“O importante é fazer a caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus”. A mensagem de clamor por ações efetivas de olhar ao próximo é ensinamento deixado pela primeira brasileira canonizada, Santa Dulce dos Pobres. Com base no testemunho de vida da freira baiana, que dedicou sua vida aos pobres e doentes, a Campanha da Fraternidade de 2020 propõe um convite à sociedade para superar a indiferença em busca do bem coletivo.
Na cerimônia de lançamento da proposta, ocorrida nesta quarta-feira (26) na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a sobrinha da santa, Maria Rita Pontes, não conseguiu conter a emoção. “Sigam o testemunho de Santa Dulce e colaborem para transformar a vida de tanta gente que precisa do cuidado, carinho e amor”, pediu Maria Rita, que atua como superintendente das obras sociais fundadas pela tia, na Bahia.
O recado foi direcionado inclusive para as crianças. “Ela (irmã Dulce) começou a servir aos 6 anos. Cultivar o amor ao próximo em forma de obras desde pequeno dará frutos maravilhosos e necessários para uma humanidade próspera”, completou.
Ainda jovem, a freira baiana conhecida como “Anjo bom da Bahia”, ingressou na vida religiosa e começou a exercer um chamado de caridade, servindo a pobres e doentes. A persistência e a delicadeza foram qualidades essenciais para a criação de um dos maiores e mais respeitados trabalhos filantrópicos do país: as Obras Sociais da Irmã Dulce (Osid).
As raízes da entidade datam de 1949, quando, sem ter para onde ir com 70 doentes, a religiosa pediu autorização à sua superiora para abrigar os enfermos em um galinheiro, situado ao lado do Convento Santo Antônio. O episódio fez surgir a tradição de que o maior hospital da Bahia nasceu a partir de um simples galinheiro.
Amor em obras
O ato de cuidar para preservar a vida é alvo da campanha. O lema “Fraternidade e vida: dom e compaixão” se debruça em problemas contemporâneos tais como “as mortes nas ruas, nas macas de hospitais, por balas perdidas, fome, desemprego, ausência de moradia, inexistência de educação para todos, devastação dos campos e reservas indígenas, índices crescentes de suicídio”, listou o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella.
Para ele, a recorrência dessas questões tem colocado em risco o real valor da vida. “A campanha deste ano quer fazer um alerta para duas atitudes a serem combatidas: a indiferença e a crença de que a morte só é vencida pela própria morte”, explicou. Esta é a 56ª edição da Campanha da Fraternidade, cujo objetivo é fomentar a evangelização de forma a atender necessidades contemporâneas.
Durante o ano, sobretudo no período quaresmal, a Igreja fomenta a participação dos fiéis e da comunidade em geral, discute o tema e propõe soluções. As arrecadações com ofertas direcionadas à campanha são enviadas ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), que distribui a verba entre projetos que fortaleçam as missões. É o que explica o coordenador executivo de campanhas, padre Patriky Samuel Batista. “A campanha do ano passado direcionou R$ 3 milhões a 238 projetos selecionados. Com o auxílio, a ideia é que essas ações se desenvolvam e possam gerar uma nova rede de ajuda”, disse.
Mensagem do Papa Francisco em ocasião ao lançamento da Campanha da Fraternidade 2020
Por intercessão de Santa Dulce dos Pobres, que tive a alegria de canonizar no passado mês de outubro e que foi apresentada pelos Bispos do Brasil como modelo para todos os que veem a dor do próximo, sentem compaixão e cuidam, rogo ao Deus de Misericórdia que a Quaresma e a Campanha da Fraternidade, inseparavelmente vividas, sejam para todo o Brasil um tempo em que se fortaleça o valor da vida como dom e compromisso.
Correio Braziliense