A afirmação acima é do coach, analista comportamental e palestrante, Igor Ferraz. Em entrevista ao VANGUARDA, o especialista também nas áreas de produtividade, carreira e empreendedorismo deu dicas importantes de comportamento às empresas e aos colaboradores para encararem da melhor maneira possível este período turbulento a qual a economia do país vem atravessando. Em paralelo, ele ainda fez algumas recomendações aos jovens que estão próximos a encararem a maratona pesada dos vestibulares.
Pedro Augusto
Jornal Vanguarda — Por causa do acréscimo significativo do desemprego devido à crise, atualmente milhares de profissionais têm acumulado funções extras para continuar operando no mercado formal de trabalho. Como manter a boa produtividade diante desta sobrecarga de responsabilidades?
Igor Ferraz — Em primeiro lugar, o profissional deve estabelecer prioridades. Ou seja, listar aquilo que deve ser feito em primeiro lugar e uma forma de se fazer isso é identificar qual atividade irá gerar um resultado maior com o esforço menor. Uma dica importante é aplicar o princípio de Pareto ou a regra 80/20 que diz que 80% de todo resultado vem com 20% de esforço. Então quais são as atividades chaves que irão gerar os 80% dos resultados? São nelas que o profissional deve focar para executá-las em primeiro lugar. Outro fator importante para melhorar a produtividade é identificar o nível de importância x urgência de cada atividade. As atividades importantes são aquelas que precisam efetivamente serem feitas, mas que existe um prazo para sua conclusão, e as urgentes são aquelas que o prazo acabou, ou seja, devem ser entregues rapidamente. Se uma determinada tarefa é urgente e importante ao mesmo tempo, ela deve ser priorizada em relação a qualquer outra. É importante o profissional ter esse amadurecimento, em saber identificar o status dessa tarefa ou atividade para que ele não se perca diante de tantas demandas e não comprometa sua produtividade. Outro fator muito importante para aumentar a produtividade é dividir atividades que exigem um esforço maior, em fatias menores, e ir executando-as, isso faz com que se evite a procrastinação (deixar para depois) das atividades maiores e mais trabalhosas. Outro grande vilão da produtividade no ambiente de trabalho são as redes sociais. Uma pesquisa desenvolvida pela Deep (Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas e Clientes) apontou que os trabalhadores gastam, em média, até 1h16 por dia com questões que envolvem o acesso às redes sociais e isso em uma escala maior levando em consideração um profissional com carga horária de oito horas diárias, resulta em três dias ao mês só nas redes sociais, é muita coisa. Uma forma de não abrir mão do uso das redes sociais no trabalho, mas ainda sim ser produtivo é estabelecer critérios de uso.
JV — Em relação ao expediente de trabalho, quais são as dicas para aproveitar o tempo disponível da melhor da maneira possível?
IF — Principalmente em tempos de crise é necessário se evitar ao máximo a ociosidade no ambiente de trabalho. Muitas empresas estão fazendo cortes de custos e a demissão em alguns casos tem sido levada em conta justamente essa ociosidade. O profissional que sabe estrategicamente se posicionar de maneira proativa, não aguardando simplesmente chegar alguma demanda, mas ir em busca do que fazer, cria um diferencial competitivo em sua carreira e é sempre bem avaliado na empresa. Quando há esses momentos de ociosidade, o profissional pode aproveitar e adiantar tarefas com prazos maiores, organizar o ambiente, checar emails, ajudar os colegas, entrar em contato com clientes e fornecedores ou até mesmo aprender uma nova função.
JV — De que forma as empresas devem agir para impedir que a crise interfira no rendimento de seus funcionários?
IF — Com a crise e o número de desemprego crescendo, muitos profissionais estão receosos em passarem por uma redução de quadro e isso em alguns casos têm gerado preocupações aos mesmos e diversas pesquisas da neurociência apontam que profissionais que trabalham preocupados ou estressados têm uma redução na produtividade de 20%, o que implica no resultado final da empresa. Uma forma de se evitar isso é tranquilizar os colaboradores sobre uma possível redução. As empresas precisam focar no que é positivo e transmitir essa mesma mensagem para os seus colaboradores, para que eles possam aumentar os seus níveis de confiança sobre as mesmas, o que automaticamente irá repercutir em suas produtividades. Profissionais felizes e satisfeitos produzem mais.
JV — Caso sejam obrigados a migrarem do mercado formal para o informal, que atitudes os trabalhadores devem colocar em prática para prosperar em seu mais novo campo de atuação?
IF — O primeiro passo é ter autoconfiança é visualizar um futuro promissor, isso ajuda a ir em frente e a controlar melhor o medo em um ambiente novo. Para ter autoconfiança uma dica importante é que os profissionais reflitam sobre seus pontos fortes, o que fazem bem feito, suas principais qualidades, e foquem nelas. Isso ajuda o nosso cérebro a liberar hormônios como endorfina, dopamina, ocitocina e serotonina, que são hormônios do bem estar. Esses hormônios auxiliam no combate ao estresse, ansiedade, medo e melhora o estado de alegria e motivação o que é muito importante para novos desafios. Outra dica importante é que eles planejem cada passo para que possam crescer de maneira gradual.
JV — Além de estar provocando uma massa de demissões em todo o país, a crise também vem influenciando bastante o jovem na hora da escolha da profissão a seguir. Que fatores devem ser analisados por este último ao se submeter aos vestibulares?
IF — No processo de coaching trabalhamos massivamente o autoconhecimento, pois é o principal ponto de partida para qualquer área da vida. Quanto mais nos conhecemos mais nos potencializamos. E na escolha da profissão não é diferente. O jovem precisa ter esse autoconhecimento sobre sua personalidade, gostos, aptidão e principais habilidades para que possa escolher bem a carreira e não deixar que a crise política que o nosso país está enfrentando seja um fator de influência nessa escolha. Até porque, em algum momento isso irá passar, e o jovem que optar por aquilo que não está sendo tão prejudicado no momento, pensando em curto prazo, poderá ficar frustrado mais na frente. Profissionais de alta performance, não se preocupam com crises, são sempre disputados pelas empresas pelo resultado que geram, é nisso que o jovem precisa focar, em viver a sua melhor versão, buscar ser referência em sua área e para isso fazer o que ama é muito importante.
JV — Em tempos de crise, uma transição de carreira pode retrair ainda mais o futuro do profissional. Como evitar essa mudança geralmente difícil?
IF — A grande verdade é que nunca estamos totalmente preparados para fazer algo, ainda mais quando se trata de mudanças, nossa mente sempre vai querer jogar contra e achar que ainda falta algo ou que é melhor continuar em nossa zona de conforto, pois lá é mais seguro. Mas se o profissional vislumbra que a transição de carreira seja uma boa oportunidade, mesmo em tempos de crise, ele deve sim levar em consideração. Mas é importante entender o real motivo dessa mudança, se é alguma desmotivação com a empresa ou profissão, ou se realmente está havendo um descompasso entre sua carreira atual e seus valores. Mas se ainda restar dúvidas sobre essa transição, uma forma de evitá-la é pensar nas percas em abrir mão daquilo que já estava sendo construído e em ter que iniciar tudo novamente, pensar também se a carreira atual irá contribuir a curto e médio prazo para o alcance de seus objetivos profissionais e pessoais.