Em 10 anos, Ministério da Saúde registra 633 mil casos de ISTs no Brasil

As Infecções Sexualmente Transmissíveis, as ISTs, são consideradas um problema de saúde pública e estão entre as patologias transmissíveis mais comuns, afetando a saúde e a vida das pessoas em todo o mundo. Essas doenças são causadas por mais de 30 tipos diferentes de vírus e bactérias e, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o Brasil tem apresentado uma tendência de alta nos últimos anos.

Nos últimos 10 anos, o Brasil registrou cerca de 633 mil casos de ISTs. A situação é mais dramática entre os jovens de 15 a 29 anos, responsáveis pela maior parte dos registros de contágio.

A coordenadora-geral de Vigilância das ISTs do Ministério da Saúde, Angélica Espinosa Miranda, fala mais sobre o assunto.

O que são ISTs?

“ISTs são infecções transmitidas por via sexual. Um grupo de doenças causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários… Vários agentes patológicos”.

Por que aconteceu a mudança de nomenclatura de DSTs para ISTs?

“Essa foi uma decisão do Ministério da Saúde há alguns anos. Que foi para se aproximar da nomenclatura mudada pela Organização Mundial de
Saúde (OMS). E, assim, por que mudou de doença para infecção? Porque várias dessas ‘doenças’ não têm sintomas e aí a pessoa não sabe que tem. Então, isso foi mudado para infecção porque infecção não necessariamente você precisa ter algum sintoma específico”.

Nos últimos anos, a gente tem visto um aumento dos casos de ISTs no mundo, especialmente, entre os mais jovens. Você acredita que os jovens perderam o medo do contágio?

“Porque as ISTs são doenças superantigas e começaram a ter alguma repercussão maior no início da epidemia da AIDS, que também é uma IST. E aí, (juntando) os números da epidemia da AIDS com a gravidade dos sintomas, (isso) fez com que as pessoas tivessem mais medo de pegar AIDS ou de pegar qualquer outra IST. Só que essa geração mais jovem não teve contato com aqueles casos tão pesados da AIDS do início da epidemia. E aí, você acaba sendo displicente no uso da prevenção”.

Quais são as principais incidências de ISTs no Brasil?

“A única IST que é de notificação compulsória e que a gente tem o dado no Ministério da Saúde é a sífilis, e a gente vê que ela tem crescido muito nos últimos anos. Agora têm as outras que apesar de não serem de notificação compulsória, a gente tem vários estudos e pesquisas que são feitos em várias localidades do Brasil que a gente tem uma prevalência alta. Por exemplo, a infecção pela clamídia. É uma infecção que quase não tem sintomas, mas que causa muita complicação quando não diagnosticada e tratada precocemente.

E quais são os principais desafios para o controle dessas doenças aqui no Brasil?

“O principal desafio é essa orientação da população e que ela [população] tenha consciência do risco que corre, de procurar um serviço de saúde quando ela achar que está contaminada e mesmo que ela não ache, usar o preservativo em toda relação sexual”

A senhora diria que, apesar dessa crescente propagação, esse assunto continua sendo um tabu?

“Eu acho que ele ainda continua sendo um tabu. Ninguém quer ter alguma doença, principalmente uma doença ou uma infecção que seja fornecida por via sexual. Então, ainda se tem um preconceito, um receio na hora de procurar um serviço de saúde, de se expor. Mas, isso é uma coisa que a gente deveria estar trabalhando nessa questão da educação em saúde porque é um preconceito que a gente precisa combater. Porque é uma infecção como qualquer outro problema de saúde”.

A senhora acha que pelo fato de boa parte das ISTs serem curáveis a população ignora a importância da prevenção?

