Por DANIEL FINIZOLA
A arquitetura tem a capacidade de transformar paisagens, disseminar a cultura dos sólidos, imprimindo no concreto versos e histórias. Foi assim que os egípcios despertaram a curiosidade de todo o mundo em torno de suas pirâmides, que gregos e romanos deixaram sua marca nas colunas que sustentam e narram a constituição do mundo ocidental. A poesia da arquitetura leva diariamente centenas de pessoas à casa Batlló em Barcelona para contemplar a genialidade de Gaudí. O mesmo ocorre em Brasília, com seus traços arquitetônicos que parecem flutuar, é mais que patrimônio, é poesia no concreto justificando os diversos formatos que a poesia pode ter.
Além dos livros, o concreto, o ferro, o cimento e as formas falam muito sobre um povo. É partindo dessa perspectiva que venho expressar minha preocupação quanto à história arquitetônica da nossa cidade, que hoje resume-se a alguns poucos prédios preservados. Grandes construções, como a Catedral de Nossa Senhora das Dores, vieram abaixo em nome de uma onda modernista pouco fundamentada, resultando em uma nova construção que não consegue se destacar dentro do contexto em que está inserida. E a coisa vai ficando pior!
O crescimento econômico e a especulação imobiliária que atingiram Caruaru nos últimos anos estão modificando radicalmente a paisagem da cidade. É cada vez mais difícil mirar o horizonte sem uma parede de concreto à sua frente. Para aqueles que estão em seus apartamentos, dependendo do andar que habitam, o horizonte torna-se cada vez menos linear e cada vez mais quadrado. Aos poucos, o azul do céu vai ficando raro no horizonte e para vê-lo é preciso erguer cada vez mais a cabeça.
Não quero dizer que sou contra o desenvolvimento urbano, mas, qual o modelo que estamos adotando e quais as consequências e comportamentos culturais que serão fruto desse padrão? Isso precisa ser estudado urgentemente em nossa cidade. Há um filme argentino, chamado “Medianeras”, que expressa bem quais os efeitos provocados por esses modelos de cidade que Caruaru e tantas outras seguem. Vale a pena conferir!
A história arquitetônica de uma cidade é escrita e reescrita todos os dias a cada prédio erguido ou preservado. É preciso instituir uma política de tombamento dos prédios históricos existentes em nossa cidade e produzir para as gerações futuras novas expressões, espaços de convivência e linhas que possam marcar de forma singular as nossas edificações. Cabe aos gestores públicos e às novas gerações de arquitetos ir além das formas tradicionais de vidro e concreto, inovar, de preferência com sustentabilidade e muita criatividade. Inspirem-se!
@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br.