Por Escola Teia Multicultural
Tenho acompanhado todo o desenrolar, desde a construção da Base, e hoje se me perguntarem: com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o que você percebe que mudou nas escolas?
Sem dúvidas eu responderia: em primeiro lugar, o marketing.
Não faz sentido buscarmos um equilíbrio entre o vestibular e a vida, pois o vestibular está contido na vida. Como você pode buscar equilibrar o preparo para a vida, que nela tudo está contido, como o preparo para o vestibular?
Ainda trouxeram a analogia do motorista de aplicativo que precisa levar o passageiro para dois lugares (dois lugares?!), sendo um deles o vestibular e o outro a vida… sim, chega a ser cômico.
O que dá a entender é que até pouco tempo atrás a vida não importava, agora, com a BNCC, a vida precisa importar um pouquinho também.
E, de fato, é isso que acontece. Muitas escolas transformam toda a vida escolar, desde o primeiro ano do ensino fundamental, a vida de uma criança e um adolescente, em um sofrimento, uma tortura que dura anos, com a argumentação de que o estão preparando para o vestibular.
O mais engraçado disso é que mesmo com todo esse sofrimento a grande entrega final não pode ser garantida.
Primeiramente, é importante lembrar que hoje há uma ampla oferta de universidades privadas renomadas, das quais o exame de ingresso é menos conteudista e analisa mais a capacidade de redação e argumentação do candidato. Mas, para escrever uma boa redação, não dá para simplesmente decorar fórmulas e reproduzir parágrafos decorados. É necessário compreender o mundo e saber expressá-lo, analisar criticamente, enfim, é preciso estar conectado com a vida.
Em segundo lugar, temos ainda as universidades públicas, que sim, são difíceis de ingressar, mas sabemos que a grande maioria dos alunos que entram em universidades públicas ou realizaram cursinho, algumas vezes por anos, dedicaram muito do seu tempo pós horário e período escolar, ou são pessoas com maior facilidade no aspecto, principalmente, de fixação.
Porém, das muitas pessoas que passam pela vida escolar, poucas entram em universidades públicas, certo? Ao mesmo tempo que praticamente todas as escolas fazem de sua existência um grande preparatório pré vestibular… A conta não está fechando.
Por que na nossa escola, a Teia Multicultural, nós não massacramos nossos alunos com o grande mito da faculdade e mesmo assim muitos deles entram em universidades?
Porque a grande questão é que algumas escolas precisam, de alguma forma, controlar os alunos, e a única maneira que conhecem para fazer isso é a mesma que receberam: exercer o controle através do medo.
Há um tempo atrás sabemos que era algo comum um professor bater, castigar de diversas formas e até humilhar o estudante. Hoje em dia isso mudou (felizmente!). Não pega nada bem. Então é mais fácil deixar a criança com medo do vestibular, medo de decepcionar a família, medo de não ser alguém na vida. Fazer ela acreditar em tudo isso!
Mas com o surgimento da BNCC, a necessidade do desenvolvimento socioemocional, o que algumas escolas fazem? Em primeiro lugar, mudam seus discursos e, para validarem os discursos na hora de venderem matrículas, criaram umas pequenas ações, símbolos, para que representem o trabalho socioemocional.
Os estudantes passam o dia encarcerados em suas cadeiras, mas agora, uma ou duas vezes por semana aprendem algo de útil para um amplo aspecto da vida (rsrssr).
Obviamente isso é melhor do que era antes, mas ainda está muito longe de ser o ideal e muito distante de ser o que afirmam estar sendo feito por estas escolas.
Recebemos diariamente crianças e adolescentes extremamente machucados, sofridos, vindos de escolas “acolhedoras, sensíveis e democráticas”, que desenvolvem o protagonismo do aluno obrigando ele a decorar datas enquanto o mesmo tem ataques de ansiedade só de passar na porta da escola.
Enfim, estamos de olho! Desenvolver empatia não é ensinar o que é empatia, da mesma forma que ensinar para a vida não acontece no “momento de ensinar para a vida”, acontece durante a vida, tratando seres humanos como seres humanos e olhando para as crianças e adolescentes como eles são hoje, e não a partir do que projetamos ou desejamos que eles sejam no futuro.