Projeto “Racismo Religioso: Respeita Minha Fé!” mapeia violência racial contra terreiros na região metropolitana do Recife

“Racismo Religioso: Respeita Minha Fé!” é um projeto coordenado pela Tenda de Umbanda Caboclo Flecheiro D’Ararobá, em parceria com o Museu da Abolição (MAB) e busca colaborar para a proteção das pessoas e dos espaços de práticas afro-religiosas, por meio da produção coletiva de dados sobre violências, formação e organização das pessoas que têm seus direitos religiosos violados.

Aprovado no Edital Vidas Negras — Justiça Racial (2021), do Baobá — Fundo para equidade racial, o projeto está finalizando sua primeira etapa, iniciada em dezembro de 2021. Realizando entrevistas e coletando dados sobre processos judiciais que envolvam violência racial contra terreiros da Região Metropolitana de Recife, por meio de uma equipe de pesquisadores e advogados.

“O projeto nasce a partir da nossa luta por justiça racial nos terreiros. Nossa casa vivenciou anos de agressão e violência religiosa praticadas por uma diversidade de pessoas fundamentalistas. O que mais nos chocou durante todo esse período foi a inércia do poder judiciário e a omissão do Estado”, afirma o coordenador do projeto e Babalorixá da Tenda, Pai Edson de Omolu.

A parceria com o Museu da Abolição (MAB), um espaço conhecido pela luta por manter viva as tradições e culturas vindas do continente africano, só reforça a importância de preservar o direito ao culto religioso. “A violência religiosa é histórica, mas os processos de luta e resistência também são. Além da importância espiritual, os terreiros são e sempre foram importantes espaços de articulação social, cultural e econômica”, destaca Mirela Leita, coordenadora do MAB e responsável pela cartografia do projeto.

A coleta dos dados tem sido feita a partir da visita de campo a uma série de terreiros do Recife e região metropolitana. As visitas ocorrem em duas etapas. A primeira é mais voltada para o lado social das casas de matriz africana. “Na pesquisa de campo, nosso foco é na parte mais humana, história de vida e emoções que as pessoas de terreiro passam ao sofre com essa violência religiosa. Buscamos também o entendimento junto aos líderes religiosos sobre o conceito de racismo religioso, já que temos uma grande diversidade de lideranças, dos mais aos menos politizados, e nessa troca conseguimos sair mais fortalecidos”, diz a pesquisadora social Mayra Lima.

A segunda etapa das visitas é a pesquisa jurídica que consiste na busca de processos judiciais que envolvam templos, sacerdotes e sacerdotisas de religiões afro-indígenas. Em seguida, há a realização de entrevistas com alguns dos representantes do Candomblé, da Umbanda e da Jurema, juntamente com a coleta processual dos casos.

Matheus Ramos, advogado, assessor jurídico e integrante da pesquisa, reforça que “é de suma importância a análise de cada caso partindo das legislações aplicadas na temporalidade de cada caso, fazendo um comparativo com as legislações contemporâneas, a exemplo da Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância”.

A partir da conclusão dessa etapa inicial da pesquisa, os dados serão catalogados e analisados. Além desses terreiros já catalogados e com visitas sendo feitas, um questionário está disponível (https://forms.gle/qXLLcEU8JjoQMc1W8) para o mapeamento dos territórios onde estão localizadas casas de santo que sofreram qualquer tipo de violência. Com isso será possível levantar informações e dados para que, no futuro, as casas possam se proteger melhor das agressões.

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