Por MENELAU JÚNIOR
Veja essa manchete do Jornal do Commercio: “Faltam estrutura e médicos no Cisam”. A frase merece uma análise mais cuidadosa no que se refere à concordância verbal.
No padrão formal da linguagem, o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito. Entretanto, quando o aparece antes do sujeito, é relativamente comum que não ocorra a concordância, principalmente na fala. Por isso, ouvimos por aí frases como “Falta cinco minutos para começar o jogo” (deveria ser “faltam”), “Cabe cinco pessoas no carro” (deveria ser “cabem”) e “Morreu três pessoas no acidente” (deveria ser “morreram”).
Entretanto, quando o sujeito é composto (tem dois ou mais núcleos) e o verbo o antecede, há duas concordâncias possíveis: o plural, levando em consideração os dois núcleos, ou com o elemento mais próximo.
No caso do título sob análise, temos um sujeito composto: “estrutura e médicos”. O verbo está anteposto: “Faltam”. E agora? Bem, o Jornal do Commercio acerta quando emprega o plural, fazendo o verbo concordar com “estrutura e médicos” – aliás, essa é a concordância mais adequada, uma vez que leva em consideração todos os elementos que compõem o sujeito. Entretanto, a forma “Falta estrutura e médicos no Cisam” (com verbo no singular) também estaria correta, mas aí o verbo estaria concordando apenas com o núcleo mais próximo, que é “estrutura”.
Marisa Monte, em sua canção “Gentileza”, nos dá um exemplo dessa concordância com o elemento mais próximo: “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza/ Só FICOU no muro TRISTEZA e tinta fresca”, canta a bela. Nesse caso, a forma “ficou” tem como sujeito “tristeza e tinta fresca”, mas se optou pelo singular fazendo-se a concordância apenas com “tristeza”.
Portanto, não se esqueça: nos casos em que o sujeito é composto e o verbo o antecede, você escolhe a concordância: no plural ou com o núcleo mais próximo.
Até a próxima semana.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br