Amigo de Lula intermediou encontro com Palocci, diz lobista

Da Folhapress

Na acareação com Paulo Roberto Costa, na sede da Polícia Federal em Curitiba, o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, disse que foi o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do então presidente Lula, que marcou um encontro entre Costa e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho durante a campanha de 2010.

Trata-se de um novo ingrediente para a intrincada narrativa de um suposto repasse clandestino de R$ 2 milhões do petrolão à campanha da candidata Dilma Rousseff.

No final do primeiro semestre de 2010, Palocci já era um dos “três porquinhos” -como ficou conhecido o trio formado ainda por José Eduardo Cardozo e José Eduardo Dutra, que tomaria as decisões estratégicas da campanha da escolhida de Lula.

Na acareação da última quinta (5), que durou dez horas, Paulo Roberto Costa negou a existência da reunião com Palocci da qual Baiano disse ter participado e apresentou uma série de detalhes.

Baiano manteve a versão de acompanhou Costa no encontro com Palocci para pedir apoio à permanência à frente da diretoria de Abastecimento da Petrobras. Pela narrativa de Baiano, os dois se hospedaram no hotel Meliá ou Naoum, em Brasília e foram em um Corolla preto ao encontro de Palocci em uma casa próxima ao lago Paranoá. Baiano não soube explicar a localização exata do imóvel.

Segundo ele, tratava-se de um imóvel residencial com uma sala de paredes azuis e os dois foram levados a um escritório onde esperaram a chegada de Palocci. Dez minutos depois, o então homem-forte da campanha presidencial da escolhida de Lula teria chegado.

Baiano diz que, depois de algumas amenidades, Costa foi direto ao assunto: pedir o apoio de Palocci para continuar no comando da diretoria de Abastecimento.

O então diretor, sempre segundo Baiano, teria dito que divergências no PP – partido que o indicara – e a difícil relação com Dilma Rousseff, que presidira o conselho de administração da Petrobras, ameaçavam sua permanência no cargo.

Palocci, na versão do lobista, teria tranquilizado Costa, afirmando que, não estavam sendo discutidas nas diretorias da Petrobras e que ele era muito bem avaliado pelo desempenho à frente da área de abastecimento.

Paulo Roberto Costa voltou a negar categoricamente que a reunião descrita com Baiano tenha ocorrido, mas voltou a confirmar a existência de um pedido de R$ 2 milhões, entregues pelo doleiro Alberto Youssef, a um emissário do ex-ministro, em um hotel em São Paulo.

Baiano foi o primeiro delator a levar a Lava Jato ao encalço de Bumlai, um pecuarista do Mato Grosso do Sul que se aproximou de Lula durante a campanha de 2002 e que se tornou companheiro frequente de churrascos e pescarias presidenciais.

Em depoimento anterior da delação premiada, o lobista afirmou que Bumlai acertou pagamento de 5 milhões de dólares em propina, pagos pelo Grupo Schahin, em troca de contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000.

PROPINA DO PMDB

Em outro impasse importante da acareação, Costa confirmou que Baiano atuou como operador do PMDB no pagamento de propinas geradas por contratos da Diretoria de Abastecimento.

O lobista refutou que ocupasse o papel de intermediário dos pagamentos a peemedebistas fora dos contratos da diretoria internacional -um feudo do partido.

Baiano disse que ajudou a garantir apoio do PMDB à permanência de Costa no cargo em 2006, chegando a se reunir com o deputado Aníbal Ferreira Gomes (PMDB-CE).

Na versão do lobista, houve confusão porque o deputado do PMDB queria que as empreiteiras começassem a fazer pagamentos imediados das obras em andamento quando o combinado, segundo ele, teria sido os repasses somente em relação a novas obras. Aníbal é investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Na acareação, Baiano voltou a contar que o o esquema de corrupção na área internacional da Petrobras começou em 2006, com o ex-diretor Nestor Cerveró, e envolveu os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Delcídio Amaral (PT-MS), Jader Barbalho (PMDB-PA) e o ex-ministro Silas Rondeau, que, após o mensalão, substituiu a então ministra Dilma Rousseff no cargo.

