorro, velou o corpo do dono dia e noite, até morrer de fome e sede.

A história de coragem se transformou num mito do Sertão e três anos após o trágico fim, sua vida foi imortalizada pelo canto de Luiz Gonzaga. O Rei do Baião, que era primo de Jacó, transformou “A Morte do Vaqueiro” numa das mais conhecidas e emocionantes canções brasileiras. Mas Gonzaga queria mais, e se juntou a João Câncio dos Santos – padre que ao ver a pobreza e as injustiças cometidas contra os sertanejos passou a pregar a palavra de Deus vestido de gibão – para fazer do caso de Jacó o mote para o ofício do vaqueiro e a celebração da coragem.

Assim, em 1970, o Sítio Lajes, em Serrita, onde o corpo de Jacó foi encontrado, recebe a primeira Missa do Vaqueiro. De acordo com a tradição, o início da celebração é dado com uma procissão de mil vaqueiros a cavalo, que levam, em honras a Raimundo Jacó, oferendas – como chapéu de couro, chicotes e berrantes – ao altar de pedra rústica em formato de ferradura.

A missa, uma verdadeira romaria de renovação da fé, acontece sempre ao ar livre e se assemelha bastante aos rituais católicos, porém contando com toques especiais que caracterizam o evento: no lugar da hóstia, os vaqueiros comungam com farinha de mandioca, rapadura e queijo, todos montados a cavalo.

SERVIÇO

Exposição “Tengo Lengo Tengo” e lançamento da biografia de João Câncio, por Vandeck Santiago

Dia 13 de junho, 18h.

Missa do Vaqueiro

Dia 16 de junho, 16h.

Eventos abertos ao público, no Centro Cultural Cais do Sertão – Av. Alfredo Lisboa, s/n, Bairro do Recife. Fone: 3182-8266

FOTO: Guga Matos

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