Pequenas empresas descobrem na sustentabilidade uma nova fonte de lucro

A sigla ESG – do inglês Environmental, Social andCorporate Governance, traduzida para o português como Ambiental, Social e Governança Corporativa – não é mais exclusividade das grandes corporações. Micro e pequenas empresas brasileiras estão descobrindo que adotar essas diretrizes não apenas fortalece sua imagem no mercado, mas também gera resultados financeiros concretos e abre portas para novos investimentos.

O conceito, nascido em 2004 por intermédio de um relatório da Organização das Nações Unidas intitulado “Ganha quem se importa”, estabeleceu três pilares fundamentais que orientam as práticas empresariais responsáveis. O “E” representa o compromisso ambiental, o “S” engloba as responsabilidades sociais, e o “G” refere-se à governança corporativa ética e transparente. Já demonstrava o potencial lucrativo para negócios que incluíssem esses valores em sua cultura organizacional. Passados vinte anos, essa previsão se consolidou: dados recentes indicam que 99% dos investidores brasileiros consideram práticas ESG como critério decisivo na hora de aportar recursos.

A transformação acontece porque o consumidor mudou. Pesquisas revelam que 60% dos brasileiros estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. Essa mudança de comportamento reflete uma nova consciência social que valoriza empresas alinhadas com causas ambientais e sociais. Para os empreendedores, representa uma oportunidade de diferenciação competitiva significativa.

O pilar ambiental (Environmental) do ESG abrange desde ações simples, como programas de coleta seletiva e gestão adequada de resíduos, até investimentos em eficiência energética e fontes de energia limpa. Uma padaria pode implementar a separação do lixo reciclável, enquanto uma loja de roupas pode priorizar fornecedores locais, reduzindo a pegada de carbono do transporte. Essas práticas, além de preservarem o meio ambiente, frequentemente resultam em economia de custos operacionais.

Na dimensão social (Social), as empresas descobrem que investir no bem-estar dos colaboradores e na comunidade local traz retornos tangíveis. Políticas de diversidade e inclusão, equiparação salarial entre gêneros e melhoria das condições de trabalho não apenas atraem e retêm talentos, mas também criam um ambiente mais produtivo e inovador. A escolha por fornecedores locais aquece a economia regional e fortalece a rede de parceiros comerciais.

O aspecto de governança corporativa (Governance) talvez seja o mais desafiador para pequenos negócios, mas também o mais transformador. Estabelecer regras claras de ética e conduta, implementar políticas contra discriminação e assédio, e garantir a proteção de dados dos clientes conforme a Lei Geral de Proteção de Dados não são apenas obrigações legais, mas diferenciais competitivos importantes.

A implementação dessas práticas não precisa acontecer de uma só vez. Especialistas recomendam começar com ações simples e mensuráveis. Uma estratégia eficaz é formar um conselho interno de ESG com representantes de diferentes setores da empresa, incluindo minorias, para garantir que todas as vozes sejam ouvidas no processo de transformação.

O engajamento dos colaboradores é fundamental para o sucesso das iniciativas. Não adianta a liderança adotar práticas sustentáveis se a equipe não compreende sua importância. Programas de conscientização e comunicação transparente sobre os objetivos e benefícios das mudanças são essenciais para criar uma cultura organizacional alinhada com os valores ESG.

Os resultados financeiros aparecem de diversas formas: redução de custos operacionais pelo meio do uso consciente de recursos, atração de novos clientes que valorizam práticas sustentáveis, maior facilidade para obter crédito bancário e acesso a investidores que priorizam negócios responsáveis. Além disso, empresas ESG enfrentam menos riscos jurídicos e regulatórios, evitando multas e processos que podem comprometer a saúde financeira do negócio.

Para pequenos empreendedores que ainda hesitam em dar esse passo, é importante entender que o ESG não é uma moda passageira, mas uma mudança estrutural no mercado. Empresas que não se adaptarem a essa nova realidade correm o risco de ficar para trás em um ambiente cada vez mais competitivo e consciente.

Marcelo Rodrigues, é advogado especialista em direito ambiental e urbanístico, consultor técnico em sustentabilidade da Prefeitura Municipal de Caruaru, ex-Secretário de Meio Ambiente do Recife.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.