Do Correio Braziliense
A educação apresentou índices positivos crescentes nos últimos anos, como no número de crianças e jovens matriculados, de alunos que concluíram o ensino fundamental e médio e ainda nos dados sobre desempenho escolar, enquanto a taxa de abandono caiu. Entretanto, muito ainda falta para que o país atinja patamares ideais de escolaridade: no segundo trimestre de 2015, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que 8,3% da população do Brasil com mais de 14 anos estudou menos de um ano; 30,3% possui ensino fundamental incompleto e 7,7% não terminou o ensino médio.
Na região Nordeste, a fatia sem instrução chega a 15,2%, frente a 4,8% no Sudeste. Há dez anos, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) visitou crianças do bairro Canaã, em Caruaru (PE), onde havia estado, semanas antes, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva, e encontrou uma situação crítica: crianças que não sabiam ler ou escrever e frequentavam a escola para receber a merenda. Voltou lá dez anos depois e, em entrevista ao Correio, Buarque atestou que pouco mudou na vida delas. Os agora adolescentes não concluíram o ensino fundamental, são analfabetos funcionais e seguem dependentes do Bolsa Família.
“Os indicadores educacionais têm melhorado, mas é importante apontar que isso tem acontecido com dificuldade. Quem está em patamares muito baixos, está em uma situação em que a educação pouco pode fazer sozinha”, explica Alejandra Meraz Velasco, coordenadora geral da organização Todos pela Educação.
Para ela, é necessária a integração com outras políticas públicas para que a educação tenha efeitos reais, em especial nos casos de pobreza extrema, como o do bairro Canaã. “Se você não tem um planejamento conjunto de assistência social, saúde, saneamento, alfabetização de adultos, você não terá o resultado esperado. Outras forças sociais acabam influenciando, como a violência e a gravidez na adolescência”, exemplifica.
A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) avalia que o país tem nível alto de investimento em educação, mas não apresenta resultados semelhantes aos de países desenvolvidos porque a defasagem é histórica. Em 2014, o Brasil investiu, no ensino, cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB). O desafio, para a deputada, é manter os recursos e melhorar a qualidade: “Isso não significa que vencemos todos os dilemas, como podemos ver nos índices de analfabetismo adulto e funcional: são 13,9 milhões de adultos sem alfabetização”.
EVASÃO
O ensino médio é mais problemático devido ao extenso programa apresentado em pouco tempo e à exigência de melhor qualificação dos docentes. “Isso tudo acaba criando um ensino superficial, com muitas disciplinas e falta de conexão entre o conteúdo e a vida do jovem”, lamenta Alejandra Velasco.
A deputada federal Professora Dorinha (DEM-TO) acredita que as dificuldades na educação básica ainda são graves. “O que o estudante que sai do ensino fundamental ou médio aprende de fato é muito aquém do que ele deveria ter assimilado. Temos alunos concluindo o terceiro ano sem uma educação consolidada”. Segundo a parlamentar, também preocupa a formação dos professores e a falta de padronização dos conteúdos que eles devem passar aos estudantes em cada série – proposta da Base Nacional Comum do Ministério da Educação, que ainda não tem versão final definida. “Temos um problema sério que é a descontinuidade de políticas públicas. Para conseguirmos avançar, temos que estruturar algumas políticas que não podem ser mudadas com trocas de cargos, seja de prefeitos ou ministros”, conclui.