Delator: Temer beneficiado com R$ 1 milhão da Engefix

ÉPOCA 

O empresário José Antunes Sobrinho, um dos donos da construtora Engevix, é mantido em prisão domiciliar a poucos metros da força-tarefa em Curitiba. Vem de Antunes a acusação, em uma proposta de delação premiada, de que o presidente interino Michel Temer foi o beneficiário de R$ 1 milhão de propina, paga pela Engevix, como recompensa por um contrato de R$ 162 milhões da empreiteira com a Eletronuclear. ÉPOCA revelou o caso no fim de abril.

Temer negou as acusações na ocasião. Na proposta de delação, Antunes conta que o ex-coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, sócio da empresa de arquitetura Argeplan e “pessoa de total confiança de Michel Temer”, ganhou o principal contrato de construção da usina Angra 3 com a Eletronuclear, no valor de R$ 162 milhões, e se comprometeu a subcontratar a Engevix para realizar a obra. Em troca, a empreiteira pagaria R$ 1 milhão para “suprir interesses de Michel Temer”, de acordo com Antunes.

A proposta de delação premiada revela detalhes sobre o caso. Lá, Antunes diz que pediu para que uma prestadora de serviços da Engevix fizesse o pagamento para Lima, para disfarçar. Segundo a proposta de delação, o repasse foi feito pela empresa Alúmi Publicidades, que prestava serviços de mídia para o aeroporto de Brasília, controlado pela Engevix. Segundo ÉPOCA apurou, houve realmente um pagamento da Alúmi para a PDA Projeto, outra empresa de Lima. A PDA recebeu R$ 1,1 milhão em outubro de 2014, pagos pela Alúmi, na reta final da eleição daquele ano. Procurada por ÉPOCA, a Alúmi confirma o repasse de dinheiro à PDA. Lima confirma o recebimento da quantia. Os dois afirmam, no entanto, que se trata apenas de serviços prestados pelo amigo de Temer, não de propina.

Com as revelações do executivo, o dinheiro pode ser rastreado pelos investigadores para que seja verificado se Temer foi de fato beneficiado, como afirma Antunes – o que, novamente, o presidente interino nega com veemência. Pouco tempo depois do pagamento da propina, Lima fez viagens ao Panamá e ao Uruguai, dois conhecidos paraísos fiscais usados por operadores da Lava Jato para esconder dinheiro.

Piauí receberá R$ 1,32 milhão para melhoria do atendimento

A população da Piauí será beneficiada com a melhoria do atendimento especializado em saúde bucal. O Ministério da Saúde destinou mais de R$ 1,32 milhão anual para 25 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) de 25 cidades do estado. Em todo o Brasil, 673 municípios foram contemplados com mais de R$ 48 milhões por ano para que os estabelecimentos ampliem a qualidade dos serviços oferecidos à população.

O incentivo faz parte das iniciativas de modernização da gestão da saúde que vêm sendo promovidas pelo Governo Federal, com adoção de novos padrões e indicadores de qualidade. A avaliação é composta por três módulos. No primeiro, é verificado se a infraestrutura a manutenção e o uso dos equipamentos, instrumentais e insumos, estão sendo feitos de forma adequada. No segundo, são entrevistados o gerente do CEO e um cirurgião dentista para a obtenção de informações sobre o processo de trabalho, organização do serviço e cuidado aos usuários. No terceiro módulo, é feita uma pesquisa de satisfação com pacientes do Centro, que inclui perguntas quanto ao acesso e qualidade do atendimento.

A lista das cidades que vão receber os recursos adicionais, que se somam ao valor de custeio já pago a esses estabelecimentos, foi publicada na portaria 677/2015, que homologa a certificação dos CEO no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade dos Centros de Especialidades Odontológicas (PMAQ-CEO). Para o coordenador Nacional de Saúde Bucal, Gilberto Pucca, esse processo de certificação é um grande avanço para um país que só foi ter política pública de saúde bucal após a criação do programa Brasil Sorridente, em 2004.

“Antes, quem precisasse de atendimento especializado tinha que procurar a iniciativa privada. Agora, além de termos saído de zero para 1.037 CEO em onze anos, estamos avaliando a qualidade dos serviços oferecidos à população, premiando com mais recursos os estabelecimentos que se destacam”, afirma Pucca.

MONITORAMENTO – Os 981 Centros de Especialidades Odontológicas que estavam em funcionamento em todo o país entre fevereiro e março de 2013 tiveram oportunidade de aderir ao PMAQ CEO de forma voluntária. Desses, 859 CEO aderiram ao programa, comprometendo-se a cumprir os critérios de qualidade pactuados, e passaram a receber um adicional de 20% no custeio mensal. Após a etapa de avaliação externa, os CEO certificados podem perder os 20% a mais de incentivo do PMAQ-CEO, manter os 20%, ou ampliar para 60% ou 100% adicionais, de acordo com o desempenho e cumprimento dos requisitos pactuados.

Coluna: Meio milhão de zeros

Por Menelau Júnior

O ministério da Educação (MEC) divulgou na última terça-feira o resultado individual dos alunos no Enem 2014. Em relação a 2013, as médias caíram 1%, percentual insignificante. Mas duas áreas chamaram a atenção: Matemática, com queda de 7%, e Redação, com queda nas notas de quase 10%.

Mesmo com queda, as notas de Matemática são as maiores. Não porque os alunos saibam mais – muito pelo contrário –, mas porque o cálculo adotado pelo Enem considera uma “média” de 500 pontos para quem acerta apenas 13 questões em Matemática (de 45 possíveis). Esse “desvio” acaba gerando médias mais altas. Nessa área, um aluno chega a tirar 700 pontos acertando aproximadamente 27 questões. Em Códigos e Linguagens (Português e Literatura), esses mesmos 700 pontos só seriam obtidos com aproximadamente 36 acertos.

Mas é em Redação que se evidencia todo o desastre da educação brasileira. Dos quase 6 milhões e duzendos mil candidatos, 529 mil receberam nota zero na produção do texto. Mais de mei milhão. E mais de 55% não conseguiram sequer a nota 500. Um vexame. Notas acima de 700 pontos foram de apenas 8,5% dos candidatos. Somente 2,5% superaram a barreira dos 800; 0,5% chegaram aos 900; e apenas 0,004% (250 alunos) tiraram a nota máxima.

Os porquês desse desastre na redação são muitos, mas o principal é óbvio: FALTA DE LEITURA. O estudante brasileiro lê pouco e, por isso, pensa pouco, reflete pouco, argumenta pouco. Uma boa nota em Redação não se dá apenas pela ortografia ou pela concordância. É preciso analisar o tema, refletir, argumentar de forma ampla e coerente. E nada disso se consegue com pouca leitura, com poucos debates, com pouca informação.

O ministro da Educação tentou explicar os quase 530 mil zeros com a justificativa de que o tema de 2014 (Publicidade Infantil) era mais difícil que o de 2013 (Lei Seca). Não convence. Os zeros vieram, principalmente, pela fuga ao tema. O que isso significa? Que milhares de estudantes foram incapazes de saber o que se queria. Leram e não entenderam.

Se quisermos jovens críticos, com capacidade de análise e percepção de mundo, precisaremos estimular a leitura, os debates, as discussões. Os professores de redação podemos ensinar técnicas, discutir assuntos, orientar para a estrutura de um texto, propor bons temas. Mas não podemos suprir uma cabecinha adolescente da criticidade necessária se não houver leitura.

Somos o que lemos. Sem leitura, não somos nada. E somos: um zero em Redação.

Menelau Júnior é professor