Ex-homem forte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um dos fundadores do PT, José Dirceu defendeu reorganização do partido enquanto força política para fazer frente à direita no cenário polarizado vivido no país. O ex-ministro-chefe da Casa Civil do petista ainda fez crítica velada à postura da presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, sobre decisões tomadas por Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda.
— Nesses anos, houve uma mudança social e cultural enorme por causa do neopentecostal, do fundamentalismo religioso, por causa da força dos partidos de direita. E nós recuamos, a esquerda como um todo — afirmou Dirceu, em entrevista ao podcast Pod13 — PT Bahia, compartilhada no último sábado. — Hoje, o país está muito politizado, e a direita está ganhando essa disputa político-eleitoral.
Na avaliação do ex-dirigente petista, a prioridade da legenda deve ser a reorganização do partido para retomar a expressão política que teria se perdido nos últimos anos. E esse movimento, para Dirceu, deve vir também da sustentação dada ao governo pelo PT, sobretudo em medidas anunciadas e defendidas pela gestão Lula, tecendo crítica indireta a Gleisi.
— Discutir, debater dentro da bancada, dentro do ministério, dentro do partido e com o governo, tudo bem. Mas quando o governo apresenta uma política, nosso papel é apoiar. No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para todas as medidas que ele queria, porque transformam o déficit zero em um mal menor.
Desde o começo do terceiro governo Lula, a presidente do PT já questionou medidas divulgadas e endossadas pelo ministro da Fazenda. Em episódio mais recente, em dezembro passado, os dois divergiram quanto à necessidade de déficit fiscal para o crescimento econômico. Enquanto Gleisi foi na contramão de Haddad e criticou a meta de déficit zero, uma das principais bandeiras do ministro, o petista afirmou que não há uma relação direta entre o déficit e o crescimento do PIB.
Em abril, ela criticou o alto escalão de Haddad por alterações no piso de gastos com saúde e educação, defendidos à época pelo secretário do Tesouro, Rogério Ceron. Ao GLOBO, ela afirmou que Haddad “nunca falou sobre isso conosco”, fazendo referência ao integrante da equipe econômica, e disse esperar que “o debate não seja encaminhado dessa forma”.
O Globo