Por Daniel Finizola
Ao estudar a história do Brasil percebemos que a corrupção sempre fez parte dos bastidores da política e do nosso cotidiano. Muitos incutiram a ideia de que o Brasil é um país que não tem jeito, que está tudo perdido, que “não adianta reclamar, pois nada vai mudar”. No imaginário coletivo, políticos e política são vistos como algo sujo e ilegal. Associada a esse tipo de ideia vem a degradação das instituições democráticas e da própria Democracia, regime político que promove o convívio e o respeito às diferenças, seja de ordem partidária, de gênero, classe ou etnia.
Nas eleições do ano passado vimos absurdos nas ruas e nos espaços virtuais. As redes sociais passaram a ser o espelho amplificado da atual sociedade. O ódio, a arrogância, o desrespeito às diferenças viraram os principais elementos da disputa política. Vivemos um tempo onde o mal é propagado gratuitamente e é justificado com a frase “foi só uma brincadeirinha”. A cada brincadeira os preconceitos vão sendo reforçados e o diálogo vai dando espaço à intolerância que espancou um adolescente de quatorze anos no interior de São Paulo, por ter pais homossexuais.
O ódio propagado por muitos, nesse caso, tirou a vida de um adolescente e acabou com os sonhos de uma família. Todo meu amor aos pais desse adolescente. Essa é uma das consequências da disseminação dos discursos de religiosos e do ascenso de políticos fundamentalistas.
Hoje e no domingo teremos manifestações em todo Brasil. As de hoje têm como pautas a defesa da Democracia e do Plebiscito Oficial da Reforma Política. Vários movimentos sociais se articulam, pois entendem que a mudança do sistema político é fundamental e urgente para fortalecer a Democracia e ampliar a participação popular na vida política do país. A principal reivindicação dos que defendem a Reforma Politica é o fim do financiamento privado de campanha, afinal de contas, empresa não vota! Se a Democracia tem por base o conceito de “uma pessoa, um voto”, não se pode tolerar influências que desequilibrem o jogo. Sem dúvidas, esse é o maior câncer do nosso sistema. Em Caruaru, o ato em favor da reforma vai se concentrar em frente ao Grande Hotel, às quinze horas de hoje.
No domingo será a vez dos que têm como pauta o impeachment da Presidenta Dilma e o fim da corrupção. Dos que chamam a Presidenta de vaca e puta, alimentam o ódio ao PT e às conquistas sociais intermediadas pelo Estado (sim, intermediadas, pois sem luta, não há conquistas, mesmo quando o governo é progressista). Muitos dos que vão às ruas no domingo não têm como pauta as reformas (Tributaria, Política ou das Comunicações). Reafirmando que o objetivo maior da manifestação é retirar do poder uma Presidenta que foi eleita democraticamente e não de mudar as estruturas políticas, sociais e econômicas que acentuam e perpetuam as diferenças sociais no país.
O outro mote da manifestação é a corrupção, e nos últimos dias o panelaço virou símbolo da luta contra os corruptos. Mas eu não ouvi falar em panelaço quando saiu a lista do HSBC, nem tão pouco quando o Presidente do Câmara e do Senado foram citados na tal lista da Operação Lava Jato. Não ouvi panelaço quando saiu a lista das empreiteiras que participaram do esquema de corrupção na Petrobrás, nem quando se descobriu a sonegação de R$ 615.099.975,16 em impostos não pagos pela Rede Globo. Mas o que leva a essa seletividade da hora de manifestar-se contra a corrupção?
A operação Lava Jato deixou evidente que o sistema político brasileiro já entrou em colapso há tempos, infelizmente o que vemos nos meios de comunicação de massa não é um debate sobre a necessidade urgente da Reforma Política, mas a propagação do senso comum, onde um governo e um partido viraram sinônimos de corrupção. Bem, então quer dizer que sem o PT do governo não haverá mais corrupção? Óbvio que haverá! Houve antes, por que não, depois? O problema não é um partido ou pessoa, mas esse sistema, que alimenta e abre portas para a corrupção, independente da agremiação partidária no poder.
Não há como negar que por trás de todo esse discurso de ódio há também uma questão de classe e isso não é algo exclusivo do Brasil, mas da configuração do mundo que vem se constituindo desde dos tempos da Revolução Industrial. O genocídio da juventude negra, a discriminação cultural, de gênero, étnica e religiosa são algumas das consequências de uma sociedade que dita os valores morais, de mercado e de comportamento pela ótica de quem detém o poder econômico.
Disputar e expressar sua cor, seu jeito, sua música em determinados espaços, é sinal de subversão, foge à ordem. Há os que negam a sua categoria, classe, cultura e identidade em nome de uma pseudo inclusão. Outros resistem, ocupam as mídias alternativas, produzem estudos e ações que contrariam os interesses do mercado, mas que ampliam as possibilidades de um mundo com mais justiça social e respeito às diferenças.
Seja hoje ou domingo, todos têm o direito de expressar sua opinião satisfação ou insatisfação em relação a governos e ao Brasil. Acreditamos que todas as manifestações vão correr dentro na legalidade, respeitando o espírito e os valores democráticos. Sendo assim, a oposição já pode aproveitar a energia das manifestações pra organizar uma plataforma de governo, pois daqui há três anos e alguns meses, teremos eleição pra Presidente. O Brasil já deu seu voto. O momento é de cobrar que os remédios sejam ministrados. No lugar de atacar o doente, é preciso tratar a doença!
Reforma Política, quando? Já!
Daniel Finizola – Educador, artista e Vice-Presidente do PT – Caruaru.