Por DANIEL FINIZOLA
Semana passada, um fato chamou atenção dos que curtem as manifestações culturais no Estado. De repente, uma rural velha, usada como palco e equipamento cultural, às margens do Capibaribe, no Recife, virou notícia em vários lugares desse imenso universo virtual. Alegação: a velha rural que serve de cenário e mote para o programa “Som na Rural” estava em cima da calçada da deserta rua da Aurora, descumprindo o que está posto no Código de Trânsito. Os guardas mandaram uma multa e acabaram com a festa.
Bem, em primeiro lugar, aquela velha rural Willys é muito mais que um simples carro. Ela é nada mais, nada menos que um dos maiores equipamentos culturais que Pernambuco tem hoje. É fruto da atitude e criatividade dos produtores Roger de Renor e Nilton Pereira, os quais levaram som e alegria para um lugar especial e lindo do Recife. Em segundo lugar, é preciso bom senso. Entendo que ninguém quis descumprir a lei, nem o direito de ir e vir dos transeuntes, nem mesmo o sossego de alguém, já que a tal rural está muito longe de ser um minitrio elétrico.
Parece-me que esse tipo de geopolítica urbana dos negócios do entretenimento sempre beneficiou os grupos e produtores que rezam na cartilha da indústria cultural, tipo aquelas festas com cordão de isolamento, onde alguns podem pagar pela fantasia e pela falsa sensação de segurança. Geralmente, a carestia se resolve com um crédito básico dissolvido em 12 prestações que transformam o espaço público em um espaço privado.
Na segunda-feira (10), foi realizada uma reunião entre os produtores do “Som na Rural” e os representantes da Prefeitura do Recife, tendo por objetivo resolver a questão. Também foram apontados problemas de ordem burocrática relacionados ao alvará de funcionamento como mais um dos motivos que provocou a suspensão do evento. Mas parece que tudo foi resolvido e próxima sexta-feira (14) o “Som na Rural” estará em plena atividade na rua da Aurora.
Já em Caruaru, não encontramos muitas propostas que aproveitem melhor nossos equipamentos culturais para comunicar, produzir e expandir nossa produção artística. Aos poucos, vêm sendo articuladas entre poder público e sociedade civil ações de construção de políticas culturais que tornem vivas e dinâmicas as manifestações e expressões da cidade. Esperamos que isso cresça, solidificando uma cultura de colaboração e participação na elaboração de ações culturais.
O “Som na Rural” é um bom exemplo de intervenção que estimula e mostra a veia criativa da cidade.
E que tal o “Som na Rural” em Caruaru?
@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br
Parabéns pelo artigo!
Claro que seria muito massa, Daniel!
Na era Orkut, criei um “grupo”, para solicitar o Som na Rural não só aqui, mas no estado como um todo, até houve no Marco Zero de Caruaru, com Herbert Lucena, Azulão e Walmir Silva. Mas ainda vejo uma barreira entre capital e interior, impedindo uma intergração maior em nosso estado. Vamos torcer que o programa se estenda a todo estado!!