Eleições serão a tônica do ano de 2022

Não há como pensar no que 2022 reserva na política sem pensar nas eleições. Os próximos dez meses serão marcados por fatos que, via de regra, repercutirão nas urnas. No Palácio do Planalto, o ano promete muita pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentará vencer os desafios que vão se impor na reta final do seu mandato em diversas frentes. Cada vez mais ameaçado pelo retorno do ex-presidente Lula (PT) e envolto em um cenário de crises que diminuem, mas não acabam, o mandatário vai precisar conciliar a gestão com a busca por votos.

O desafio da gestão

Para Priscila Lapa, cientista política e professora, o último ano do mandato do presidente e, consequentemente, da sua candidatura à reeleição, pode ser afetado pela pandemia, com questões como uma eventual terceira onda e a continuação da estratégia de “politização da vacinação”, como ocorre com as doses destinadas às crianças.

Ela frisa que toda crise gerada pela pandemia deságua na crise econômica, que exige grande capacidade de gestão. “São variáveis que não se separam, questões atreladas. E quando há o empobrecimento da população, perda da renda, inflação, é preciso acenar pros dois lados, acender uma vela pro mercado, pros investidores, mas, ao mesmo tempo, acenar para a população na base da pirâmide. O desafio de mesclar as duas coisas não é algo trivial e Bolsonaro não é exatamente habilidoso para lidar com tudo isso”, afirma Priscila Lapa.

O desafio do parlamento
Em um provável cenário de instabilidade sanitária e, sobretudo, econômica, o cientista político e professor Antônio Lucena crê que o Legislativo será outro desafio do presidente para 2022, apesar do alinhamento que o chefe do Executivo mantém com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

“Se a economia não tiver um crescimento relativamente robusto nos primeiros trimestres, isso pode ser fatal para a popularidade de Bolsonaro. Com a popularidade em baixa, o Centrão, que é muito fisiológico, sempre mira muito as eleições, pode começar a se descolar do governo, já antevendo uma iminente derrota.

Se isso acontecer, o presidente Jair Bolsonaro terá extraordinária dificuldade de aprovar as coisas, ficará um governo manco”, acrescenta o cientista político.

A polarização desejada

É nesse cenário que o presidente deve chegar às eleições. No recorte de momento, de acordo com as pesquisas mais recentes, a luta de Bolsonaro é para tirar de Lula a chance de vencer no primeiro turno e, com isso, disputar com o ex-presidente petista a preferência do eleitor no segundo turno. Antônio Lucena, porém, pondera que ainda há muito a acontecer ao longo dos próximos 10 meses.

“É sempre importante ressaltar que isso (Lula muito à frente) é uma fotografia de momento. A gente tem que tirar várias fotografias para ver tendência”, frisa. Em meio ao cenário incerto, algo que se aproxima da certeza, na avaliação de Lucena, é a preferência de Lula e Bolsonaro por um grande número de postulantes na disputa deste ano. “O jogo de forças se desenha ao longo do tempo, mas quanto maior for a multiplicidade de candidatos, maior é a tendência de ter a polarização entre Lula e Bolsonaro. Isso favorece os dois de estarem no segundo turno, por conta do eleitorado consolidado que eles têm”, explica.

Terceira via

Lucena considera que o provável terceiro nome para a disputa presidencial seria o do ex-juiz Sergio Moro, no entanto, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro enfrenta resistência significativa de amplos espectros do eleitorado.

“Moro dificilmente vai abarcar o eleitorado da esquerda, que considera ele um perseguidor de Lula, e da extrema direita, que está com Bolsonaro e crê que Moro o abandonou.”

O exemplo de Moro também pode ser levado aos demais postulantes da desejada “terceira via”, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), a senadora Simone Tebet (MDB) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD). No entendimento de Priscila Lapa, qualquer um deles terá que “apontar a Lula e Bolsonaro e dizer como se posiciona diante deles”, caso queira se viabilizar.

“Tem espaço para crescimento de um candidato entre uma coisa e outra, mas isso não foge da polarização, pois esse candidato continuará tendo como referência Lula e Bolsonaro e isso por si só constitui um grande desafio. Será uma eleição comparativa”, sublinha Priscila.

Hegemonia
Em Pernambuco, o cenário de momento parece indicar um novo casamento entre o PSB e o PT e a oposição dividida em, ao menos, três candidaturas principais na disputa pelo Governo do Estado: Anderson Ferreira (PL), Miguel Coelho (MDB) e Raquel Lyra (PSDB). Pelo lado socialista, o debate é sobre o perfil do candidato que tentará ser o sucessor do governador Paulo Câmara. Há diversos nomes especulados, seja do perfil “técnico”, caso dos secretários Décio Padilha, Fernandha Batista e José Neto; seja do perfil político, como os deputados Danilo Cabral e Tadeu Alencar.

Para o cientista político e professor, Arthur Leandro, o momento atual não é propício para o “recrutamento” de um nome do secretariado. “Não estamos numa época de manutenção ou aprofundamento de modelo, mas de transição. O governo vai precisar lançar um nome para mostrar à opinião pública os resultados aferidos ao longo dos últimos anos, isso num contexto de crise”, opina.

A principal frente de negociação dos socialistas é com o PT. Em tese, ter o “candidato de Lula” é um trunfo para as eleições deste ano, em Pernambuco. “Não sei se será suficiente para garantir uma vitória do PSB, mas Lula é maior que o PT e que a esquerda em Pernambuco, é natural o PSB querer estar ao lado dele”, aponta Leandro.

Diversas vias
Pelo lado da oposição, a unidade precisa vir, mas no 2º turno, pontua o professor. “De maneira geral, a oposição lançar mais de um nome no 1º turno costuma ser uma boa estratégia. No 1º turno, o eleitor tende a escolher aquele que atende melhor suas expectativas, então quanto mais nomes, a tendência é que o número de votos válidos cresça e a oposição seja beneficiada”. Ele sublinha que o grande desafio do bloco será se viabilizar em “uma eleição que estará muito atenta à disputa nacional”.

Raquel Lyra, por exemplo, terá o PSDB com João Doria como candidato à Presidência, alguém que, até o momento, não parece ter grandes possibilidades de votos, sobretudo em Pernambuco. Já Anderson Ferreira, do PL de Bolsonaro, será o palanque do presidente no Estado, ao que tudo indica.

“A questão que se coloca é como Anderson Ferreora conseguiria construir um palanque estadual viável, já que o fator Bolsonaro numa disputa em Pernambuco, contra Lula, é uma aposta muito arriscada”, diz Arthur Leandro. Ele diz que é necessário esperar para saber como Miguel Coelho se comportará em relação ao cenário nacional, após a saída do senador Fernando Bezerra Coelho do posto de líder do governo Bolsonaro no Senado.

Folhape

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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