Portugal da incoerência: O país que incentiva a natalidade não tem vagas nas creches

Lisboa, 18 de novembro de 2024 – Portugal enfrenta um paradoxo demográfico: enquanto o governo lança campanhas e incentivos para aumentar a natalidade, muitas famílias veem-se impossibilitadas de conciliar a vida profissional com a familiar devido à falta de vagas em creches. O problema, agravado pelo programa “Creche Feliz”, coloca em causa a eficácia das políticas públicas e aumenta a frustração de pais e educadores.

Apesar das promessas de creche gratuita para todas as crianças nascidas a partir de setembro de 2021, a realidade no terreno é bem diferente. Milhares de famílias continuam em lista de espera, enfrentando a angústia da incerteza e o dilema de como cuidar dos filhos pequenos enquanto trabalham. A falta de vagas afeta todo o país, mas é particularmente crítica nas grandes cidades e em zonas com maior densidade populacional. O problema agrava-se ainda mais para famílias monoparentais e de baixos rendimentos, que muitas vezes não têm alternativas como recorrer a amas ou creches privadas.

“Creche Feliz”: promessa e desilusão

O programa “Creche Feliz”, lançado com o objetivo de garantir o acesso gratuito à creche, acabou por expor a fragilidade da rede pública de apoio à infância. A procura explodiu, mas a oferta não acompanhou o ritmo, levando a longas listas de espera e ao desespero de muitas famílias.

Educadores em falta, infraestruturas insuficientes

A falta de educadores de infância é outro fator que contribui para o problema. Os baixos salários e as condições de trabalho precárias afastam muitos profissionais, dificultando a abertura de novas turmas e o alargamento da oferta.

Para além disso, muitas creches existentes não têm capacidade para acolher mais crianças. As infraestruturas são insuficientes e faltam recursos para garantir as condições de segurança e higiene necessárias.

Consequências para as famílias e para o país

A falta de vagas em creches tem consequências graves para as famílias e para o país. Muitas mulheres veem-se obrigadas a abandonar o trabalho ou a reduzir o seu horário, o que afeta a sua carreira e a sua independência financeira.

A falta de acesso à creche também tem impacto no desenvolvimento das crianças, que perdem a oportunidade de socializar e de desenvolver competências importantes para o seu futuro.

A longo prazo, a falta de investimento em creches pode ter consequências negativas para a economia e para a natalidade. Se as famílias não tiverem apoio para cuidar dos seus filhos, muitas podem optar por ter menos filhos ou mesmo por emigrar.

É preciso agir com urgência

O problema da falta de vagas em creches exige uma resposta urgente por parte do governo. É necessário investir na expansão da rede pública, na contratação de educadores e na melhoria das condições de trabalho.

É também fundamental criar medidas que facilitem a conciliação entre a vida familiar e profissional, como horários flexíveis e teletrabalho.

Só assim será possível garantir o acesso à creche a todas as crianças e criar um país verdadeiramente amigo das famílias.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.