As eleições de novembro se aproximam e os municípios de maior eleitorado de Pernambuco apresentam cenários diferentes. Enquanto cidades como Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana, e Petrolina, no Sertão, indicam, ao menos até aqui, um caminho factível para a reeleição dos atuais prefeitos, outras como o Recife transitam em um caminho incerto, ainda sem que todos os postulantes estejam definidos e com diversos nomes que, em tese, podem chegar ao segundo turno.
Para a cientista política Priscila Lapa, as eleições municipais nos maiores municípios do Estado serão “um grande teste para o predomínio do PSB”. “Esse surgimento de outras forças em redutos maiores é uma sinalização de que a hegemonia do PSB pode ser abalada”, afirma Priscila, enfatizando que em Jaboatão, Caruaru, Petrolina e Olinda os socialistas colhem hoje “os erros estratégicos de 2016”. Ela entende que, apesar de algumas cidades mostrarem cenários um pouco mais claros, a tendência é de um pleito disputado. “Temos um cenário de crise, falta de recursos, descrédito na política, endividamento das prefeituras e pouca visibilidade nas ruas (por conta da pandemia)”, justifica.
O cientista político Arthur Leandro sinaliza que os principais municípios pernambucanos estão em momentos distintos. Enquanto Olinda, Jaboatão, Caruaru e Petrolina poderão reeleger seus gestores, o Recife mudará a gestão após dois mandatos de Geraldo Julio (PSB). “O prefeito fazer o primeiro mandato e ser reeleito é o movimento comum, o momento de mudança normalmente ocorre quando o mandatário encerra o segundo mandato e precisa usar o capital político para lançar o sucessor. É o momento no qual a oposição tem mais chance de se organizar para enfrentar uma disputa com o grupo político já estabelecido”, enfatiza.
Na Capital, ao que tudo indica, a disputa será pulverizada, tanto na esquerda, como na direita. O PSB aposta no deputado federal João Campos para seguir no terceiro mandato consecutivo à frente do Executivo municipal. Para viabilizar esse caminho tentou tornar-se a única candidatura do campo da esquerda, porém não obteve sucesso na empreitada. Isto porque, para 2020, o diretório nacional do PT resolveu bancar uma candidatura própria com a deputada federal Marília Arraes na cabeça de chapa. Na última semana, inclusive, a presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann, e o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, evidenciaram a cisão completa entre as duas legendas, com Siqueira afirmando que as siglas não estarão juntas “em lugar nenhum” e com Gleisi dizendo que o PSB só pensa em unidade da esquerda quando há apoio aos socialistas na disputa pela PCR.
Outra frente trabalhada pelo PSB é o PDT. A articulação da aliança ganhou novos capítulos com o lançamento da pré-candidatura do deputado federal Túlio Gadelha, endossada pelo presidente nacional da legenda, Carlos Lupi. Ocorre que Lupi também apoiou a pré-candidatura de Isabella de Roldão, ex-vereadora do Recife e aliada do deputado federal Wolney Queiroz, presidente estadual do PDT e partidário da aliança com o PSB. Com isso, portanto, a legenda caminha para um bate chapa entre Túlio e Isabella, mas ainda com a possibilidade real do PDT compor o palanque socialista. “Sem a aliança com o PT ocorre a divisão de votos, são segmentos parecidos do eleitorado, ambos (Marília e João) são jovens e tem elementos competitivos semelhantes. Isso pode frustrar um pouco os planos do PSB”, opina Priscila.
Ela acrescenta que as candidaturas de oposição também estão divididas. A delegada Patrícia Domingos (Podemos), que dialogava visando uma aliança com o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania) e com o ex-ministro Mendonça Filho (DEM), decidiu confirmar que será candidata em um movimento que definiu como “irrevogável”. Daniel e Mendonça seguem em pré-campanha, mas ainda sem a definição de uma estratégia: múltiplas candidaturas ou coligação.
A ala mais próxima ideologicamente do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também se movimenta. O deputado estadual Marco Aurélio (PRTB) esteve em São Paulo, na semana passada, com o presidente nacional da sigla, Levy Fidelix, para confirmar a sua pré-candidatura à PCR. Do partido do vice-presidente General Mourão, Marco Aurélio tem declarado que fará de tudo para ter o endosso de Bolsonaro ao seu nome. Outro que pretende ter o posto de “candidato de Bolsonaro” é o deputado estadual Alberto Feitosa, que meses atrás filiou-se ao PSC, e tem articulado o apoio de militantes bolsonaristas do Recife .
