Por Marcelo Rodrigues
O urbanismo tático é como aquele toque mágico que transforma espaços esquecidos ou “vazios urbanos”, áreas que costumam estar abandonadas, sem uso ou bagunçadas, que não conseguem cumprir a função de reunir as pessoas e estimular a interação entre elas nos Municípios, e aí transverte em um lugar cheio de vida para abrigar atividades de diversão e cultura. É uma abordagem leve, acessível e super criativa para melhorar as cidades, usando ideias simples, mas com impacto enorme no dia a dia das pessoas. E o mais interessante? Tudo isso é feito de forma rápida e participativa, envolvendo quem vive e usa os espaços.
Esse instrumento urbanístico e uma abordagem inovadora que tem conquistado cada vez mais espaço na requalificação de cidades, especialmente no Brasil. Ele se baseia em intervenções rápidas, de baixo custo e altamente participativas, buscando melhorar a qualidade de vida nas áreas urbanas. A ideia central é experimentar pequenas mudanças em espaços públicos, promovendo transformações que podem ser tanto temporárias quanto permanentes, dependendo de como a comunidade responde a elas.
No contexto brasileiro, onde os desafios urbanos são muitos e variados, o urbanismo tático surge como uma solução inovadora e exequível. Pense em uma rua que antes era perigosa para pedestres e que, com a simples aplicação de pintura no asfalto, instalação de cones ou a criação de áreas de convivência com bancos e plantas, se transforma em um espaço mais seguro e convidativo, revitalizando áreas esquecidas com mobiliário urbano e arte, promovendo o uso por moradores e fortalecendo o sentimento de pertencimento. As intervenções como a reconfiguração de ruas, praças e avenidas aos sábados e domingos, transformando-os em um espaço exclusivo para pedestres e ciclistas, mostram como ações temporárias podem trazer novos usos e apropriação dos espaços públicos.
A força do urbanismo tático está em sua capacidade de engajar as pessoas. Diferentemente de grandes obras que muitas vezes são planejadas sem consultar os moradores, esse modelo de intervenção convida a comunidade a participar ativamente. É uma forma de tornar o planejamento urbano mais democrático, permitindo que as reais necessidades de quem vive no espaço sejam ouvidas e atendidas. Seja revitalizando uma praça abandonada, criando faixas de pedestres mais visíveis ou improvisando áreas de lazer em terrenos subutilizados, essas iniciativas colocam as pessoas no centro da transformação.
Além disso, essa ferramenta urbanística tem um papel importante na educação urbana. Ele mostra, de forma prática, que é possível melhorar a cidade com criatividade, sem depender apenas de grandes investimentos ou longos processos burocráticos. Um exemplo interessante é o “Park(ing) Day”, uma iniciativa global adotada em várias cidades brasileiras, onde vagas de estacionamento se transformam em pequenos parques por um dia, incentivando reflexões sobre o uso do espaço público.
Essa abordagem também tem um impacto direto na construção de cidades mais sustentáveis e inclusivas. Intervenções que priorizam pedestres e ciclistas, como as ciclofaixas temporárias, os parklets; praças de alimentação; áreas de recreação; promoção de mercados de agricultores; feiras de artesanato e eventos culturais temporários para revitalizar essas áreas urbanas; criação de espaços verdes como a floresta de bolso, etc. Assim, não apenas tornam os espaços mais acessíveis, como também incentivam formas de mobilidade menos poluentes. Além disso, ao criar ambientes mais agradáveis e funcionais, o urbanismo tático ajuda a fortalecer o senso de pertencimento e a qualidade de vida nas comunidades.
Por fim, o urbanismo tático não é apenas uma ferramenta de transformação física, mas também social. Ele nos lembra que a cidade é feita para as pessoas e que, com um pouco de criatividade e colaboração, é possível construir espaços que acolhem, conectam e inspiram. No Brasil, essa prática tem o potencial de reescrever a forma como nos relacionamos com as cidades, mostrando que grandes mudanças podem começar com pequenos passos. Ao transformar ruas, praças e calçadas, o urbanismo tático também transforma relações, gerando cidades mais humanas, vibrantes e sustentáveis.
Marcelo Rodrigues, é advogado especialista em direito ambiental e urbanístico, ex-Secretário de Meio Ambiente do Recife, e sócio proprietário do escritório de advocacia Marcelo Rodrigues Advogados. Futuro Botânico.