OPINIÃO: O eterno espírito jovem do grunge

Por DANIEL FINIZOLA

Quando pequeno, já gostava de música e arte de modo geral. Lá por volta dos 17 anos, eu era um adolescente calado, às vezes problemático, mas sempre observador. Tinha como trilha sonora as músicas de Zé Ramalho. Até que um dia veio o convite de um colega para assistir ao ensaio de uma banda. Lá eu conheci o vocalista, nos tornamos grandes amigos e, aos poucos, ele foi me apresentando músicas e bandas que já eram sucesso nos headfones dos adolescentes no mundo todo há muito tempo, mas não fazia parte do meu universo musical.

Entre essas bandas havia um grupo de Seattle (EUA) que era barulhenta e tinha lançado seu primeiro trabalho em 1989, intitulado “Bleach”, por uma gravadora independente. Ora, eu era um menino de nove anos que morava no interior de Pernambuco e não fazia a mínima ideia que esse grupo existia. Naquela época, não tinha internet e o acesso à informação era bem mais complicado que hoje. Dependíamos de colegas que nos apresentassem novos sons. O bom é que sempre havia amigos com grana pra comprar discos e dispostos a ampliar o leque de pessoas que pudessem curtir aqueles sons que estouravam fora do país.

Em 1991, Nirvana lança “Nevermind”. Agora, com uma grande gravadora e com novos integrantes, o trio composto por Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl estourou nas paradas de sucesso de todo os EUA. A música “Smells Like Teen Spirit” passou a ser símbolo de toda uma geração, que todo dia via o clipe da música na MTV. Os estadunidenses e o mundo passaram a ver e sentir a força do grunge, com seu jeito despojado, negando toda e qualquer teatralidade dos movimentos musicais anteriores. As letras cheias de angústia e sarcasmo marcaram bandas como Alice in Chains, Pearl Jam, Mudhoney, Stone Temple Pilots, Soundgarden e tantas outras.

Recordo-me que a primeira vez que vi um vídeo do Nirvana, me impressionou a “viceralidade” das notas e do comportamento dos caras no palco. Os berros de Kurt Cobain, as batidas agressivas de Grohl e o baixo marcante de Novaselic deram uma particularidade ao som do Nirvana que rompia com uma estética musical que já estava estagnada há anos. Pena que Cobain tinha dificuldades em lidar com suas crises pessoais e com o sucesso. Seguindo a maldição dos 27 anos – que levou figuras como Jimmy Hendrix e Jim Morisson –, há 20 anos o líder do Nirvana foi encontrado morto em sua casa,  no dia 4 de abril de 1994, na cidade de Seattle, depois de uma overdose de heroína.

Pois bem, alguns anos após a morte de Cobain, tive contato com toda a discografia do Nirvana graças a amigos como Emeton Kroll, Victor Hugo e Arimateia. Com esses caras, montei uma banda que inicialmente se notabilizou por fazer covers do trio de Seattle. Não faltavam no repertório músicas com “Rape Me”, “Love Buzz”, “Territorial Pissings”, “Aneurysm”, entre outras.

Não há dúvida que Cobain e sua turma foram revolucionários da música. O poder midiático estadunidense transformou essa revolução em um fenômeno mundial, que rendeu fortunas para as gravadoras e um legado que ainda vive com um espírito jovem.

Até semana que vem!

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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