Por Luiz Augusto de Almeida
Mesmo em meio a uma das mais graves crises da economia nacional, o brasileiro não perde a sua tradicional credibilidade nos imóveis como investimento seguro, rentável e confiável a longo prazo. Num contexto em que o cenário recessivo, as dificuldades de crédito e as altas taxas de juros conspiram contra a aquisição direta de unidades novas, que tem caído em relação a 2014, as pessoas encontram alternativas para manter aceso o sonho da casa própria.
É o que revelam as estatísticas que acabam de ser divulgadas pela Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios): as vendas de novas cotas relativas a imóveis, com 179,6 mil ingressos, cresceram 47% no acumulado de janeiro a setembro, na comparação com o mesmo período de 2014, quando o número foi de 122,2 mil.
Considerando todos os indicadores e o aprofundamento do cenário recessivo, é realmente notável, na presente conjuntura político-econômica do Brasil, o crescimento de 47% nas vendas de novas cotas de consórcios de imóveis. Fica evidente que o desejo dos brasileiros de comprar uma casa ou apartamento para residência ou como investimento é mais forte do que a crise. Temeroso ante as taxas de juros e as entradas necessárias no financiamento de um imóvel para aquisição direta, o comprador busca a alternativa do consórcio para ratificar sua crença na solidez do tijolo e do concreto como garantia para seu patrimônio.
O consórcio imobiliário tem suas vantagens e desvantagens. Se o interessado em comprar um imóvel tiver alguma capitalização, o consórcio pode ser uma boa opção. Com um bom lance, pode-se obter a carta de crédito rapidamente, adquirir o imóvel e passar a pagar o saldo, sem a incidência dos juros escorchantes que vemos hoje no mercado. Além disso, com o dinheiro na mão, diante dos altos estoques do mercado imobiliário, o consorciado tem grandes chances de fazer bons negócios.
Como desvantagens, podemos citar as oscilações de preços. Se o valor subir muito mais do que o INCC, índice que corrige as prestações, a carta de crédito não alcançará o montante do imóvel pretendido e o interessado poderá ver frustrado seu objetivo. Além disso, o consorciado não terá, durante o prazo dos pagamentos que fizer no consórcio, remuneração do dinheiro que estará poupando. Ou seja, seu dinheiro não será remunerado, com juros, como se tivesse aplicado em um CDB de algum banco. Por fim, se não tiver capital para fazer um lance e contar apenas com a sorte, o consorciado poderá demorar para ser sorteado e ter o imóvel.
Independentemente se o consórcio é ou não a melhor solução para se adquirir um imóvel, seu crescimento num contexto econômico incerto revela uma única certeza: o nosso desejo de conquistar o sonho da casa própria. Faz-nos perceber que, no inconsciente coletivo do brasileiro, o imóvel está representado pelo símbolo da segurança.
A situação do crescimento dos consórcios imobiliários nos leva a associar o imóvel a outras instituições nacionais no ranking da credibilidade. Quase simultaneamente à apresentação do citado estudo sobre os consórcios, que mostrou a confiança nas casas e apartamentos como um seguro de longo prazo, pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas apontou que as Forças Armadas, a Igreja Católica e o Ministério Público, nessa ordem, são as organizações mais confiáveis do País.
Os três últimos colocados no estudo são o Governo Federal, o Congresso Nacional e os partidos políticos. Isso é péssimo, pois se a confiança da população nas instituições democráticas e republicanas fosse mais elevada, certamente teríamos um quadro econômico muito mais favorável, não só para o ramo imobiliário, como para todos os setores produtivos do País.