Em debate, João Paulo e Geraldo trocam farpas

Do Portal LeiaJá

A três dias do 2º turno, os candidatos a prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB) e João Paulo (PT), se enfrentaram, na manhã de hoje, em um debate na TV Jornal. No primeiro bloco, onde os postulantes trocaram perguntas entre si, as farpas soltas entre eles abafaram a exposição das propostas. Entre uma acusação e outra, João Paulo chamou Geraldo de “ingrato” e o atual prefeito rebateu, ponderando não ter feito parte da gestão do PT quando ele e o ex-prefeito João da Costa governaram a capital pernambucana.

Primeiro a questionar, João Paulo pontuou a construção do Hospital do Idoso. Geraldo disse que a unidade prometida por ele vai suprir a necessidade da população idosa e destacou que o PT “não fez nenhuma unidade de saúde” durante 12 anos. A partir daí, iniciou-se uma série de troca de acusações.

“Geraldo não seja tão ingrato, você participou do meu governo. O PSB participou. Esta realidade que você coloca do bom atendimento da saúde não é no Recife, pode ser em outro país. O que vemos são filas, as pessoas chegando às 4 horas da manhã para disputar um atendimento e sobre o hospital vocês prometeram na campanha de Eduardo Campos, de Paulo Câmara”, disparou João Paulo. “Ele fica me chamando de ingrato, não governei com ele não. Ele governou com João da Costa. Quando ele governava a cidade, eu participava do governo de Eduardo Campos”, respondeu Geraldo.

Em seguida, o socialista questionou João Paulo sobre as propostas que ele tinha para o lazer na capital. Em resposta, o petista ironizou: “você é o prefeito mais desaconselhado para se falar em lazer”. “Você fechou equipamentos no Pátio de São Pedro e nós cuidamos essencialmente da nossa cultura. Se teve um governo que mais investiu, foi a nossa gestão”, argumentou.

Sobre a questão da habitação na cidade, João Paulo disse que atualmente “há uma deficiência na cidade” e na retirada de palafitas. “As casas que ele construía, gente, sinceramente, sem reboco, os banheiros sem azulejo, muitas vezes sem balcão, ele entregava algo inacabado para a população. A gente não. Entregamos 1.319 casas, com todo acabamento para dar dignidade às famílias”, destacou o prefeito.

Em réplica, João Paulo voltou a acusar Geraldo de ilusionismo. “Ele sempre fala de uma cidade que não é a cidade do Recife”, salientou o petista. “Ele discute tudo menos o futuro da cidade. Fazer do debate uma briga e uma arenga não quero. Quem briga e arenga é o PT que é o seu partido e não o meu”, retrucou o socialista.

No último questionamento, o candidato à reeleição perguntou se João Paulo era contra o Hospital do Idoso. O petista disse que a prevenção era mais importante do que a construção da unidade de saúde. “É difícil dialogar com ele porque sempre tenta mostrar um futuro, mas vamos para o presente. Vá ver os postos de saúde, as escolas, a qualidade das merendas. Temos que acima de tudo fazer o preventivo. Em Casa Amarela, são diversos postos de saúde fechados, medicamentos faltando. Esta é a verdadeira face do Recife”, ponderou.

Nas redes sociais, PT ataca e PSB promete reação

Do PE247

A briga entre PT e PSB chegou com força às redes sociais. A conta oficial do Partido dos Trabalhadores no Twitter postou, na noite desta terça-feira (23), dois textos com endereço certo: a potencial candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a própria legenda socialista.

Em uma das mensagens, os petistas criticam a aliança feita por Campos junto ao clã Bornhausen, em Santa Catarina, além de dizer que a candidatura do socialista caminha “rumo ao precipício”. “Todos os que prognosticaram a derrocada do PT ficaram pelo caminho. Os Bornhausens da vida abraçaram-se a E. Campos rumo ao precipício!”, diz o texto colocado no microblog. No post seguinte, insinua-se que o PSB virou um partido de direita.

“Quem não tem moral para falar de aliança com a direita é o PT. Eles é que estão aliados com a oligarquia mais atrasada da política brasileira. Basta ver que estão juntos com José Sarney (PMDB-MA), Renan Calheiros (PMDB-AL), Fernando Collor (PTB-AL), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e outros mais”, reagiu o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira. Para Siqueira, “o PT tem o direito de dizer o que quiser… e nós também”, afirmou.

Ele conclamou, ainda, que a militância do PSB também entre no debate das redes sociais e disse que a legenda já está promovendo uma articulação para reagir a ataques do gênero. “Vamos articular a militância para atuar nas redes sociais. É importante que o militante do PSB entre nas redes sociais e participe deste momento político”, observou.

As postagens no microblog petista foram alvo de um artigo do jornalista Josias de Souza, que observa que o acirramento da rusga entre as legendas – provocada pelo descolamento do PSB do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e pela disposição dos socialistas em disputar o Planalto em 2014 – pode acabar prejudicando uma eventual recomposição entre os dois partidos, que foram aliados históricos por décadas, em um eventual segundo turno.

A crítica à aliança firmada entre o PSB e os “Bornhausens” é direta. Dias antes da ex-senadora Marina Silva (Rede) filiar-se ao PSB e ser cotada para a vice em uma chapa presidencial encabeçada pelo governador pernambucano, o deputado federal licenciado Paulo Bornhausen, ex-DEM e ex-PSD, ingressou nas fileiras do partido socialista em Santa Catarina. Paulinho, como é mais conhecido, é filho do ex-senador Jorge Bornhausen, que foi uma das principais lideranças do DEM e um dos maiores críticos do PT. Enquanto no auge do escândalo do mensalão Jorge Bornhausen pregava que “a gente vai se ver livre desta raça (PT) por, pelo menos, 30 anos”, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmava que “nós precisamos extirpar o DEM da política brasileira”.

Na época da troca de farpas, durante a campanha eleitoral que resultou na eleição de Dilma Rousseff à Presidência, Lula fez campanha contra Raimundo Colombo então filiado ao DEM. Colombo ganhou a disputa pelo Governo do Estado contra a petista Ideli Salvatti e hoje encontra-se abrigado no PSD. Com o PSD tendendo a marchar ao lado do PT para reeleger a presidente Dilma, Paulinho acabou migrando para o PSB, o que acirrou os ataques petistas em torno das alianças estaduais costuradas por Campos visando o próximo pleito majoritário.

Ainda segundo Josias de Souza, o PSDB, que tem como pré-candidato ao Planalto o senador mineiro Aécio Neves, tem acompanhado de perto “as contradições do conglomerado governista e as incursões de Eduardo Campos no universo apelidado por Marina Silva de ‘velha política’”. “A essa altura, os operadores do PSDB avaliam que Eduardo Campos tem encontro marcado com Aécio Neves no segundo turno. Um pedaço do PSB acha a mesma coisa. Só que aposta no vice-versa. Quanto aos administradores do Twitter do PT, parecem acreditar que tudo se resolverá no primeiro turno”, analisou.

Com as farpas constantes e nem tão veladas entre PT e PSB aumentando paulatinamente, a tendência é de que as redes sociais acabem se configurando em um campo de batalha entre as legendas. Resta saber quem tem munição suficiente para tanto faltando cerca de um ano para as eleições.