O Globo
Com a cassação branca de seu mandato parlamentar, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha reduz drasticamente sua influência sobre o conjunto dos deputados. O Blocão que o sustentava, formado pelo PP, PSD, PTB, SD e PSC, com 124 deputados, está ameaçado de implosão.
Mas criará um problemão para o futuro presidente Michel Temer. Seus conselheiros estão preocupados com a falta de comando da Casa, sobretudo quando essa terá de aprovar as primeiras medidas e Emendas Constitucionais do novo governo. O tamanho do impacto será determinado pelo prazo maior ou menor do julgamento do mérito pelo STF.
Mas na Câmara o clima é outro. Os parlamentares que lhe davam suporte no PMDB, no PSDB e no DEM já se consideram liberados. Até mesmo o futuro presidente Michel Temer ficará mais livre para compor seu ministério. Como outros, mesmo dizendo que não queria cargos, trabalhava pela nomeação de alguns peemedebistas.
Fora do poder, Cunha não terá força para eleger seu sucessor. Embora, um de seus aliados, o líder do PTB, Jovair Arantes, se mantenha em campanha. A escolha do novo presidente ficou em aberto. O Bloco de Esquerda, liderado pelo PT, com cerca de 100 deputados, está fora do jogo.
O outro PMDB, liderado pelo deputado Leonardo Picciani, saiu fortalecido. Mas para garantir a presidência da Casa terá que arquitetar algum tipo de acordo com o PSDB, o PR, o PSB, o DEM e o PRB. O Planalto de Temer terá um peso relevante nessa construção.
A decisão do STF foi recebida com perplexidade na Câmara. Ninguém na Câmara esperava a cassação branca de seu mandato. A expectativa, entre governistas e opositores do governo Dilma, era que ele fosse afastado da presidência. Eduardo Cunha não tinha se preparado para essa decisão e ficou estarrecido com a unanimidade.
Superada a surpresa inicial, na próxima semana os partidos darão a largada nas articulações para a escolha do novo presidente da Casa. Uma nova eleição deve ocorrer a curto prazo, quando o STF cassar definitivamente o mandato de Cunha ou caso ele se antecipe renunciando. Em qualquer das duas situações o presidente interino, Waldir Maranhão, terá que convocar uma nova eleições em cinco sessões.
Cunha já comentou com alguns deputados que pretende continuar disputando o poder na Câmara. Mas para que sua empreitada tenha algum êxito será preciso que seus principais aliados políticos, Paulinho da Força (SD), Jovair Arantes (PTB) e André Moura (PSC), não lhe virem às costas.