Ortinho lança ‘Nas Esquinas do Coração’

Artista caruaruense viveu seu auge no movimento mangue beat. Radicado em São Paulo, é referência na MPB

Wagner Gil

Nas Esquinas do Coração é o primeiro álbum de Ortinho, em nove anos de reclusão em estúdios. O trabalho anterior foi ‘Herói Trancado’, em 2010. O hiato não se deve a um vazio criativo, mas de uma época em que ele queria fazer mudanças em sua vida. O novo disco conta com participações de Otto (vocal), Junio Barreto (vocal), Pupillo (bateria), Guilherme Kastrup (bateria), Toca Ogan (percussão), Thiago Duar (baixo e cavaquinho) e Marcelo Monteiro (sax, tenor e flauta), bem como Jorge du Peixe, que toca órgão e teclados em algumas faixas.

‘Astronauta’, a primeira faixa, foi escrita por Ortinho e define o som que Jorge du Peixe trouxe ao álbum. Ortinho é um músico de rock, mas suas raízes estão na tradição dos contadores de histórias da literatura oral nordestina, de emboladores, repentistas e cordel.

O cantor descreve a música como “um samba hidropônico, tem uma raiz, mas uma raiz que flutua”. E ‘Na Fé’, cantado com Otto, tem uma forte vibração de Nação Zumbi, o que não surpreende, com Pupillo na bateria e Toca Ogan na percussão.

O álbum, de 25 minutos, não tem espaço para monotonia. Termina com um dos seus melhores momentos, ‘Com Uma Dor’, canção de Ortinho, Jorge du Peixe e Arnaldo Antunes, cantada por Ortinho e Junio Barreto.

O ARTISTA

Ortinho é considerado um dos principais compositores da sua geração. Em 1994, tornou-se vocalista da banda de rock Querosene Jacaré, que lançou o disco que se tornaria uma referência do rock de Pernambuco.

Em entrevista exclusiva ao VANGUARDA, ele falou um pouco das dificuldades que enfrentou, principalmente no início da carreira. “Foi difícil pra caramba. Passei por muitas coisas no início com o Querosene Jacaré porque Recife, naquela época, era punk pra gente do Interior. Eles tinham muito preconceito, mas fiz muitos amigos e fui indo vencendo cada etapa. A minha parceria com Chico Science abriu as portas para o caminho que vinha pela frente. Também fiz parcerias com Lula Cortes e Lula Queiroga, dois gênios da música pernambucana”, disse.

O caruaruense começou a escrever com Chico Science, Lula Cortes, Lula Queiroga, Junio Barreto, entre outros, que também lhe inspiravam. Em 2002, lançou seu primeiro álbum solo, ‘Ilha do Destino’, trabalho que teve as participações de Arnaldo Antunes, Chico César e Zeca Baleiro, entre outros. Segundo o crítico Tárik de Souza, o disco foi um dos melhores do ano.

Seu segundo álbum, ‘Somos’ (2006), o viu sendo descrito pelo jornalista Pedro Alexandre Sanches como “o Glauber Rocha da música brasileira”. Quatro anos depois, ‘Herói Trancado’, foi lançado com convidados como Arnaldo Antunes, Dengue e Jorge Du Peixe, Mombojó, Edgard Scandura e o jovem pianista Victor Araújo.

Suas músicas foram gravadas por artistas como Arnaldo Antunes, Marcelo Jeneci e Maria Bethânia. “Eu tive o prazer de fazer grandes parcerias com eles até hoje, inclusive Maria Bethania regravou ‘A Casa é Sua’, um grande sucesso dessas parcerias”, relembrou.

O artista falou ainda da necessidade de ‘voltar a beber na fonte’. “Quero muito voltar a fazer shows por Pernambuco, principalmente em Caruaru, para mostrar meu som, o que tenho de melhor para essa nova geração. Tem uma galera de músicos muito bons aí e o som desse pessoal talentoso tem ecoado aqui no Sudeste”, reconheceu.

Ele falou em reencontro e volta às raízes. “Andei muito distante do meu melhor. Agora quero mostrar que me encontrei e quero tentar recuperar minhas raízes. Inclusive já realizei um antigo sonho: terminei uma parceria com o mestre Azulão, uma música linda, ‘Aeromoça’. Já estou com novos projetos, inclusive já iniciando depois do Carnaval as gravações de um disco em homenagem a Paulo Diniz, outro agrestino maravilhoso”, finalizou.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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