Por MENELAU JÚNIOR
Certamente você já ouviu falar em gerundismo. Foi o nome dado por professores e jornalistas ao hábito de usar – desnecessariamente – o gerúndio.
Para os esquecidos, vamos esclarecer: gerúndio é a forma verbal terminada em “-ndo”. Costuma ser empregada para indicar uma ação em curso ou uma ação que ocorre concomitantemente a outra. Vamos aos exemplos.
“Carlos está consertando a torneira”. Nesse caso, a forma “está consertando” indica que a ação está em curso, ocorre no momento em que se fala.
“Ela chegou à sala chorando”. Note que, nesse caso, o ato de chegar à sala ocorre ao mesmo tempo em que alguém chora. São, pois, ações concomitantes.
Até aí, tudo bem, e o gerúndio é a forma adequada. Mas os operadores de telemarketing inventaram expressões como “Eu vou estar transferindo a ligação” e “Nós vamos estar enviando o produto hoje”. Ora, quanto tempo se gasta para transferir uma ligação? A ação é rápida, por isso rejeita ao gerúndio. O mesmo ocorre com “Vamos estar enviando”. Ora, a gente envia algo e pronto!
Muito diferente é para quem espera. Você já deve ter tentado falar com uma operadora de telefonia. O tempo passa e nada. A atendente eletrônica bem que poderia dizer “O senhor vai estar fazendo papel de idiota durante algum tempo”, mas não diz. Nesse caso, o gerúndio estaria correto: a ação de fato ocorre durante um tempo.
Por isso, nada de classificar como “gerundismo” qualquer frase que apresente a estrutura “vai + estar + gerúndio”. Se a ação expressa pelo verbo é durativa, não há problema. Posso dizer que, durante a semana, “vou estar descansando no litoral”. Posso dizer que “vou estar escrevendo um novo livro” ou que “à noite vou estar corrigindo redações”.
Portanto, quando vemos plaquinhas em lojas e bancos com o aviso “Sorria! Você está sendo filmado”, a forma “está sendo” está correta, pois a ação é ininterrupta, dura. Nesses casos, o gerúndio é mais que indicado.
Antes de terminar, deixo aqui um abraço ao leitor Edgard Leitão, que me deu esta semana a alegria de receber uma carta – sim, uma carta! Nesses tempos de e-mails e conversas virtuais, a carta sempre nos enche de alegria.
Até a próxima semana.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todos os sábados. E-mail: menelaujr@uol.com.br