Por MENELAU JÚNIOR
Semana passada, um gesto do jogador do Barcelona Daniel Alves chamou a atenção do mundo inteiro. Quando ia cobrar um escanteio, o brasileiro foi alvo de uma banana jogada por um torcedor. Associar morenos e negros a macacos é um xingamento em várias partes do mundo. Daniel, ironicamente, pegou a banana, descascou-a e a pôs inteirinha na boca. Em seguida, cobrou o escanteio e o jogo seguiu. Na internet, Neymar tirou uma foto ao lado do filho segurando uma banana e escreveu a hashtag #somostodosmacacos. Pronto: o slogan correu o mundo. O que pouca gente sabia é que o slogan fora criado anos antes por uma agência de publicidade.
É óbvio que a atitude de Daniel Alves ajudou a trazer à tona a sempre atual discussão sobre racismo e preconceito. É também óbvio que a turma do oba-oba – incluindo anônimos e muitos, muitos artistas – aderiu à “campanha”. Não aderi porque não sou macaco, embora creia que todos sejamos uma evolução deles. Questiono o sentido literal da expressão “somos todos macacos”. Ela, ao mesmo tempo em que dá a entender que os seres humanos são iguais, reforça a ideia de que negros são macacos. Ou seja, pode até haver uma boa intenção na mensagem, mas ela não deixa de reforçar preconceitos históricos.
Na internet, cada um escreve o que quer e posta o que quer. Uma amiga postou em seu perfil numa rede social: “Homem é homem, macaco é macaco, e racismo é crime”. Foi a frase mais inteligente que li sobre o assunto. Outro amigo aproveitou a deixa para fazer uma crítica ao sistema de cotas: “Se somos todos macacos, para que o sistema de cotas?”, questionou. Mas a maioria repetiu, como papagaio, o slogan “Somos todos macacos”.
Particularmente, não creio que o Brasil seja um país racista como governantes populistas tentam nos fazer crer. Preconceito há contra gordos, contra gays, contra loiras e contra negros. O problema por aqui é muito mais social que étnico. Por aqui, as pessoas sofrem preconceito porque “têm jeito de pobre”, porque “se vestem como pobres” ou porque são pobres. E aí não adianta ter olhos verdes e cabelos loiros. O nosso preconceito é contra a pobreza. Querer dividir o Brasil em pretos e brancos é só mais um recurso vergonhoso de quem abusa da inocência e da ignorância alheia.
Para terminar, macacos estão entre os animais mais inteligentes da natureza. Mais de 99% do nosso DNA é igual ao deles. As diferenças biológicas, portanto, são mínimas. Mas o suficiente para que macacos não se matem por causa de times de futebol, não sejam hipócritas em seus discursos, não matem seu semelhante por nada. Honestamente, os macacos não merecem a comparação com os seres humanos.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br