Artigo I Quem está pronto para a revolução bancária?

or Leo Monte, Diretor de Inovação da Sinqia, principal provedor de tecnologia para o mercado financeiro

O sistema bancário é um dos setores de maior importância no contexto mundial, responsável por viabilizar o crédito para empreendedores e também pela proteção de risco. Apesar de apresentar um dos sistemas mais complexos e desenvolvidos do mundo, o Brasil ainda encontra desafios de infraestrutura tecnológica. Há dois anos, no entanto, as conversas sobre open banking começaram a apontar que, de fato, estamos prestes a dar um importante passo na democratização dos serviços, agregando segurança e facilidades para o consumidor, ampliando a concorrência e mudando a forma de relacionamento entre clientes e instituições, tanto as financeiras e como não financeiras.

Ao permitir a integração de aplicativos com os serviços por meio da abertura de interfaces de programação de aplicativos, desenvolvedores de outras empresas de tecnologia serão capazes de criar diversas aplicações e serviços, focadas nas experiências e na forma como os clientes interagem com seu banco. É um passo e tanto. No entanto, essa mudança esperada está impregnada de dúvidas. E não só dos clientes que, em sua maioria, ainda não sabem exatamente o que é o tal do open banking, mas também dos agentes das instituições bancárias.

Como diretor de inovação de uma empresa provedora de tecnologia para o mercado financeiro tenho percebido uma certa angústia dos players. Ninguém tem dúvidas de que esta será uma transformação, um um marco, mas muitos me perguntam que tipo de estratégia devem entregar, em que base tecnológica. Basicamente, eles estão centrados em duas dúvidas: Como posso me preparar? Como ser protagonista? Como entregar a melhor experiência?

Enquanto o Banco Central ouve as partes interessadas para definir o tamanho desse novo impulso digital que o país dará, tenho recomendado que estudem mais os mercados estrangeiros. Certamente podemos replicar aqui alguns modelos e aprender com o Reino Unido ou mesmo com os países do leste asiático, com a Austrália ou o México. Quais os erros e acertos de cada um deles?

Fato é que, para fazer parte deste novo jogo, os bancos vão precisar se movimentar, sair da zona de conforto, olhar outros cenários, construir novos modelos de remuneração, de rentabilidade e até mesmo entender como essa rentabilidade será repartida. Temos uma bela oportunidade para criar soluções inovadoras, que serão benéficas e ágeis, mas que também precisam ser simples. Nesse novo paradigma, a competição será mais agressiva e com uma quantidade de agentes maior. Ganhará mercado aqueles que apresentarem as melhores soluções tecnológicas com foco centralizado na experiência do usuários e na economia ou entrega de melhores serviços com menores taxas. Como ficará o novo bolo do sistema bancário, me perguntam.

Por hora, acredito que as maiores fatias devem seguir mesmo com as instituições financeiras tradicionais, que já possuem estrutura para abraçar este novo momento de abertura e de inovação. Praticamente todas já fecharam parcerias ou adquiriram startups e fintechs acostumadas a lidar com a rápida mudança do mercado e com um olhar mais atento aos desejos dos clientes. Mas até quando será assim?

A abertura desse mercado pode atrair as bigtechs como Facebook, Google e Alibaba. Com grande volume de usuários e dados sobre eles, essas gigantes da tecnologia sabem usar essas informações a seu favor e com certeza apresentam um risco para essa concorrência mais segmentada no campo financeiro. Para citar um exemplo, temos a atual briga do Facebook para o lançamento no Whatsapp Pay que, apesar de limitado, sai na frente por já contar com aproximadamente 77 milhões de usuários no Brasil.

Também não falta apetite para os players de médio e pequeno porte, que vão apostar no novo para buscar capilaridade. E há espaço real para todo mundo. Pela primeira vez, a vantagem competitiva não estará somente no capital. Sairá na frente aquele que entender melhor seu cliente e antecipar sua demanda através de integrações. É uma oportunidade e tanto para inclusão dos desbancarizados e a pavimentação definitiva do caminho para iniciativas como o PIX e SandBox. O futuro é logo ali.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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