Daniel Finizola
Semana passada Caruaru ficou perplexo ao ver os vereadores votarem um aumento de mais de 60% nos seus vencimentos. Algo que está totalmente fora da realidade e que não condiz com a necessidade urgente de mudar a forma e os meios de se fazer política no país. Não sou contra um vereador ganhar salário, mas que em primeiro lugar, ele exercite de forma participativa e transparente a sua função de legislador. Papel fundamental no desenvolvimento de políticas públicas para o município e no monitoramento das ações do Executivo.
Em segundo lugar, o contexto social e econômico no qual está inserido os municípios não favorece esse tipo de aumento. Mas parece que uma das Câmaras mais corruptas do Brasil é incapaz de exercitar tal raciocínio. Para começar, basta analisar a forma como se costura a política para o período eleitoral. Entenda que a grande maioria foi eleita por legendas pequenas, mal sabem as diretrizes dos partidos que representam. Isso demostra como os nossos vereadores não desenvolvem projetos coletivos de sociedade, mas projetos individuais de poder. O ridículo segue! Se dermos uma olhada nas redes sociais de muitos vereadores, constantemente postam fotos de ações assistencialistas, clientelistas, que não condizem com a função para a qual foi eleito.
A lista é grande. Vai de trocar lâmpada de um poste a uma festa de bairro. A passagem de ônibus aumentou e não vimos um vereador se pronunciar. Mas quando uma rua é calçada, logo surge o “pai ou mãe” da obra, seja vereador ou pré-candidato/a. Enquanto isso, eu pergunto: cadê as comissões que deveriam debater cultura, educação, mobilidade urbana, orçamento de forma transparente e didática para o cidadão/ã? Em que momento elas se reúnem? Qual o método utilizado para os trabalhos? Em que momento a população é ouvida? Quem não lembra da resposta absurda que muitos vereadores deram à imprensa sobre o PCC dos professores? “Nós não lemos o projeto”. Algo que mexeu diretamente com a vida de vários servidores e servidoras, ou seja, a irresponsabilidade e a falta de zelo com o bem público reina na casa José Carlos Florêncio. Os conselhos, instrumentos democráticos e constitucionais de participação popular, clamam pela presença dos vereadores. Sou conselheiro municipal de cultura e nunca vi um vereador se fazer presente nas reuniões. Acredito que muitos não sabem nem qual é a função de um conselho, nem das conferências.
Estão mais preocupados em disputar votos para reeleição a partir de obras assistencialistas do que desenvolver políticas públicas que deem autonomia ao cidadão/ã. É a reprodução da lógica política do século XIX. E quando você pensa que já viu e ouviu de tudo na Câmara de vereadores de Caruaru, vem o vereador Nino do Rap justificar o aumento, ‘devido a quantidade de pessoas que vão à sua casa pedir dinheiro’, afirmando que ‘um milhão seria pouco’. Vergonha! E a coisa piora. Na sessão da terça-feira, 8, tivemos que ouvir o Presidente da Casa, Leonardo Chaves, dizer que a Câmara não era “casa da mãe joana”. A declaração machista, sexista e misógina veio porque entidades estudantis exerciam seu direito democrático de protestar contra o aumento descontextualizado do salário dos vereadores.
As declarações do Vereador Nino do Rap e do Presidente da Casa, Leonardo Chaves, somadas a prisão de dez vereadores e a forma assistencialista que os edis atuam, demostram que pagar nove mil reais aos vereadores já é um absurdo. Está evidente que a maioria esmagadora dos vereadores que hoje ocupam a casa José Carlos Florêncio não representa a população caruaruense e seus anseios. As declarações estapafúrdias dos vereadores não condizem com uma cidade de 330 mil habitantes que é referência cultural e política para o país.
É preciso urgentemente sonhar, intervir e transformar esta realidade.
Daniel Finizola – Educador, Artista e vice-Presidente do PT/ Caruaru.