Com o Dia das Mães chegando, sempre tem o outro lado que envolve esta data comemorativa, com o luto e a saudade dos filhos que já não tem mais suas mães. Do ponto de vista teórico e técnico, o assunto da parentalidade exige uma contextualização e definição antes de adentrar esse campo. Para falar sobre a perda de uma mãe, precisamos compreender que “mãe” é uma palavra que se constrói não como um adjetivo pessoal, mas como inscrição e nomeação diante de uma relação, como esclarece a professora do curso de psicologia do UniFavip, Deysiane Macêdo.
“A existência de uma mãe pressupõe um outro, um filho que, reciprocamente, a adote neste lugar. Sim, adoção é um fenômeno essencial na parentalidade, independentemente de haver laço consanguíneo ou não. É necessário que a mãe adote o filho como depósito de seu amor e prontidão, e que o filho a adote como colo e sustentação. Então aqui falamos da maternidade de forma abrangente, compreendendo “mãe” como figura de acolhimento e ponto de formação, sem obrigação biológica ou de gênero. Como popularmente se diz, a mãe a qual nos referimos é “a que cria”, explica a docente, que complementa.
“E o que é essa criação? Para a psicanálise, seria justamente esse colo. Um seio, no sentido metafórico, que nutre o sujeito, seja no cuidado de suas necessidades básicas, seja nutrindo-o de amor. Ser mãe envolve uma modelação, uma sustentação e uma apresentação dos objetos que formam esse mundo. A maternidade se bem exercida, promoverá um sujeito autônomo, independente e capaz de desejar por si só”, explana.
Mas além das funções básicas da maternidade na infância, há também uma extensão dessa relação até a fase adulta dos sujeitos. Essa mãe deixa de ser uma necessidade natural de sobrevivência, mas segue na construção de uma relação de confiança, presença e, porque não dizer, de amizade. Onde, mesmo havendo independência do sujeito, essa mãe ainda é referência de segurança e ponto de fortalecimento nos momentos mais emblemáticos da vida.
“Para falar sobre a morte de uma mãe, vale primeiro se questionar sobre o tipo de morte referido. Essa perda é uma morte física e concreta? Ou trata-se de uma morte simbólica, de uma rejeição ou abandono? São inúmeras possibilidades. Também devemos compreender em que momento do desenvolvimento essa perda ocorreu. É possível que este luto se elabore por vias naturais, mas também encontramos muitos casos, nos quais se faz necessário um acompanhamento profissional, como a psicoterapia. Há também a importância do apoio das redes relacionais, ou seja, da família, amigos e trabalho”, finaliza Macêdo.