Pedro Augusto
A quarta rebelião registrada somente neste ano acabou com um saldo avassalador na Funase (Fundação de Atendimento Socioeducativo), com sede em Caruaru. Desta vez, além de provocar estragos na estrutura física, os rebelados ainda tiveram tempo de assassinar sete reeducandos que também se encontravam cumprindo medidas socioeducativas na unidade. De acordo com informações repassadas pela Polícia Militar, o motim teria sido iniciado por volta das 21h do último domingo (30), mais precisamente nas dependências do Case (Centro de Atendimento Socioeducativo), que integra a fundação. O tumulto, segundo também a polícia, só teria sido controlado na madrugada já da segunda-feira (1º).
Para isso, diversas equipes da PM dentre elas do Gati, do Bepi e da Rocam foram empregadas bem como equipes do Corpo de Bombeiros, do Samu e do Instituto de Criminalística também estiveram operando no local. Tão logo adentraram na área interna da unidade, os policiais constataram o cenário de destruição. Além do fogo em larga proporção, proveniente da queima de colchões e demais objetos, os efetivos ainda verificaram várias portas quebradas e móveis estragados. Assim que as chamas foram contidas e os rebelados já controlados, a Polícia Militar acabou contabilizando sete mortes na unidade.
Sem ficar para trás em nada em relação às cenas de um “belo” filme de terror, as vítimas se encontravam em estados deploráveis principalmente no módulo dois do Centro Socioeducativo. Dos sete jovens mortos, seis foram queimados e um mutilado. Partes do corpo desta última vítima acabaram sendo encontradas em locais distintos da unidade. Além de ter as mãos decepadas, o jovem mutilado também apresentava afundamentos no crânio. Seu corpo, assim como dos demais mortos, estiveram passando por levantamento através da equipe do IC. Em seguida, foram encaminhados para os IMLs do Recife (quatro) e Caruaru (três).
Desesperadas com a confirmação do motim, diversas mães de reeducandos estiveram aglomerando a entrada da Funase com o objetivo de obter notícias. Dentre elas encontrava-se a dona de casa Lívia Aleixo. “Estamos aqui todas desesperadas à procura de notícias de nossos filhos. Até agora nada nos foi informado e a angústia só está aumentando. Somos mães e não podemos sair daqui sem saber de nada”. Ela, assim como as demais mães, só tiveram a confirmação dos nomes das vítimas fatais na tarde da segunda-feira. Os nomes não foram revelados para a imprensa, segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social da Criança e do Adolescente, por questões de segurança.
Ainda no texto divulgado, a pasta estadual confirmou que brigas entre grupos rivais teriam causado a rebelião com a ocorrência também das mortes. Entretanto, de qualquer forma, a corregedoria da unidade informou que abrirá sindicância para apurar o motim. Inicialmente, a sindicância possui o prazo de 20 dias para ser concluída, porém poderá ser estendida por mais 20 caso seja necessário. A fundação ainda informou na nota que está identificando os adolescentes responsáveis pelos assassinatos e pelos danos ao patrimônio e tão logo eles sejam descobertos serão conduzidos para a Delegacia de Caruaru, que dará prosseguimento às investigações.
Alguns deles, inclusive, já passaram por exames de corpo de delito também na tarde da segunda, no IML local. Somados às sete vítimas fatais, quatro adolescentes acabaram ficando feridos levemente na rebelião. Eles foram conduzidos no mesmo período para o Hospital Regional do Agreste, em Caruaru, onde passaram por atendimento e já retornaram para a unidade. Até o fechamento desta matéria, o clima encontrava-se tranqüilo na fundação. Longe de suas dependências, representantes da OAB de Caruaru, do Condica (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) e demais entidades estiveram se reunindo menos de 24 horas depois do motim, na sede do Conselho Tutelar de Caruaru.
Em pauta, a discussão de estratégias que possibilitem um maior monitoramento no tocante a situação da unidade. “Estamos aqui hoje (última segunda) oficializando os órgãos ligados à Justiça com o objetivo de definirmos como iremos proceder para tratarmos dessas questões ligadas à Funase de Caruaru. Há mais de um ano que temos solicitado o fechamento deste complexo haja vista que ele se encontra superlotado, ou seja, comportando pouco mais do que o dobro de reeducandos para qual foi construído, mas até agora o Governo do Estado não tomou uma providência maior sobre este problema”, destacou a presidente do Condica, Verônica Alves.
Mudança
No intuito de conter essa onda de rebeliões que tem sido computada ao longo do ano não só na Capital do Agreste, mas também em vários municípios de Pernambuco, o governador do Estado, Paulo Câmara, decidiu fazer a troca de comando da Funase. Moacir Carneiro Leão Filho foi substituído pelo advogado Roberto Franca, que tomou posse no cargo na manhã da última quinta-feira (3), no Palácio do Campo das Princesas, no Recife. O novo comandante, segundo o governo, terá 60 dias para apresentar ao líder executivo estadual um plano de reestruturação da fundação.
Atualmente com 65 anos, Franca é formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e até pouco tempo exercia a função de integrante da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara. Ao longo de sua extensa carreira, ele já foi deputado federal, secretário estadual, procurador da Justiça. É casado com Janeide Maria Gomes França e pai de três mulheres.