Por Menelau Júnior
As apaixonadas por Christian Grey dirão que estou morrendo de inveja, que este artigo é fruto de “recalque” e que os homens não entendem a alma feminina. Tudo bem, cada uma pode pensar o que bem entender – isso em nada muda minha opinião sobre o megassucesso 50 Tons de Cinza.
Vamos pelo começo: Jamie Dornan, o ator que interpreta o bilionário Christian Grey, é mesmo muito bonito. Grey seduz a virgem Anastasia Steele (a sexy-não-tão-bela Dakota Johnson) e a introduz no mundo do sadomasoquismo.
Pronto, a história é isso e nada mais. Baseado numa trilogia (essa é a primeira parte) que vendeu mais de 100 milhões de livros ao redor do mundo, 50 Tons de Cinza é, como se propõe a ser, uma adaptação bem fiel à obra original.
Os livros foram avidamente devorados por mulheres sedentas de algum ritual amoroso. Na falta de romantismo de verdade, passaram a acreditar que humilhação e pancadas são, sim, atitudes românticas. Pra quê chocolates e flores se você pode apanhar, não é mesmo? E, obviamente, a beleza de Grey e os prazeres que seu dinheiro pode oferecer acabaram por justificar a máxima de que “um tapinha não dói”.
Mas dói – e muito. Grey submete Anastasia a humilhações sem fim – sempre justificando que isso dará prazer a ela. A moça, inexperiente, deixa-se encantar pelo jovem podre de rico (mas a riqueza é só um “detalhe”, ok?) e, na tentativa de descobrir sua própria sexualidade, faz o papel de submissa nos moldes exigidos por Grey. Quando ela foge à regra, recebe um “castigo” – chicotadas e pancadas cujo som chega a lembrar o flagelo de Jesus em “A Paixão de Cristo”.
É claro que existem pessoas adeptas do sadomasoquismo. Não julgo preferências sexuais. Entretanto, na maioria dos casos, há uma espécie de reciprocidade nos rituais de algemas, correntes, chicotes e “palmadas”. No caso de 50 Tons, só existe uma moça totalmente manipulada que, em busca da descoberta do prazer, se deixa envolver por um jovem bonito e podre de rico (mas a riqueza, repito, é só um “detalhe”, ok?). Ganhar computador, TV, voo de helicóptero e um carrão novo não fazem nenhuma diferença.
Não sei se Christian Grey arrancaria tantos suspiros se fosse feio e pobre. Não sei se tanta gente o defenderia – apesar de seus traumas. Será que os rituais teriam o mesmo efeito quase hipnótico em mulheres sedentas de alguma coisa diferente? Não me cabe responder. A mim, Grey pareceu apenas um menino mimado, mal-amado, prepotente, arrogante e psicótico – e que tenta justificar tudo com base em seu “passado obscuro”.
Ah, claro, ele é mesmo lindo, charmoso e podre de rico. Mas todo o mundo sabe que isso nunca fez diferença, não é mesmo?
Menelau Júnior é professor