“Olha eu acho mais, (está) bem mais associado à falta de informação porque, de qualquer forma, você imagina que… Vamos falar da infecção pela Chlamydia trachomatis. É uma infecção assintomática, então até 70% das mulheres que têm clamídia não têm nenhum sintoma. Então, eu não vou me preocupar e não procuro o serviço de saúde. Só que essa bactéria pode causar infertilidade. Então, essas mulheres procuram o serviço de saúde quando elas já têm algum problema de infertilidade, o que é muito mais complexo de fazer a cura e de fazer a reversão dessa infertilidade. Então assim, eu não sei se é uma despreocupação porque eu sei que é curável, ou se é por falta de conhecimento de que estou contaminado com uma Infecção Sexualmente Transmissível”.

Para aquelas pessoas que ainda estão com dúvidas ou que foram diagnosticadas e pensam em se render ou ignorar a doença. Qual a importância de se fazer o tratamento corretamente?

“A gente já está comentando esse tempo todo da importância de você, se tiver uma Infecção Sexualmente Transmissível, ter conhecimento sobre o que são essas infecções, usar preservativo para evitar ter qualquer uma dessas infecções e, uma vez que você tenha uma infecção dessas, procurar o serviço de saúde para receber um atendimento, fazer o diagnóstico, receber uma orientação do médico, em seguida, você receber o tratamento. E isso é muito importante porque você corta a cadeia de transmissão. Porque eu tenho que saber, assintomático, o que eu estou passando para outras pessoas. E, e eu tenho consciência de que eu tenho risco, de que eu posso me colocar em risco. Se eu acho que eu contraí alguma infecção, se eu procuro o serviço de saúde, eu tenho como cortar essa cadeia de transmissão, evitar que essas infecções continuem sendo passadas”.

Diante desse quadro, qual seria de fato a melhor forma de evitar o contágio?

“O uso do preservativo em toda relação sexual. E, um questionamento que muita gente faz é que às vezes é difícil para a mulher exigir o uso do preservativo, né? A gente tem o preservativo masculino e tem o preservativo feminino, os dois são distribuídos pelo Ministério da Saúde e pelos estados e municípios sem custo. E a gente tem que empoderar essas mulheres no uso do preservativo porque a única forma eficaz da gente prevenir uma IST, é a principal forma, é o uso do preservativo”.

O Brasil é uma referência mundial no combate a ISTs, principalmente HIV, e ele oferta assistência gratuita para todos os casos de incidência, mesmo assim, os números continuam aumentando. Quais são as principais estratégias e desafios em relação à oferta de medicamentos e assistência no SUS?

“A gente precisa trabalhar na prevenção, então, assim, acertando o uso do preservativo, falando dessas infecções, falando de a importância do indivíduo ter ciência dos usos, conhecer sobre essas infecções, saber que elas existem, saber que ele pode procurar o serviço de saúde e fazer a prevenção, então, é essa parte de educação e saúde. Mas a gente também tem que trabalhar uma estratégia de melhorar a assistência nos nossos serviços de saúde. Então, tem que se trabalhar com capacitação de profissionais de saúde para que eles sejam mais preparados na hora de ofertar esse tipo de tratamento. É uma coisa que o Ministério da Saúde já faz é ofertar o preservativo, é ofertar o tratamento. Junto com os estados e municípios isso já é feito. Então, a gente tem que pegar essa cadeia toda. E pegar uma cadeia de prevenção para as pessoas não se contaminarem com uma IST”.

O Brasil oferece tratamento para todas as ISTs nas unidades do Sistema Único de Saúde, o SUS. Caso note algum sinal suspeito ou sintoma, procure o serviço de saúde para diagnóstico e início do protocolo de tratamento. Em boa parte dos casos, o cuidado médico pode levar à cura. Nos casos de doenças crônicas, como o HIV, não existe cura, mas o tratamento melhora a qualidade de vida da pessoa infectada e corta a cadeia de transmissão da doença.

A camisinha é o único método que previne contra todas as ISTs. Sem camisinha, você assume o risco. Use camisinha e se proteja das ISTs. Para mais informações, acesse: saúde.gov.br/ist.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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