OPINIÃO: Adeus, minha companheira

Por MENELAU JÚNIOR

Esta semana, perdi uma fiel companheira. Nós nos conhecemos em janeiro de 2007 e mantivemos, durante 7 anos e 4 meses, uma relação familiar. Mais que uma grande amiga, Gisele era uma filha.

Não foi fácil aceitar sua partida precoce. Por mais que eu soubesse que uma hora isso iria acontecer, nunca estive preparado para ficar sem ela. Não a vi nascer, porque quando nos conhecemos ela já era criança, mas a vi morrer, dando os últimos suspiros enquanto o médico tentava reanimá-la.

Nos últimos dias de sua vida, Gisele se queixava de dores. Tinha dificuldades para se levantar. E, depois, parecia que nem mais reconhecia a mim. Olhava para o nada, andava em círculos. Quando me fitava, seus olhos cabisbaixos pareciam me dizer que eu me preparasse para a ida sem volta que ela estava prestes a fazer.

Durante o tempo em que estivemos juntos, Gisele foi uma companheira fiel. Meiga, carinhosa, brincalhona. Gostava de ganhar brinquedos, odiava que lhe dissessem “tchau!”. Gisele não entendia a palavra “adeus”, mas sabia que o “tchau” era algo ruim.

Gisele, entretanto, arrumou um jeito só dela para me dar adeus. Na segunda-feira, quando acordei e me despedi dela porque iria trabalhar, ela ficou na sala de visitas, lugar em que nunca ficava. Rezei para as horas passarem logo e eu revê-la na hora do almoço. No fim da tarde, ela iria ao médico pela quinta vez em vinte dias. Mas Gisele não suportou.

Quando cheguei, ela estava na cozinha, como sempre ficava na hora do almoço. Ao me ver, foi até o quintal. Ajoelhei-me, abracei-a e lhe disse olhando nos olhos cabisbaixos: “Papai te ama!”. Ela me olhou pela última vez. Teve uma convulsão e perdeu os sentidos.

Socorrida, ainda foi levada à clínica, onde resistiu até as 17h40 min.

Chovia. Fiz questão de ficar ao lado dela para poder dizer: “Vai, meu amor, não quero que você sofra mais”.

Ela foi embora em silêncio. Eu fiquei com uma dor que insiste em não passar.

Gisele nasceu em 25 de dezembro de 2006. Tornei-me seu pai em 25 de janeiro de 2007. Gisele foi minha cadelinha da raça labrador desde o primeiro mês de vida. Gisele sempre será um grande amor. Ainda mais agora, que passei a odiar a palavra “tchau”…

Até a próxima semana.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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