Acordo de Marcelo Odebrecht prevê duas saídas de casa em 2,5 anos

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Durante os três primeiros meses após ser preso pela Operação Lava Jato, em 19 de junho de 2015, Marcelo Odebrecht não demonstrou qualquer sinal de abatimento. Concentrou-se na sua defesa no processo, dedicou-se aos exercícios físicos e escreveu cartas para a mulher e as três filhas. “O homem não se abala”, diziam os colegas de prisão. Por esse motivo, foi um espanto quando o empreiteiro saiu da sua cela cabisbaixo e com os olhos marejados, numa manhã de setembro. A razão, descobriram mais tarde, era que naquele dia sua caçula fazia 15 anos.

Ao tratar da delação premiada, no final do ano passado, Marcelo Odebrecht negociou os benefícios pensando nas filhas. Aceitou cumprir dois anos e meio de prisão domiciliar, mas queria como contrapartida sair de casa em duas datas. O motivo é que uma das meninas vai se formar na faculdade no ano que vem e o pai quer estar na cerimônia. A Procuradoria concordou.

As negociações, porém, não foram fáceis. O empreiteiro se descontrolou várias vezes, berrou com advogados e deu murros na mesa. Cresceu a desavença com o pai, Emílio, também delator e que o visitou na prisão apenas duas vezes. Num dos poucos momentos em que Marcelo suavizou foi quando soube que outra filha havia passado no vestibular.

Marcelo Odebrecht vai sair da prisão na próxima terça-feira (19). Terá ficado 914 dias atrás das grades. Nesse tempo recebeu a visita da mulher Isabela toda semana, quase sempre acompanhada por pelo menos uma das meninas. O empreiteiro ficou preso na carceragem da Polícia Federal (PF) e no Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais, na Grande Curitiba. No CMP, as três filhas quase sempre iam juntas ver o pai na sexta-feira, o dia reservado para os presos da Lava Jato. Além de doces e refeições, entregavam para ele cartazes com paisagens e textos motivacionais. Marcelo voltava pra cela e fixava na parede.

Na PF, há limite de dois visitantes por preso, sempre às quartas-feiras. A regra era driblada vez ou outra, mas em várias ocasiões Isabela foi com apenas uma das filhas, instituindo um revezamento entre elas. No dia em que Marcelo voltará para a casa, nenhuma das filhas ou a mulher estará em Curitiba. Resolveram esperá-lo em São Paulo.

Entre os benefícios previstos no acordo firmado com a Lava Jato, o herdeiro da Odebrecht poderá receber visitas de 15 pessoas, que terão que constar de uma lista enviada por ele para o juiz de execução penal de Curitiba.

Além delas, podem ver Marcelo profissionais de saúde (médicos, dentistas e fisioterapeutas) e advogados. Não há restrição em relação a convidados de Isabela ou das três filhas do casal.

A defesa de Marcelo diz que pelo sigilo do acordo não pode comentar sobre os benefícios e que “o único compromisso atual dele é continuar contribuindo com a Justiça nos termos do seu acordo de colaboração, como reconhecidamente vem fazendo”.

Mas Marcelo parece sim ter planos. Ele tem dito que está ansioso para voltar a fazer o que costumava antes de ser atingido pela Lava Jato. Ficar em casa rodeado pelas filhas.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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