Outro ponto abordado pelos investigadores foi o papel de Otávio Marques de Azevedo, principal executivo da Andrade Gutierrez, no pagamento de propinas.

Tanto Costa como Baiano relataram episódios de encontros ou conversas com o então presidente da holding, que está preso desde junho, sobre um projeto de uma planta de produção de coque verde na Arábia Saudita, mas negaram ter tratado de propina com ele.

Baiano relatou que fora procurado por Alberto Youssef para conseguir uma doação R$ 1,5 milhão da Andrade Gutierrez ao PP. O lobista diz ter se encontrado com Azevedo. O empreiteiro teria dito que um conselho da empresa examinaria estes pedidos, mas nunca deu retorno.

OUTRO LADO

A reportagem não conseguiu ouvir as defesas de Antonio Palocci Filho e José Carlos Bumlai até a publicação desta reportagem.

Em ocasiões anteriores, os senadores Renan Calheiros, Jader Barbalho, Delcídio Amaral e o deputado Aníbal Ferreira Gomes negaram ter recebido repasses de propina de empreiteiras por contratos com a Petrobras.

Órgão da Fazenda aponta movimentação milionária de Lula e Palocci, diz revista

Da Folha de S. Paulo

Um relatório do Coaf, órgão de inteligência financeira vinculado ao Ministério da Fazenda, aponta que contas ligadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ex-ministro Antonio Palocci e à ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra movimentaram R$ 294,6 milhões. As informações foram publicadas pela revista “Época” na edição divulgada nesta sexta (30).

Segundo a publicação, o documento de 32 páginas identifica movimentações incompatíveis com as respectivas rendas daqueles ligados às contas: Lula (R$ 52,3 milhões, de abril de 2011 a maio de 2015), Palocci (R$ 216 milhões, de janeiro de 2008 a abril de 2015) e Erenice (R$ 26,3 milhões, de 2008 a 2015). O relatório foi entregue à CPI do BNDES, que investiga contratos considerados suspeitos assinados pelo banco de 2003 a 2015, nos governos do PT.

Em agosto, a revista “Veja”, também com base em relatório do Coaf, revelou que a empresa do ex-presidente, LILS Palestras e Eventos, recebeu R$ 27 milhões de 2011 a 2014, sendo R$ 9,8 milhões de empreiteiras investigadas no escândalo da Petrobras.

Segundo a “Época”, a movimentação total da empresa no período foi de R$ 52,3 milhões. Parte da receita foi repassada a pessoas próximas e investida em plano de previdência privada (R$ 6,2 milhões).

Procurada, a assessoria de imprensa do ex-presidente Lula não foi localizada.

PALOCCI

Já empresa Projeto, de Palocci, recebeu R$ 53 milhões a partir de junho de 2011, quando deixou a chefia da Casa Civil do governo Dilma Rousseff (PT) após a Folha ter revelado que seu patrimônio multiplicou por 20 em quatro anos ao atuar como consultor privado. Ele defendeu as atividades como “legítimas relações comerciais”.

Do total, R$ 4,7 milhões são oriundos da Caoa, montadora e revendedora de veículos investigada na Operação Zelotes sob suspeita de envolvimento com suposto esquema de compra de medidas provisórias. Investigadores apontam o pagamento de propina relacionado à MP 471 –aprovada pelo Congresso no fim de 2009–, que prorrogava incentivos fiscais de R$ 1,3 bilhão por ano para montadoras.

Em julho deste ano, reportagem da Folha apontou, segundo informações do Coaf, que a empresa de consultoria do ex-ministro faturou R$ 34,9 milhões entre 2007 e 2010, época em que ele exercia o mandato de deputado federal. A Projeto foi contratada por 60 clientes de diferentes setores da economia, como firmas de planos de saúde, de alimentação e incorporadoras de imóveis.