Busca pela reeleição
Com a indefinição dos adversários, a reeleição do prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira (PL) parece ser, até o momento, o caminho natural para novembro. O ex-deputado Silvio Costa (Republicanos), nome mais conhecido da oposição, desistiu do páreo no final de julho, deixando o atual prefeito ainda mais fortalecido. Além disso, vereadores do partido de Silvio declararam apoio à reeleição de Ferreira. Na última semana, o MDB e o PSB confirmaram aliança no município, no principal movimento oposicionista até o momento. Dessa forma, as legendas estarão juntas no palanque do pré-candidato Daniel Alves (MDB).
“É uma aliança por exclusão. O grupo dos Ferreira é poderoso na estrutura do Estado e que briga pela manutenção do poder em Jaboatão. Então esse arranjo é diferente de outros municípios, como Petrolina, basicamente pela posiçaõ do MDB de Recife de seguir na base do PSB, para candidatura de João Campos, então a troca de gentilezas acontece. Isso também evidencia a busca por protagonismo do MDB pernambucano. O grupo de Petrolina é ligado à liderança do senador Fernando Bezerra Coelho, enquanto o resto do estado tem a liderança histórica ligada a Jarbas e Raul Henry”, avalia Arthur Leandro.
Em Petrolina, no Sertão, o cenário é similar. Miguel Coelho (MDB) exalta que o município é o que mais conta com obras públicas no interior do Nordeste, muitas delas realizadas por meio de parcerias com o governo Bolsonaro. Lá, o PSB não deve ter candidato próprio, uma vez que Lucas Ramos, eleito deputado estadual em 2018, assumiu a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo de Pernambuco. O governador Paulo Câmara (PSB), inclusive, esteve reunido com o ex-prefeito de Petrolina Julio Lossio (PSD), que pode receber o apoio do Palácio do Campos das Princesas para disputar com Miguel Coelho.
No município sertanejo, o ex-deputado Odacy Amorim (PT) também pleiteia o apoio do PSB, porém, com a ideia do PT nacional de ter candidatura própria no Recife, a articulação com os socialistas está praticamente descartada. Odacy deve ser candidato e focar na aliança de Miguel Coelho com Bolsonaro como forma de enfraquecer o atual prefeito. Para Arthur Leandro, tanto em Petrolina, como em Jaboatão, a lógica, até aqui, é de reeleição. “Não há sinalização até o momento de uma reviravolta dessa tendência. A disputa pela reeleição de dois prefeitos que têm liderança política e jogam em condições favoráveis”, frisa Arthur Leandro.
Em Caruaru, a prefeita Raquel Lyra (PSDB) tem se mobilizado para seguir na gestão municipal. O grande adversário da tucana ainda não foi anunciado e virá com a benção do de Paulo Câmara. “Vejo Raquel Lyra com grande chance de reeleição, apesar de não ser um momento fácil para os gestores, ela tem um grupo político consolidado”, disse Lapa. Além de Raquel, o pleito em Caruaru poderá ter o deputado estadual José Queiroz (PDT), que já admitiu que a situação da Capital entre seu partido e o PSB não afetará sua candidatura, além de estar conversando com o PT e o PCdoB para unir as forças populares do município na sua majoritária; do deputado estadual Tony Gel (MDB) e do deputado estadual delegado Erick Lessa (PP), que também colocaram seus nomes no páreo.
Já em Olinda, enquanto o Professor Lupércio (Solidariedade) trabalha para se reeleger, o PCdoB tenta voltar ao comando do município com o deputado estadual João Paulo Lima. Além deles, correndo por fora, o empresário Celso Muniz, do MDB, se articula para disputa. Muniz, aliás, recebeu o apoio do PTB. “Em 2016, a eleição de Olinda foi claramente de mudança, tanto que Luciana Santos ficou numa péssima colocação. Agora em 2020 acredito que a eleição será disputada e Lupércio precisa consolidar esse sentimento de que ele representa a mudança”, aponta Priscila Lapa.
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