A perda da liberdade foi um fator que impulsionou a busca por uma mudança de vida para o jovem Rinardley Irwington. Aos 19 anos, após muito esforço e dedicação, ele foi aprovado em dois cursos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE). No primeiro semestre, começou a cursar Zootecnia no Campus Petrolina Zona Rural. Em agosto, recebeu a notícia de que também passou no vestibular para Licenciatura em Música, com aulas no Campus Petrolina. A trajetória diferenciada começou poucos meses após ele deixar a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase). No período de pouco mais de um ano em que foi atendido pela instituição, o jovem encontrou apoio de equipes técnicas e participou de projetos educacionais e artísticos que fizeram a diferença na construção de novos projetos de vida.
Rinardley ficou 13 meses internado no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Petrolina, onde conseguiu terminar o Ensino Médio. Lá, foi inscrito em um curso profissionalizante de curta duração do IF Sertão-PE e interessou-se pela rotina acadêmica. Também fez parte do Projeto Camerata, desenvolvido pela cooperativa Sicredi Vale do São Francisco junto à direção do Case. As aulas de música são ministradas toda quinta e sexta-feira, na unidade, com a participação do Grupo Artístico Matingueiros. Foi assim que Rinardley aprendeu a tocar violoncelo e apaixonou-se pela música. Mesmo após progredir de medida e ficar na Casa de Semiliberdade (Casem) Petrolina, outra unidade da Funase, ele continuou participando do projeto. “A música me acalma, me faz pensar em coisas boas e me ajuda a criar um bom sentimento pelas coisas”, reflete.
Desde dezembro de 2017, Rinardley não está mais em nenhuma unidade da Funase, mas continua levando seu testemunho de incentivo para adolescentes e jovens que ainda estão internados ou em semiliberdade. Na semana passada, ele fez um discurso para 17 concluintes do curso de Auxiliar Técnico em Agropecuária, ofertado pelo IF Sertão-PE para socioeducandos do Case Petrolina. “No tempo que passei nas unidades, pude me dedicar à educação. Eu já tinha interesse em fazer vestibular, continuar estudando, e encontrei apoio para isso. Terminei o Ensino Médio, vi os cursos e projetos e tive mais certeza ainda do que queria. Minha família, os professores e as pessoas da Funase me apoiaram muito. Quero viver uma vida cada vez mais distante do que eu passei lá atrás. Cada experiência é algo a mais na bagagem do nosso futuro”, avalia Rinardley.
SOCIOEDUCAÇÃO – As unidades da Funase em Petrolina se destacam pelos bons resultados. No Case, por exemplo, a frequência escolar média chega a 91,4% dos socioeducandos. O índice de reincidência é de apenas 6%, o que significa que poucos adolescentes que passam pela unidade voltam a cometer atos infracionais quando são liberados e demandam um novo atendimento da instituição. O estabelecimento de parcerias tem sido decisivo para a reinserção na sociedade. Na Casem Petrolina, por exemplo, socioeducandos vêm participando de um projeto social da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), no qual têm aulas de capoeira duas vezes por semana. A ação é desenvolvida com apoio da Vara Regional da Infância e da Juventude. Já no Cenip Petrolina, unidade de internação provisória, oficinas artísticas que exploram a cultura regional combatem o ócio e fomentam ideias que os socioeducandos podem pôr em prática no mercado de trabalho quando deixarem a Funase.
Para a coordenadora geral do Case Petrolina, Nídia Alencar, resultados como esses mostram como o trabalho desenvolvido tem ajudado no cumprimento da missão institucional da Funase. “Recebemos meninos de Araripina, Ouricuri, Terra Nova e outros municípios da região e percebemos a importância das ações, sobretudo nos municípios que contam com políticas públicas mais fortalecidas no apoio aos egressos e dão continuidade ao que era feito dentro das unidades. Histórias como essas mostram que os adolescentes que saem da nossa instituição são resgatados, reinseridos na sociedade e que estão estudando e atuando no mercado de trabalho”, declara.
Em Pernambuco, o acompanhamento de egressos da Funase é feito pela Gerência Geral do Sistema Socioeducativo da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude (SDSCJ). Por meio do Projeto Novas Oportunidades, esse público é preparado para entrar no mercado de trabalho. Desde 2014, 326 ex-socioeducandos com idades entre 12 e 22 anos foram atendidos. O programa também busca diminuir a reincidência no cometimento de atos infracionais e mortes de adolescentes e jovens ameaçados pelo crime. “Identificamos as potencialidades e procuramos oportunidades lá fora. Há o estereótipo da sociedade sobre eles, mas é um trabalho de resistência que tem sido exitoso junto aos jovens e suas famílias. A gente acredita no adolescente”, afirma a gerente geral do Sistema Socioeducativo da SDSCJ, Suelly Cysneiros.