OPINIÃO: A política e a cibercultura

Por DANIEL FINIZOLA

Ao analisar os movimentos que vêm acontecendo no Brasil e no mundo, percebemos que há uma crise de paradigma quanto ao sistema de representatividade política. Cada vez mais, se questiona a função e ação dos políticos e seus partidos. A eleição para o Parlamento Europeu amargou altos índices de abstenção: mais um exemplo de que a crise de representação política não é algo exclusivo do Brasil. O mesmo aconteceu recentemente com as eleições na Colômbia, onde o índice de abstenção chegou a 59,98%, segundo o site América Econômica.

Aos poucos, o mundo percebeu que os espaços virtuais como Facebook e Twitter podem incitar, de forma positiva, o debate político. Afinal de contas, no mundo virtual, ultrapassamos as barreiras da sociedade de massa, visto que existe a interação, certo? Mas me parece que as redes sociais não conseguiram quebrar o predomínio da informação sobre a comunicação.

Em tempos de eleição, Copa e crise de representatividade política, o mundo virtual virou um espaço onde se replica de tudo. Problema é replicar sem checar a informação e a quem servem determinadas bandeiras na internet. Hoje, o que temos no mundo virtual é um ciclo vicioso, onde os indivíduos procuram seus pares para inflar suas crenças com debates pobres e pouco fundamentados. Esse é o homem-massa da cibercultura, que este ano poderá ser responsável pelo debate eleitoral mais vazio da história das eleições no país.

É nesse contexto que uma página merece destaque na internet. Segue uma linha cômica, mas não dispensa uma panfletagem apócrifa e publicações mentirosas. Com cerca de 3,5 milhões de seguidores e alcançando 27 milhões de usuários no Facebook, a TV Revolta tem preferência política e ideológica clara, mas adora posar de “apolítica”. O responsável por esse fenômeno da rede é um radialista, João Victor Almeida Lins, de 32 anos. Mas aí eu pergunto: ser cidadão e fazer oposição ao governo significa compartilhar frases mentirosas? Não seria melhor pensar e debater um projeto de sociedade e país? Ou será que essas frases mentirosas produzidas pela TV Revolta fazem parte do projeto de governo da oposição? São essas as frases que representam os revoltados com a política?

Uma das postagens mais curtidas da TV Revolta atribuída a Oscar Niemeyer dizia: “Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá foi como criar um lindo vaso de flores pra vocês usarem como pinico”. Mas onde está registrada essa declaração do arquiteto? Pior é que essa postagem obteve 22.318 compartilhamentos. Protestar contra a situação política do país significa reproduzir frases de impacto mentirosas?

Somos um país com 105 milhões de brasileiros com acesso à internet, mecanismo fantástico que pode ser utilizado para fortalecer valores democráticos e republicanos como controle social e transparência. Fenômenos da cibercultura, como a TV Revolta, nos leva a um niilismo político irresponsável que não contribui para fortalecer valores democráticos. Importante: a liberdade de expressão, tão aclamada pela democracia, exige responsabilidade.

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *