Segue até este domingo (13/10), no Espaço Multicultural Dona Mira, que fica na Comunidade Quilombola do Estivas, em Garanhuns (PE), a formação “Mulheres Quilombolas Rumo à COP-30”. O ciclo formativo é promovido pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC) e pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). A ação tem o intuito de fortalecer lideranças quilombolas de todo o Nordeste para ampliar o debate sobre mudanças climáticas, além de propor soluções visando a Conferência das Nações Unidas em 2025.
Em sua abertura, nessa sexta (11/10), o evento foi iniciado com o acolhimento e apresentação das mulheres participantes, que em seguida entoaram cânticos que representam o histórico de lutas das mulheres quilombolas. O tema “Política Climática Internacional e COP 30: caminhos para incidência efetiva” foi debatido em grupo, com a condução da advogada, pesquisadora, educadora popular e ativista pelos direitos humanos e socioambientais, Lídia Lins.
A partir de suas experiências no território do Ibura, em Recife, a facilitadora trouxe uma visão sobre o entendimento e articulação das mulheres no combate às injustiças climáticas, ao racismo ambiental e na luta pelos direitos humanos. “Discutir a política climática de maneira local ou internacional tem que passar por um lugar onde as pessoas que são diretamente atingidas pelos efeitos da crise possam discutir essa política, avaliar, propor e fiscalizar. Então uma formação como essa é importante, porque ela vai possibilitar que essas mulheres possam construir instrumentos para fazer uma incidência efetiva e qualificada nestes espaços”, aponta Lídia.
Neste sábado (12/10), durante o segundo dia de formação, a agenda discutiu “Soluções para a crise climática baseadas no capital: como reconhecer ameaças e oportunidades”, com a mediação da Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Julia Stefany. A aula passou por pontos como o mercado de carbono e negociações que envolvem diversos atores a nível nacional e internacional. “Trazer essa pauta tão complexa em um ambiente como um quilombo, em que pessoas são diretamente impactadas é muito importante. Eu trouxe aqui qual o propósito daquelas pessoas que estão lá em cima e o que elas querem com as comunidades, e da mesma forma elas vão estar em um ambiente internacional no próximo ano levando o seu propósito”, completa Julia.
A liderança da Comunidade Quilombola Campo Grande, do município de Santa Terezinha (BA), Janaína Neri, falou sobre a experiência e importância do encontro. “É muito importante estar aqui em Pernambuco, neste momento de discussão climática. Nós enquanto comunidades tradicionais já sentimos essas mudanças e transformações no clima no nosso dia a dia. As regiões rurais e urbanas sentem de maneira diferente. A questão da falta d’água, por exemplo, a gente sente diferente do que a cidade; a construção de cisternas depende de uma política pública. A gente precisa realmente se capacitar, e se fortalecer enquanto coletivo, sempre focando na instrução nessas formações”, completou.
O ciclo formativo continua amanhã, com o último tema que será abordado: “Programa de Proteção para Defensores de Direitos Humanos e Acordo de Escazú: Proteção para as defensoras da terra e território”. Todos os temas foram definidos em conjunto com as lideranças quilombolas. Em até um mês após o ciclo formativo as participantes deverão apresentar um plano de ação em incidência política baseado nos tópicos abordados durante os encontros.
“A gente escolheu Garanhuns por causa da estrutura que o quilombo oferece e também por causa das parcerias que temos aqui. Temos a parceria com a CONAQ, que é essa organização nacional que reúne diversos quilombos pelo Brasil e aqui em Garanhuns temos algumas dessas entidades filiadas. E essa formação é algo que vamos fazer por todo o país, nas cinco regiões, começando aqui pelo Nordeste. Temos cada vez mais o clima sendo pautado e a gente sabe da importância de as discussões chegarem na política climática internacional, para que elas possam se interiorizar e se localizar nos territórios. Então a nossa meta é instrumentar as participantes com esse conhecimento e partir disso, fazer com que elas possam reivindicar seus direitos também nessa plataforma internacional, falando de racismo ambiental, das vivências delas enquanto mulheres de povos tradicionais e levando as suas demandas”, finaliza Anne Heloíse, que atua como Coordenadora do eixo de Educação Climática do CBJC.