O contato mais próximo com a leitura proporciona a melhoria do vocabulário e o despertar do senso crítico sobre desigualdades sociais. É essa experiência que adolescentes em internação provisória na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, estão vivenciando em apenas 45 dias, período máximo em que permanecem nesse tipo de regime. A iniciativa, considerada inovadora pelos resultados alcançados em um curto tempo, já impactou 120 pessoas em menos de um ano de funcionamento e é um das práticas pernambucanas que disputam o 7º Prêmio Innovare, o principal da Justiça brasileira.
Com o título “Entre livros e textos: leitura, diálogo e relações sociais”, o projeto reúne os adolescentes duas vezes por semana. Dos encontros, eles saem com livros emprestados para exercitarem a leitura em seus alojamentos e, na semana seguinte, discutirem sobre os temas abordados. No acervo, composto por mais de 100 exemplares, obras como “Triste Fim de Policarpo Quaresma” e “A Batalha dos Mamulengos”. Os internos são estimulados a produzir redações, anexadas aos relatórios encaminhados ao Judiciário com o intuito de mostrar o viés produtivo do período que passam na Funase e contribuir com a avaliação dos processos de cada um.
“Os adolescentes que chegam, em sua maioria, têm problemas de autoestima. Então, essa iniciativa tem ajudado nesse processo e estimulado que aproveitem o tempo livre de forma produtiva. Costumamos levar textos com alguma intencionalidade, propondo questões de gênero, machismo, preconceito e outros temas. Fazemos a leitura em grupo, trabalhando a oralidade e estimulando que eles despertem para essas questões. É comum que, alguns encontros depois, eles passem a se perceber em algumas situações, como de racismo, e comecem a problematizar isso”, avalia a pedagoga Maurinúbia Moura, uma das autoras do projeto.
A ação, que é voltada a internos já alfabetizados, ocorre desde setembro de 2019. Na unidade, é atendido um público oriundo de 42 municípios do Agreste e com idades entre 12 e 18 anos. “O projeto leva o adolescente a fazer uma reflexão e passa a ter voz por meio desse projeto. Quando é levado a esse lugar de fala, ele se percebe como indivíduo e passa entender que o espaço dele termina onde o do outro começa. Passa a pensar, inclusive, sobre a possibilidade de retorno à escola, entendendo que a educação é a melhor opção para iniciar um novo projeto de vida”, completa a assistente social Natália de Melo, também autora da iniciativa.
A expectativa é de que, além de pleitear reconhecimento nacional, por meio da participação no Prêmio Innovare, o projeto possa ser estendido a outras unidades de internação provisória da Funase. “Mesmo tendo apenas 45 dias para trabalhar com esses adolescentes, temos buscado realizar atividades que influenciem positivamente o momento posterior da vida deles. Os resultados do grupo de reflexão e leitura nesses primeiros meses de funcionamento nos orgulham muito e têm potencial, com certeza, para obter reconhecimento nacional”, avalia a coordenadora geral do Centro de Internação Provisória (Cenip) Caruaru, Maria Clara Amorim.