Pedro Augusto
Nem mesmo no período eleitoral, onde os problemas que vêm se arrastando já há anos costumam ser solucionados como num passe de mágica, parece resolver a situação caótica do Hospital Regional do Agreste, em Caruaru. Às vésperas das Eleições 2018, a maior unidade hospitalar pública do Interior de Pernambuco agoniza pela superlotação de pacientes, bem como pela escassez ou ausência total de medicamentos e insumos destinados à recuperação dos enfermos. Em visita ao HRA, na tarde da última terça-feira (28), a equipe de reportagem do Jornal VANGUARDA ouviu vários familiares de doentes que se encontram alojados, sejam nos quartos ou nos corredores da unidade.
De acordo com a autônoma Maria José da Silva, que reside em Brejo da Madre de Deus e está com o irmão de 16 anos internado na Ala Vermelha, tem faltado medicamentos no HRA. “O meu irmão se encontrava jogado pelos corredores e, por muita insistência nossa, acabou sendo transferido para a Ala Vermelha. Ele está com um problema sério nos rins, a medicação faltou, não deram um prazo certo, e o seu estado piorou. Tenho medo que ele venha a óbito, porque não estão prestando um atendimento adequado. Quem tem plano de saúde pode dar graças a Deus, porque, se for depender desse matadouro que se chama Regional do Agreste, é melhor estar morto. Qualquer coisa no mundo é melhor do que aqui!”, desabafou.
Outro popular que não poupou críticas aos serviços prestados pelo HRA foi Amaro Junior. De Gameleira, ele relatou o que vem acontecendo em relação ao seu pai. “O atendimento deste hospital é horrível! Os pacientes são tratados como bichos! O meu pai, por exemplo, é diabético, se encontra com uma ferida enorme em uma das pernas e o primeiro médico vascular que o atendeu queria amputá-la. Como questionei bastante, ele acabou sendo atendido por outro médico, que realizou um exame e prescreveu uma raspagem. Agora, sabe-se lá quando isso será feito, até porque o meu pai já está por aqui há mais de 15 dias e somente ontem (última segunda 27) que conseguiram uma vaga na Ala Vermelha para ele. Humilhação é o que não falta no Regional”, disse.
Tanto Amaro como Maria José preferiram não revelar os nomes de seus familiares com receio de sofrerem algum tipo de punição por parte da unidade. “Sei lá! Do jeito que as coisas andam por aqui, capaz de eles não colocarem nem mais as mãos no meu irmão”, comentou Maria. “Meu pai ainda precisa de atendimento e, se eu disser o nome dele, tenho medo de aumentar o seu sofrimento. Duvido nada quanto a este hospital!”, complementou Amaro.
Mesmo tendo um dos dedos decepados e precisando se submeter a uma pequena cirurgia, Josivalter Francisco acabou deixando a unidade na tarde da terça sem previsão de retorno. Ele cansou de esperar a realização do procedimento. “Também pudera! Cheguei aqui na quarta-feira passada (22), marcaram a minha cirurgia para dois dias depois, o que não aconteceu, e, em seguida, para esta segunda-feira (27). Aguardei durante todo este tempo e me informaram que o médico especialista não se encontrava disponível. Agora te pergunto: se comigo, que estou necessitando de uma cirurgia simples, o tratamento dado foi esse, imagine o desespero dos pacientes que estão em situação mais grave? Isso não é um hospital, é uma vergonha.”
Embora estejam passando por problemas diferentes, os três populares possuem a mesma opinião quando o assunto se refere à infraestrutura do Hospital Regional do Agreste. “Meu amigo, de início, tive de comprar atadura, gaze, algodão e esparadrapo para que meu pai pudesse ser atendido. Podem falar o que quiserem, mas quem tem parente por aqui sabe muito bem que faltam materiais e medicamentos no HRA”, criticou Amaro.
“Quando conseguem macas, ótimo, quando não, o jeito é os pacientes ficarem no chão! Sem falar em nós, acompanhantes, que às vezes não temos nem onde dormir, nem o que comer! Quem depender disso aqui, tem que rezar muito”, acrescentou Maria. “Nem com a eleição se aproximando fizeram algo para melhorar o HRA. A população vai ter de esperar por mais quanto tempo para ter uma saúde digna em Pernambuco?”, questionou Josivalter.
De acordo com os dados da Secretaria Estadual da Saúde, atualmente o Regional do Agreste vem prestando serviços, por mês, a cerca de um milhão de pessoas. A unidade é responsável por atender as demandas de pacientes de 87 municípios das microrregiões de Saúde de Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira e Serra Talhada.
Denúncias
No último dia 9 de julho, o Ministério Público de Caruaru, através da 4ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania, ingressou, junto à Justiça, a Ação Civil Pública nº 0004817-64.2018.8.17.248 contra o Governo do Estado, com o objetivo de garantir o saneamento de inúmeras irregularidades estruturais, administrativas e higiênico-sanitárias do Hospital Regional do Agreste. Até o fechamento desta matéria, ambos os envolvidos aguardavam o pronunciamento do Judiciário.
O MP recomenda aos familiares ou responsáveis pelos enfermos que, ao verificarem irregularidades, protocolem denúncia na sua sede, que fica localizada na Rua José Florêncio Filho, sem número, no Bairro Universitário. O atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, sempre do meio-dia até as 18h. Mais informações pelo telefone: 3719-9200.
Resposta
Por meio de nota, o HRA justificou que “está fazendo o máximo possível para que as cirurgias sejam realizadas nas datas programadas. Porém, a unidade prioriza os pacientes que chegam através da emergência, o que pode atrasar ou adiar alguns procedimentos. Em relação à compra de materiais como gaze, atadura e algodão por parte do paciente, a informação não procede. O hospital disponibiliza o material necessário para a realização de curativos. Sobre o paciente renal, o Jornal VANGUARDA não informou o nome do paciente, impossibilitando saber os procedimentos adotados”.
São Sebastião
No intuito de atuar como retaguarda ajudando a diminuir a grande demanda do HRA, o Governo do Estado, através da Secretaria Estadual de Saúde, realizou, na manhã da última sexta-feira (31), a reabertura do Hospital São Sebastião. De acordo com informações da pasta, ao todo foram investidos mais de R$ 10 milhões nos equipamentos, reforma e qualificação do serviço, que fica localizado na Avenida Agamenon Magalhães, no Bairro Maurício de Nassau. A unidade terá como perfil o atendimento de média e alta complexidade em clínica médica.
Como todo hospital recém-inaugurado, nos moldes do governo, o São Sebastião seguirá um cronograma de implantação e ampliação da assistência. Na última sexta, a unidade começou a funcionar com 40% da capacidade, atingindo a totalidade do funcionamento em 60 dias. Essa medida, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, favorece a estruturação da unidade e permite a integração dos serviços e dimensionamento da demanda.