Manifesto “Alcirina” pede Alckmin, Ciro e Marina contra polarização PT-Bolsonaro

Um manifesto virtual que já ultrapassou três mil assinaturas defende a união dos candidatos Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) contra a polarização em torno de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), líderes em pesquisas de intenção de voto – e, por outro lado, os mais rejeitados pelos demais eleitores. Intitulado “Alcirina”, junção de partes dos nomes dos três candidatos, o documento pede que seja formada chapa única, situada ao centro do espectro político-ideológico, a ser encabeçada por Ciro, terceiro colocado nos levantamentos.

Para o grupo, o país corre risco tanto com a possível volta do PT, alvo de um sentimento “antipetista” elevado, quanto com a eventual chegada de Bolsonaro ao poder. Em diversas ocasiões, o deputado já manifestou apreço por práticas da ditadura, como a tortura, e já disse que pretende governar com os militares.

“Bolsonaro se fortalece através do mesmo artifício usado por João Santana nas últimas campanhas do PT: a criação de um personagem para salvar o Brasil, mas que não tem condições de conduzir a mudança esperada por muitos daqueles que hoje o apoiam. Porém, o estelionato eleitoral do candidato do PSL é ainda mais perigoso: Bolsonaro defende medidas e faz declarações que ameaçam diretamente a já fragilizada democracia brasileira”, diz trecho do texto, que compõe um abaixo-assinado disponível no site de petições online change.org.

O manifesto explica que, em troca da desistência de Alckmin e Marina, Ciro incluiria em seu programa de governo propostas formalizadas pelas chapas do PSDB e da Rede no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, o candidato do PDT daria aos partidos desistentes funções estratégicas em seu eventual governo. O material já chegou ao comando de campanha dos três candidatos e, segundo o site da revista Exame, interlocutores próximos a Ciro reagiram positivamente à iniciativa.

A despeito do “antipetismo” citado no manifesto, as críticas mais incisivas são direcionadas a Bolsonaro e a ameaça à democracia que, segunda a redação do material, o ex-capitão do Exército representa. “Se eleito, ele vai apoiar e incitar discursos de ódio que colocam em risco a vida de mulheres, negros e comunidade LGBT, entre outras minorias. […] O PT, apesar de tudo, respeitou institucionalmente o resultado do impeachment da Presidente Dilma Rousseff. Bolsonaro, que indicou um vice militar, pode contestar até decisões mais banais do Congresso e já se manifestou dizendo que não aceitaria outro resultado que não o da sua eleição”, acrescenta o texto, em referência à entrevista que o deputado concedeu ao jornalista José Luiz Datena (Band) e veiculada na última sexta-feira (28).

Embora não faça referência à carta em que o ex-presidente da República (PSDB) Fernando Henrique Cardoso pede que se contenha “a marcha da insensatez”, o documento guarda semelhança com o movimento feito pelo tucano. Segundo a mensagem de FHC, que pede a união do centro contra a polarização PT-Bolsonaro, “qualquer dos polos da radicalização atual que seja vencedor terá enormes dificuldades para obter a coesão nacional suficiente e necessária para adoção das medidas que levem à superação da crise”.

Confira a íntegra do manifesto “Alcirina”:

Prezados candidatos Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin

Tempos extraordinários demandam medidas extraordinárias. Hoje, o Brasil caminha para um cenário de segundo turno no qual ninguém sairá vencedor. No momento de crise em que vivemos, não podemos arriscar ter o Brasil refém de governos que irão ampliar ainda mais a divisão e polarização do país. Presenciaremos no domingo (07) um dos eventos mais decisivos da nossa jovem democracia e precisamos, mais do que nunca, viabilizar uma terceira via que irá governar para TODOS brasileiros.

