O Instituto Igarapé lançou hoje guias para ajudar pais e professores a abordar o tema drogas com crianças e adolescentes. Os materiais são baseados em pesquisas internacionais que mostram que estratégias baseadas no medo e que se prendem simplesmente ao “diga não” não são eficazes.
“Tudo começa pela prevenção, mas não podemos insistir no erro. O medo vence a capacidade de passar informação e criar confiança, em uma conversa honesta. Os pais precisam entender que os jovens têm muito mais informações que nós”, resume Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé e autora do livro Drogas: as histórias que não te contaram, que inspirou a Proposta Pedagógica, um dos guias lançados hoje durante debate na Casa do Saber do Rio.
O guia para professores, com propostas de atividades para jovens, tomou como base um estudo da Agência da ONU para drogas e crimes (UNODC) e da Organização Mundial da Saúde, ainda inédito no Brasil, com recomendações de especialistas de 47 países, sobre programas e estratégias de prevenção adequadas para diferentes faixas etárias.
O outro guia lançado pelo Igarapé, Proteção em Primeiro Lugar: uma abordagem honesta sobre a questão do uso de drogas por adolescentes, é um roteiro para pais sobre como abordar o tema com adolescentes. Elaborado pela doutora em sociologia médica Marsha Rosenbaum para a Drug Policy Alliance, o material já foi traduzido para outros sete idiomas e é agora adaptado ao contexto brasileiro pelo Igarapé.
Outra pesquisa, comandada por Francisco Inácio Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, balizou o debate de lançamento dos guias. O pesquisador descobriu o aumento de 465%, em seis anos, no número de opiáceos prescritos no Brasil. “E é apenas uma fração do problema, que o governo consegue capturar. Nos surpreendemos também com o crescimento no uso de opiáceos e opióides sem prescrição entre os jovens”.
“Nos Estados Unidos, há uma crise de medicamentos prescritos. É o maior índice de mortes por overdose. Aqui não estamos acompanhando essa epidemia. Precisamos exigir melhores dados e transparência para poder fazer prevenção focalizada”, comentou Ilona, em referência à pesquisa realizada por Francisco Inácio, que, embora premiada internacionalmente, ainda não foi divulgada “por questões ideológicas”. “A polarização está impedindo a gente de pensar e resolver problemas com seriedade. Assim, continuaremos enxugando gelo e perdendo 29 adolescentes por dia para a violência”, completou.
“Vivemos uma divisão profunda na sociedade também no que diz respeito à percepção sobre riscos ligados a diferentes substâncias. Isso atrapalha a regulação de temas como álcool e maconha medicinal, por exemplo”, concordou o pesquisador.
Luciana Phebo, coordenadora nacional da Plataforma dos Centros Urbanos do Unicef, que participou do debate, reforçou a importância da pesquisa para mudar o modo como lidamos com a violência decorrente do tráfico de drogas.
“O Brasil é o país que mais mata adolescentes no mundo. Estamos perdendo esse jogo. Precisamos fazer alguma coisa diferente. E precisamos fazer urgente. Precisamos ir além da proteção social e avançar na prevenção da violência. Isso significa que temos que ter evidências”, concluiu.