Renascimento silencioso: Pernambuco lidera a recuperação da construção civil no Nordeste

Por Marcelo Rodrigues

A construção civil em Pernambuco atravessou um período de profundas transformações entre 2020 e 2025, evidenciando tanto a vulnerabilidade quanto a capacidade de adaptação deste setor fundamental da economia estadual.

Durante o biênio 2020-2021, o impacto da pandemia foi devastador. O PIB da construção civil pernambucana contraiu 8,5% em 2020, com perda de 35.000 postos de trabalho formais. Os lançamentos imobiliários sofreram redução de 25% ao ano, as vendas caíram 32% e o estoque de unidades não vendidas aumentou 40%, criando cenário de profundo desequilíbrio.

Em 2021, sinais tímidos de recuperação emergiram com crescimento de 4,2% no PIB setorial e recuperação de 15.000 vagas. O ano de 2022 consolidou essa tendência moderada, registrando crescimento de 2,8% e criação de 8.500 novos empregos. Contudo, a massa salarial acumulou redução de 12% no período, demonstrando que a recuperação quantitativa não foi acompanhada por melhoria salarial.

Os investimentos públicos desempenharam papel crucial nesta fase. O governo estadual elevou investimentos em obras públicas de R$ 890 milhões em 2020 para R$ 1,4 bilhão em 2022, crescimento de 57% que funcionou como importante amortecedor. Paralelamente, a inflação dos materiais de construção constituiu desafio significativo, com aumento médio de 45% nos custos.

A partir de 2023, iniciou-se ciclo de crescimento vigoroso que surpreendeu as projeções mais otimistas. O PIB cresceu 6,8% em 2023 e 8,2% em 2024, consolidando Pernambuco entre os estados de melhor desempenho nacional. A geração de empregos foi notável: 28.000 postos em 2023 e 35.000 em 2024, compensando perdas anteriores e estabelecendo novo patamar de empregabilidade.

O mercado habitacional experimentou transformação radical. As contratações habitacionais federais aumentaram 45%, o mercado privado registrou recuperação de 38% nas vendas, e os lançamentos cresceram 52%. Os investimentos totais saltaram de R$ 2,8 bilhões em 2023 para R$ 3,6 bilhões em 2024, crescimento de 28% impulsionado por projetos diversificados.
O segmento de infraestrutura merece destaque particular, com investimentos de R$ 800 milhões em obras rodoviárias, R$ 600 milhões em saneamento básico e R$ 400 milhões em mobilidade urbana. O Complexo Industrial Portuário de Suape voltou a experimentar expansão significativa, enquanto o desenvolvimento de energia renovável, com múltiplos parques eólicos e solares, posicionou Pernambuco na vanguarda da transição energética nacional.

Para 2025, as projeções indicam continuidade ascendente, com crescimento estimado entre 5% e 7% no PIB setorial. A criação de 25.000 a 30.000 novas vagas está prevista, enquanto investimentos devem alcançar R$ 4,2 bilhões. Fatores estruturais sustentam essas expectativas: o marco regulatório do saneamento, o Novo PAC federal e a expansão contínua dos investimentos em energia renovável.

A digitalização emerge como fator diferencial, com empresas adotando tecnologias de construção 4.0, Building Information Modeling (BIM) e automação de processos. Contudo, desafios persistem: escassez de mão de obra qualificada, volatilidade dos preços de materiais e necessidade de modernização tecnológica continuada.

No contexto regional nordestino, Pernambuco consolidou posição como segundo maior mercado de construção civil, com 18% do PIB setorial regional e 16% dos empregos formais. Nacionalmente, alcançou a 8ª posição no ranking de 2024, avanço notável que reflete melhoria qualitativa na competitividade setorial.

A trajetória pernambucana entre 2020 e 2025 ilustra a capacidade de adaptação de um setor tradicionalmente cíclico. A superação das adversidades de 2020-2022 e consolidação do crescimento em 2023-2024 estabeleceram fundamentos sólidos para expansão continuada. A diversificação de segmentos, desde habitação popular até energia renovável, criou base estável para crescimento futuro.

Esta evolução posiciona a construção civil pernambucana não apenas como setor em recuperação, mas como motor de desenvolvimento econômico estadual, com potencial para influenciar positivamente outros setores e contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida da população.

Marcelo Rodrigues é professor e advogado.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.