Muitas obras, mas pouco planejamento

Por CAROL BRITO
Da Folha de Pernambuco

Os erros no planejamento de obras públicas vêm causando dores de cabeça no Executivo, Legislativo e órgãos de controle. O aumento no volume de investimentos em benfeitorias, nos últimos anos, trouxe crescimento para o País, mas problemas como falhas nas estruturas, má execução, sobrepreço e até mesmo corrupção, acenderam o sinal de alerta na opinião pública. Auditorias preventivas realizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), no ano passado, detectaram que as obras mais importantes do País apresentavam erros no seu planejamento. A falta de um projeto básico e executivo de qualidade foi a principal falha apontada no levantamento.

A partir dos anos 80, o País viveu um longo período de recessão, que reduziu os investimentos estruturadores e desaqueceu o setor de obras. O processo levou os órgãos de planejamento e estruturadores das regiões Norte e Nordeste ao sucateamento. O cenário foi revertido, na última década, com a estabilização da moeda e a volta dos grandes investimentos.

O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Marcos Loreto, avalia que o crescimento do volume de obras no País, nos últimos anos, pegou as gestões e o setor privado desprevenidos. Ele afirma que o Executivo sozinho não consegue abarcar toda a demanda e acaba ficando dependente das consultorias privadas, que fazem o acompanhamento das benfeitorias.

“De repente, o Brasil criou um volume grande de obras e não estava preparado para recebê-las. Tudo foi feito às pressas. As falhas nos projetos acabam sendo constantes pelo volume de obras que recebemos nos últimos anos. No meu ponto de vista, não havia estrutura de profissionais nas áreas de engenharia, por exemplo, e o Estado ficou refém das consultorias privadas. Muitas vezes, essas empresas ficam sobrecarregadas e fazem projetos ruins. Isso acaba atrapalhando a execução, porque um projeto ruim afeta todas as etapas da obra”, avaliou Loreto. Há casos onde o mesmo projeto é aplicado para obras em localidades diversas, sem levar em conta a diferença nos terrenos e legislações locais. O resultado é sobrepreço, atrasos e benfeitorias mal feitas.

O presidente da Associação Municipalista de Pernambuco, José Patriota (PSB), afirma que a maioria das construções apresenta aditivos por conta de erros nos projetos. O gestor avalia que o problema é ainda maior em prefeituras do Interior que não possuem estruturas e acabam dependendo das consultorias. O dirigente acredita que as empresas também acabam ficando sobrecarregadas, trabalhando para várias prefeituras ao mesmo tempo.

“Acho que há um problema grave na formação de profissionais. É uma dificuldade enorme encontrar bons projetos. Geralmente, eles são mal dimensionados, estruturados e não possuem os estudos preliminares. Quando você começa a implantar é uma grande diferença”, criticou.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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