Líder do PMDB sofre bombardeio após indicar ministros de Dilma

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Picciani reconhece que está sob bombardeio, mas afirma que não se sente fragilizado (Foto Agência Brasil)

Por BERNARDO MELLO FRANCO
Da Folha de S. Paulo

Na gangorra do poder de Brasília, ninguém oscilou tanto nos últimos dias quanto o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), de 35 anos.

No início da semana, ele despontava como estrela em ascensão no Congresso. Indicou dois novos ministros e se apresentou como escudeiro de Dilma Rousseff na Câmara, depois de ter apoiado o tucano Aécio Neves em 2014.

Na véspera do feriado, sua imagem era a de um político que perdeu brilho. Ele passou a ser questionado na própria bancada e viu o bloco que lidera encolher de 159 para apenas 68 deputados.

Picciani entrou na política como herdeiro do pai, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani. Mas foi pelas mãos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deixou o baixo clero e deu os maiores saltos da carreira.

Em 2007, tornou-se o deputado mais jovem a presidir a Comissão de Constituição e Justiça, aos 27 anos. Há oito meses, foi eleito líder da bancada peemedebista na Casa.

No novo cargo, Picciani continuou a atuar em sintonia com o padrinho, apoiando suas manobras para desgastar o governo.

A relação entre os dois mudou em agosto, quando a Procuradoria-Geral da República se preparava para denunciar Cunha por corrupção e lavagem de dinheiro.

Dizendo-se perseguido, o presidente da Câmara rompeu com Dilma e acelerou a negociação com o PSDB para abrir um processo de impeachment. Aconselhada pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), a presidente decidiu se aproximar dos Picciani. Recebeu pai e filho no Alvorada e prometeu cargos em troca de apoio do líder na Câmara.

No auge do prestígio, o deputado assistiu na segunda-feira (5) à posse dos dois ministros que indicou: Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). Em conversas reservadas, passou a indicar que desejava a cadeira de Cunha. No dia seguinte, começou a ser sabotado pelo ex-padrinho.

RETALIAÇÕES

Na terça (6), Cunha articulou o fracasso da sessão que analisaria vetos presidenciais. Apesar dos apelos de Picciani, 48% dos peemedebistas não marcaram presença, e a votação foi cancelada.

Na quarta (7), o plenário continuou vazio. Incentivados por Cunha, quatro partidos abandonaram o bloco comandado por Picciani: PP, PTB, PSC e PHS. Os dissidentes o acusaram de não ouvi-lo e de prometer ao Planalto mais do que poderia entregar.

“O governo fez negócio com um porta-voz que não estava credenciado para nos representar. Por isso, não recebeu a mercadoria que comprou”, ironiza o deputado Esperidião Amin (PP-SC).

Enfraquecido, o líder do PMDB também começou a enfrentar oposição na própria sigla. Um grupo de 22 deputados, um terço da bancada, divulgou manifesto contra a indicação de ministros.

“Não concordamos com essa reforma conduzida como uma feira livre”, critica Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), rival de Picciani e defensor do impeachment de Dilma.

Na tarde de sexta (9), o líder peemedebista reconheceu que está sob bombardeio, mas disse à Folha que não se sente fragilizado.”O PMDB continuará a dar apoio ao governo na Câmara, inclusive nessa questão do impeachment. O país vive um movimento de conspiração contra a presidente, e a nossa bancada não vai participar dele.”

À noite, a gangorra brasiliense voltou a se mover. Com a revelação do fluxo de dinheiro do petrolão para as contas de Cunha e da mulher na Suíça, a estrela de Picciani deve voltar a subir.

Desemprego no Brasil faz imigrantes voltarem a seus países

Por INGRID FAGUNDEZ
Da Folha de S. Paulo

A situação econômica já faz imigrantes que tentavam refazer a vida no Brasil começarem a voltar a seus países ou procurar outros destinos, como Canadá ou EUA.

Dados da Missão Paz de São Paulo, entidade que é referência para estrangeiros, mostram que neste ano, até setembro, havia 1.239 contratados, número 68% menor que o do período em 2014.

Nas feiras que reúnem empregadores, às terças e quintas, o número de postos oferecidos despencou. O padre Paolo Parise, que dirige o Centro de Estudos Migratórios, diz que neste ano o número de contratados deve chegar a 30% dos de 2014.

Grande parte dos entrevistados, com destaque para haitianos e africanos, buscou um lugar na construção civil, um setor que nos últimos 12 meses fechou 385 mil vagas formais, mais de um terço de todos os empregos encerrados no país no mesmo período, segundo dados do Caged.

O eletricista haitiano Pierre, 42, há sete meses no país, não conseguiu uma vaga e vai retornar ao Haiti. A passagem de volta custou R$ 4.600.

Mesmo os que estão empregados consideram viajar em busca de melhores oportunidades. Com um salário mensal de R$ 1.000, o soldador Joseph Levitique, 30, não consegue enviar nada para a família, principalmente depois que o dólar disparou.

Seu plano é voltar para o Haiti em janeiro e juntar dinheiro para ir a Miami, onde moram parentes.

Os atritos entre brasileiros e estrangeiros devem aumentar à medida que a situação piore e eles passem a disputar as mesmas vagas, diz Marcelo Haydu, um dos fundadores do Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado).

O haitiano Charles Macantonie, 35, diz já perceber a mudança. Em setembro, ele deixou o emprego na construtora OAS para buscar a família em Porto Príncipe, no Haiti. Quando voltou, encontrou portas fechadas. “Nas construções me disseram que não tem nada para estrangeiro. Agora é só brasileiro.”

“Quando cheguei, todos que se dispunham a trabalhar conseguiam empregos e um salário razoável. Hoje virei ambulante e alerto todos os irmãos do Senegal de que as condições por aqui estão bem piores”, afirma o senegalês Pape Embaye, 36.

No quarto e sala que divide com outras sete pessoas, Embaye conta que chegou ao país em 2010, ano em que o PIB do Brasil crescia 7,6% e o desemprego era 6,7% pela pesquisa PME do IBGE, que abrange as seis principais regiões metropolitanas.

Cinco anos depois, o desemprego foi de 7,6% em agosto (dado mais recente da mesma pesquisa) e o PIB deve cair 3%.

Estrangeiros qualificados também são afetados, diz Rene Ramos, sócio da empresa de imigração corporativa Emdoc. Com mais brasileiros sem vaga, empregadores hesitam antes de contratar um europeu, afirma ele.

O êxodo inverte a curva de imigrantes no mercado de trabalho. Segundo dados da Rais, do Ministério do Trabalho, a contratação de estrangeiros, que chegou a crescer cerca de 20% entre os finais de 2012 e 2013, ficou praticamente estável em 2014. Os dados para este ano só serão divulgados no ano que vem.