A Agência Internacional para Pesquisas do Câncer (IARC, na sigla em inglês) apontou que, no Brasil, cada morte por neoplasias gera um prejuízo de cerca de R$176. Ao cruzar as informações com os dados mais recentes do Sistema Único de Saúde (SUS), que apontam mais de 206,8 mil mortes no país em 2015 em decorrência de câncer, é possível projetar um déficit de R$36,4 bilhões na economia brasileira.
O levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) aponta também que, em 2017, foram feitas mais de 11,7 milhões de análises que, com valor médio em cerca de R$14, custaram aos cofres públicos cerca de R$166,2 milhões.
A partir dos dados, é possível notar que no Brasil pouco se investe em diagnósticos, mais especificamente análise por anatomia patológica e citopatologia, que podem antecipar o diagnóstico de câncer e determinar o melhor tratamento para o paciente.
“Comparar os números que levantamos via SUS com as projeções do IARC escancara a precarização do procedimento diagnóstico no Brasil. Hoje um Médico Patologista trabalha de graça e pode até ter que tirar dinheiro do próprio bolso para comprar material quando atende na saúde pública”, comenta o presidente da SBP, o Dr. Clóvis Klock.
Honorários
Klock ressalta que o valor pago pelo SUS aos especialistas tem origem em uma tabela criada durante o processo de redemocratização – às vésperas da realização da constituinte de 1988. A maioria dos procedimentos está desatualizada e, quando mudanças são feitas, não acompanham a inflação do país.
Neste cenário, um dos casos mais simbólicos é da análise cervico-vaginal (Papanicolau), um dos principais procedimentos da especialidade. Sem alterações há mais de 10 anos só foi arredonda em centavos em 2014, chegando ao valor pago aos Médicos Patologistas: R$6,97, muito aquém do custo dos materiais para sua realização.
“Hoje gastamos cerca de R$15 em materiais para cada análise de Papanicolau e, quando aceitamos demanda do sistema público, temos duplo prejuízo por ter de arcar com as próprias ferramentas e não sermos remunerados pelo serviço”, explica o Dr. Klock.
O exame cervico-vaginal é um dos procedimentos mais importantes no combate e prevenção do câncer do aparelho reprodutor feminino, pois além de diagnosticar tumores no colo do útero, identifica também lesões no ovário. Juntas, as três neoplasias matou mais de 10,7 mil mulheres em 2015, segundo o SUS, um prejuízo de R$1,9 milhão com base no estudo do IARC.
O INCA estima que só em 2018 quase 30 mil mulheres sejam diagnosticadas com esses três tipos de cânceres. “As taxas abaixo do valor real de custo prejudicam não só os especialistas, como também impacta toda a população que perde o acesso aos diagnósticos precisos e precoces e, consequentemente, ao melhor tratamento”, conclui o presidente da SBP.