Vez ou outra, o noticiário internacional informa, sempre com alvoroço e espanto, que um homem ou uma mulher, em país perdido mundo afora, é o mais velho registrado. Geralmente, vem com a chancela do Guinness World Records (o antigo Guinness Book). Hoje, eles registram que a pessoa mais velha do planeta é a espanhola Maria Branyas Morera, que fez 116 anos em março. Recentemente, descobriu-se uma brasileira, do Rio de Janeiro, com 118, ainda não verificada pelo portal: Deolira Gliceria Pedro da Silva. As duas, entretanto, são “mocinhas” perto do pernambucano Domingos Ferreira de Lima, que mora no Ibura, na Zona Sul do Recife, e completou 119 anos em janeiro.
Lúcido e simpático, Lima é torcedor do Sport Clube do Recife, fã de uma boa galinha guisada e disse que adora conversar, apesar de parte de sua audição já ter sido comprometida pela idade. Católico, garantiu ser um homem de “muita fé”, que sempre faz suas preces antes de dormir, ao acordar e antes de cada refeição. “Tenho muita fé em Deus e bem-querer ao próximo”, disse, com fala mansa e sabedoria de quem atravessou o século. Essa é, aliás, a resposta para a pergunta que sempre lhe fazem: como viver tanto?
Dono de uma saúde de ferro, o idoso, nascido em Bonito, no Agreste, em 1904, ainda consegue manter uma rotina de atividades que faz sozinho: tomar banho, trocar de roupa, alimentar-se. A saúde é acompanhada por familiares, que o levam para fazer exames regularmente. Todas as taxas estão perfeitas. A única queixa é o canal da uretra, que ficou estreito devido à idade.
Domingos Ferreira de Lima tem quatro filhas e 19 netos, todos admiradores de sua calma e paciência. “Sempre foi assim, desde quando nossa mãe ainda era viva. Nunca vimos pai brigando com ela ou com grosseria com quem quer que seja”, disse Érica Ferreira, uma das filhas que ajudam o pai em sua longevidade invejável.
Cuidadosas, as filhas fizeram questão de mostrar à reportagem o cartão de vacinação dele, com todas as doses em dia. “Nós cuidamos dele com muito amor, como um tesouro. Damos toda a atenção que ele merece. Não nos dá trabalho em nada. Acorda e toma seu café da manhã. Depois, almoça e vai tirar o cochilo da tarde”, continuou Érica, explicando os rituais do pai. A alimentação, contudo, está regulada há algum tempo. Não come doce, frituras ou comida salgada. Preocupa-se também com seu peso. Vaidoso, quer se manter magro.
Não foi por falta de esforço que ele chegou aos 119 anos de idade. O pernambucano trabalhou duro como cortador da cana. Também foi açougueiro. Desde que ficou viúvo, não quis se casar novamente. “Dá muito trabalho”, afirmou.
“A idade dele assusta sempre que alguém fica sabendo. Há sempre questionamentos. Este mês, por exemplo, ocorreu algo inusitado. A Receita Federal cancelou seu CPF. A família, então, teve de levá-lo pessoalmente para mostrar que, sim, contra todas as probabilidades, ele estava vivo do que nunca. A burocracia teve de se dobrar ao tempo: o documento foi revalidado. A família contou que não tem como procurar o Guinness para confirmar a idade de Domingos Ferreira de Lima. De qualquer forma, ele ainda é um dos muitos “mais velhos” perdidos pelo famoso livro. Em Goiás, por exemplo, há um concorrente e tanto: Andrelino Vieira da Silva, que fez, segundo seus documentos, 122 anos, em fevereiro, com um bolo temático “Terror do INSS”. O Guinness também o ignora.