A surpreendente ascensão de Jair Bolsonaro é uma resposta à insatisfação com o rumo que o país tomou nos últimos anos em que foi administrado pelo PT: escândalos de corrupção, favorecimento de empresários amigos do partido e política econômica que levou o país a uma crise da qual ainda estamos nos recuperando. Se o descontentamento é justificado, a estratégia escolhida por muitos eleitores é equivocada e perigosa. Bolsonaro se fortalece através do mesmo artifício usado por João Santana nas últimas campanhas do PT: a criação de um personagem para salvar o Brasil, mas que não tem condições de conduzir a mudança esperada por muitos daqueles que hoje o apoiam.

Porém, o estelionato eleitoral do candidato do PSL é ainda mais perigoso: Bolsonaro defende medidas e faz declarações que ameaçam diretamente a já fragilizada democracia brasileira. Se eleito, ele vai apoiar e incitar discursos de ódio que colocam em risco a vida de mulheres, negros e comunidade LGBT, entre outras minorias. Temos que refletir sobre nossos privilégios e considerar questões que vão além da economia ou política, como direitos civis, liberdades individuais e segurança. O PT, apesar de tudo, respeitou institucionalmente o resultado do impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Bolsonaro, que indicou um vice militar, pode contestar até decisões mais banais do Congresso e já se manifestou dizendo que não aceitaria outro resultado que não o da sua eleição. Esse é um risco que NÃO podemos correr!

O mais irônico desse cenário, contudo, é que aqueles que mais se opõem ao PT são justamente os que, inadvertidamente, estão colaborando diretamente para a vitória do partido no segundo turno. Bolsonaro tem uma taxa de rejeição bem maior do que a de Haddad e, devido aos seus posicionamentos odiosos e incompetência técnica, enfrenta a oposição mais forte dentre todos candidatos. Colocar o Bolsonaro no segundo turno é eleger o PT, motivo pelo qual o partido de Lula e Haddad está poupando críticas diretas ao candidato do PSL.

No entanto, um novo cenário é possível se nos organizarmos e colocarmos nossas diferenças de lado pelo bem do país. Sabemos das diferenças ideológicas e políticas e da convicção de cada um na possibilidade de vitória de suas respectivas candidaturas. Porém dispersar a maioria dos votos da oposição ao Bolsonaro e ao PT em três candidatos é colocar em risco o futuro do país. Juntos, os senhores e a senhora somam votos para oferecerem uma terceira via no segundo turno das eleições.

Juntos, vencem Haddad e Bolsonaro, impedindo que o país tenha que escolher entre projetos de poder que irão aprofundar ainda mais a crise que vivemos. Juntos, os senhores e a senhora são a única esperança do povo brasileiro nesse momento de obscurantismo. É esta oportunidade histórica que está à frente de suas candidaturas: a união em prol de um projeto maior de Nação.

Por isso, fazemos um apelo para que os senhores e a senhora unifiquem os seus votos em uma única candidatura, sinalizando aos seus eleitores que votem no candidato escolhido. Pela conjuntura atual, sugerimos que esse candidato seja Ciro Gomes (PDT), o candidato dentre vocês que está mais bem colocado na pesquisa, conta com menor rejeição e ganha tanto de Bolsonaro quanto Haddad com folga. Em troca, pedimos que Ciro incorpore pontos das propostas de Marina Silva (REDE) e Geraldo Alckmin (PSDB), garantindo também que ambos partidos tenham uma posição de destaque em seu governo. No entanto, entendemos que, mais importante do que quem será o candidato, é a união dos senhores e da senhora na reta final das eleições.

Prezados candidatos, apelamos para o vosso patriotismo e esperamos que o histórico de serviço ao povo brasileiro que a senhora e os senhores possuem fale mais alto nesse momento decisivo para a história do país.

Eleitores brasileiros, não deixemos que o país sucumba ao ódio e fanatismo. Juntos podemos garantir uma terceira via para o Brasil!

#ElesNao #DemocraciaSim #Alcirina

Congresso em Foco

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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