Por DANIEL FINIZOLA
Basta sair num sábado qualquer, à noite, passar por lá e ver que ela é merecida, apesar de irônica. A galera se espalha pelo meio da rua – que agora tem olhar panóptico – para registrar comportamentos e transgressões alheias.
Já presenciou grandes shows, amores roubados, perdidos, encontrados, poesias inflamadas, beijos que vão muito além das convenções culturais aceitas pela maioria da sociedade. É o lugar que desperta a inspiração dos noctívagos, artistas, boêmios, que, para enfrentar a opressão do dia, preferem purificar a alma com a noite e intoxicar o corpo com alguma dose.
O pioneiro é um senhor distinto, elegante, bem apreciado, sempre alegre e sorridente. No bar, sua mesa está sempre rodeada de grandes amigos que profetizam histórias regadas a aromas etílicos. Alguém pode até dizer que esse cidadão é um empresário do entretenimento, já que detém a propriedade da casa mais alegre e criativa da cidade, mas discordo. Para mim, Chico Oliveira é um mecenas às avessas, um agitador cultural. Ele e outros atores transformam a rua Silvino Macedo no maior polo cultural da cidade.
O poder dessa transformação foi tão grande que involuntariamente os frequentadores rebatizaram a rua. Hoje, o imaginário coletivo caruaruense conhece a Silvino Macedo como Rua da Má Fama. Apesar do nome, a grande maioria dos artistas que frequentam a rua produzem a arte que leva a boa fama artística de Caruaru mundo afora.
Além da pioneira Mercearia Ponta de Rua, bares como Circo 93, Bar da Ritinha e boates convivem com restaurantes “classe A”, como o Horácio’s Bistrô. A Má Fama tem de tudo! Ambulante com churrasquinho de gato, banda de rock agitando a noite, banda de pífano botando o povo para dançar, classe média comendo em restaurante caro, roda de poesia, voz e violão de todas as cores, credos e ritmos.
Essa rua deveria ser exemplo de tolerância, cosmopolitismo, convivência e respeito mútuo. Pena que nem sempre isso acontece. Recentemente alguns episódios violentos marcaram o lugar, afugentando muitos que eram frequentadores assíduo. Infelizmente, quando o poder público aparece por lá, o ar repressor prevalece frente às possibilidades de diálogo que poderiam organizar aquilo que já faz parte da cultura caruaruense.
A Má Fama merecia iluminação e decoração especial, uma grande atividade mensal com cinema, música, teatro, dança. O asfalto poderia receber o colorido de uma matinê dominical, cheia de crianças e oficinas recreativas. Os gestores culturais precisam entender que muitas vezes é mais fácil estimular a cultura de um lugar do que criar novos espaços que acabam não atendendo às demandas culturais da cidade.
Deixo uma sugestão para os estudantes de comunicação social. Um trabalho de conclusão de curso sobre a Má Fama seria emblemático. Quem sabe um documentário que mostre a trajetória da rua e a origem desse nome! Alguém aí sabe?
Até semana que vem.
@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br
Daniel,
eu não sei um documentário especifico, mas esse texto me lembrou muito sobre esse vídeo que foi gravado pela TV PE em 2011, sobre o “Poetas de Quinta”.
No vídeo, tem o depoimento de várias pessoas, inclusive do próprio Chico Oliveira. Muito bom tb.
https://www.youtube.com/watch?v=iz7TbY4IzjI
Lindo texto que sintetiza bem toda poesia tatuada nesse espaço tão plural. Quanto ao nome de “Má Fama” quem batizou foi o diretor, ator, figurinista, cantor, bailarino, maquiador, coreógrafo, cenógrafo e boêmio: Gabriel Sá.
Também, me lembrou esse outro vídeo, que fala sobre a “Cena Alternativa” da cidade de Caruaru, onde [não pderia deixar de faltar] tem um relato sobre a Rua da Má Fama, e mais uma vez, um depoimento de Chico Oliveira.
Essa parte da Rua da Má Fama, está entre 4:48 e 7:32
https://www.youtube.com/watch?v=1p_hBIp6Wrk
De onde veio o nome da “Má Fama”? Deve ter sido algum malfazejo, que passou por lá vindo da CDR, chei dos goró e dos achébabá.
Esse lugar marcou bastante minha vida, em especial a Mercearia Ponta de Rua. Em uma noite que tinha tudo para ser apenas mais uma, conheci a mulher mais interessante do mundo. Estamos juntos desde a noite do sábado 19-09-09 e casaremos neste ano!
O texto por si só soa poético, parabéns pela sensilbilidade, Daniel!
Vamos torcer e trabalhar para que Caruaru tenha esse espaço de forma revitalizada, como entendi nas entrelinhas, democrática e de forma que possa ser um programa cultural para toda família!
Abraços!!
A rua da Má Fama já exala poesia, cultura e encontro de bons amigos ladeados pela figura emblemática e carinhosa de Chico Oliveira.e Indo a Caruaru não deixo de visita-lo e e dar:- lhe um abraço carinhoso. Bjos da Nena
Daniel, parabéns pelo fiel retrato deste recanto encantado de CCaruaru.
A rua da Má Fama já exala poesia, cultura e encontro de bons amigos ladeados pela figura emblemática e carinhosa de Chico Oliveira. Indo a Caruaru não deixo de visita-lo e e dar- lhe um abraço carinhoso. Bjos da Nena