Durante da Copa do Mundo, a seleção brasileira cantou o Hino acompanhada dos torcedores. Quando a melodia parava, todos continuavam a entoar os versos, num ritual denominado “à capela” (ou “a capela”?).
A expressão faz referência a uma tradição do Renascimento, quando cânticos eram entoados em pequenas igrejas (capelas) sem o acompanhamento de instrumentos musicais.
A dúvida é quanto à grafia dessa expressão: “a capela” (sem crase) ou “à capela” (com crase)?
Está aí um caso em que há divergências de opinião. Para muitos autores, a expressão seria sem crase (“Cantar o Hino a capela”), uma vez que se trata de expressão adverbial de modo, em que não existe a presença do artigo “a”. Esses mesmos autores condenam o uso do acento grave em expressões como “a faca” (ferir alguém “a faca”) ou “a mão” (texto escrito “a mão”).
Para outros autores, esses são casos em que, historicamente, sempre se empregou o acento, não havendo, portanto, motivo para omiti-lo. São expressões adverbiais femininas e, como tais, deveriam receber o acento grave indicativo de crase.
Para complicar ainda mais a parada, o Houaiss, o principal dicionário do país, registra apenas a forma italiana: “a capella”. Nos sites de notícias, encontramos as duas formas – com e sem crase.
Para não ficar em cima do muro, vou assumir: eu uso o acento grave. Por uma questão de coerência: se escrevo que alguém “pinta à mão”, “paga à vista”, “fere à faca” ou “mata à bala”, também escrevo que se “canta o Hino à capela”. Em minha opinião, trata-se de uma locução adverbial feminina – e por isso deve ser acentuada. É muito mais por tradição histórica (como sempre foi com as locuções adverbiais) do que pela presença de uma preposição e um artigo.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.