Naquele mês, a Caoa afirmou à Folha que Palocci prestou consultoria “em dois períodos, de 2008 a 2010 e de 2012 a 2013, nas áreas de planejamento estratégico, econômico, financeiro e de relações internacionais. Por política interna, a Caoa não comenta detalhes sobre contratos”.

Procurada, a assessoria de imprensa do ex-ministro Antonio Palocci não foi localizada.

ERENICE

Erenice Guerra foi secretária-executiva da então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e sucedeu a chefe quando esta deixou o posto para concorrer à Presidência em 2010. Deixou o cargo após acusações de tráfico de influência envolvendo sua família no âmbito do ministério.

Segundo a “Época”, o escritório da ex-ministra recebeu R$ 12 milhões entre agosto de 2011 e abril de 2015. À revista Erenice afirmou que não fala com a imprensa. Procurada pela Folha, a ex-ministra não foi localizada.

Segundo a publicação, o documento de 32 páginas identifica movimentações incompatíveis com as respectivas rendas daqueles ligados às contas: Lula (R$ 52,3 milhões, de abril de 2011 a maio de 2015), Palocci (R$ 216 milhões, de janeiro de 2008 a abril de 2015) e Erenice (R$ 26,3 milhões, de 2008 a 2015). O relatório foi entregue à CPI do BNDES, que investiga contratos considerados suspeitos assinados pelo banco de 2003 a 2015, nos governos do PT.

Em agosto, a revista “Veja”, também com base em relatório do Coaf, revelou que a empresa do ex-presidente, LILS Palestras e Eventos, recebeu R$ 27 milhões de 2011 a 2014, sendo R$ 9,8 milhões de empreiteiras investigadas no escândalo da Petrobras.

Segundo a “Época”, a movimentação total da empresa no período foi de R$ 52,3 milhões. Parte da receita foi repassada a pessoas próximas e investida em plano de previdência privada (R$ 6,2 milhões).

Procurada, a assessoria de imprensa do ex-presidente Lula não foi localizada.

PALOCCI

Já empresa Projeto, de Palocci, recebeu R$ 53 milhões a partir de junho de 2011, quando deixou a chefia da Casa Civil do governo Dilma Rousseff (PT) após a Folha ter revelado que seu patrimônio multiplicou por 20 em quatro anos ao atuar como consultor privado. Ele defendeu as atividades como “legítimas relações comerciais”.

Do total, R$ 4,7 milhões são oriundos da Caoa, montadora e revendedora de veículos investigada na Operação Zelotes sob suspeita de envolvimento com suposto esquema de compra de medidas provisórias. Investigadores apontam o pagamento de propina relacionado à MP 471 –aprovada pelo Congresso no fim de 2009–, que prorrogava incentivos fiscais de R$ 1,3 bilhão por ano para montadoras.

Em julho deste ano, reportagem da Folha apontou, segundo informações do Coaf, que a empresa de consultoria do ex-ministro faturou R$ 34,9 milhões entre 2007 e 2010, época em que ele exercia o mandato de deputado federal. A Projeto foi contratada por 60 clientes de diferentes setores da economia, como firmas de planos de saúde, de alimentação e incorporadoras de imóveis.

Naquele mês, a Caoa afirmou à Folha que Palocci prestou consultoria “em dois períodos, de 2008 a 2010 e de 2012 a 2013, nas áreas de planejamento estratégico, econômico, financeiro e de relações internacionais. Por política interna, a Caoa não comenta detalhes sobre contratos”.

Procurada, a assessoria de imprensa do ex-ministro Antonio Palocci não foi localizada.

ERENICE

Erenice Guerra foi secretária-executiva da então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e sucedeu a chefe quando esta deixou o posto para concorrer à Presidência em 2010. Deixou o cargo após acusações de tráfico de influência envolvendo sua família no âmbito do ministério.

Segundo a “Época”, o escritório da ex-ministra recebeu R$ 12 milhões entre agosto de 2011 e abril de 2015. À revista Erenice afirmou que não fala com a imprensa. Procurada pela Folha, a ex-ministra não foi localizada.