O Enem e os “novos tempos”

Por Lidiana Galindo*

Dias de muita dedicação, esforço sobrehumano para ultrapassar metas, cumprir dados, correr em busca das atualizações que a sociedade nos apresenta em todos os segmentos. Essa é a rotina de milhares de estudantes na busca massacrante para desenvolver sua capacidade crítica e seu olhar clínico acerca dos acontecimentos dos “novos tempos”.

Diante de uma sociedade adoecida e polarizada entre imersão tecnológica e alto fervor político, nós professores temos uma árdua e, demasiadas vezes, incompreendida missão: conscientizar, incansavelmente, os alunos de que precisamos nos libertar das bolhas sociais que limitam nosso campo de visão e criam diversos pontos cegos em nossa maneira de pensar e agir.

Pensando através desse prisma, a preparação para o Enem, e demais vestibulares, torna-se uma maratona contra a zona de conforto e um convite ao fantástico mundo do conhecimento, que contempla todas as áreas da nossa esfera de convívio. Sendo assim, a espera pelo tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio acaba criando expectativas que, muitas vezes, são frustradas por não conseguirem (professores e alunos) adivinhar o assunto o qual será abordado. Por esse motivo, jamais devemos preparar os nossos discentes para algo específico mas, sim, instruí-los sobre a construção textual e seus processos de envolvimento técnico.

A despeito de esperarmos algo mais representativo ao campo da saúde ou tecnologia como abordagem principal do tema da redação, deparamo-nos com uma problemática também significativa: Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil.
Dissecando o tema proposto, a palavra destaque é INVISIBILIDADE. Como garantir não ser invisível na sociedade atual? Partindo do pressuposto da existência humana, a condição primordial é o direito ao acesso à documentação, o que torna o ser existente no meio social.

Deve-se considerar também o antagonismo implícito na palavra GARANTIA. Ter em mãos o registro civil, não garante a visibilidade, uma vez que vivemos todos numa sociedade majoritariamente seletiva e excludente. Temas como esse são trabalhados por nós de forma muito recorrente, quando falamos sobre o analfabetismo, a marginalização daqueles que sofrem os horrores da vida por não conseguirem, sequer, ser contemplados com um programa social que os tire da linha da miserabilidade. A indigência que tanto afeta muitos nesse Brasil afora, precisa ser encarada como um grande problema (mais um) a ser resolvido pelos órgãos competentes, pois essa desordem carrega consigo a culpa da inexistência de inúmeros brasileiros. A exemplo, temos as pessoas que não conseguiram ajuda financeira nesse período de pandemia, pois, sequer, existem civilmente.

É um compromisso dos poderes públicos para com a população em sua totalidade, que esse tema não seja uma chacota como o tema de 2019 (Democratização do acesso ao cinema no Brasil). No ato do registro de nascimento, o ser passa a ter um nome e, acima de tudo, uma importância extrema para o meio no qual vive (seja nas áreas urbanas, indígenas, quilombolas e demais) e contribui ativamente, passando assim a ter direitos básicos e essenciais como saúde e educação. Faz-se mister, então, a relevância desse tema como essencial à vida, pois é através do ato documental que as pessoas passam a SER humanos em meio a uma sociedade massacrante e voraz.

*Lidiana Galindo é professora da área de Linguagens e atuante no Colégio Exato Prime

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