Pedro Augusto
Se para alguns o período atual é de tentar aproveitar ao máximo os encantos e os atrativos oferecidos pelo Litoral pernambucano, para outros o início de 2017 está sendo utilizado para lutar por uma relocação junto ao sol, ou melhor, ao mercado de trabalho. Se for tomado como parâmetro o retrospecto de 2016, o alcance de uma vaga neste começo de ano encontra-se ainda mais difícil do que no primeiro mês dos anos anteriores, haja vista que na temporada passada Caruaru vivenciou o seu segundo pior intervalo em termos de geração de empregos desde a criação da série histórica do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Para se ter ideia, somente no ano passado 3.256 postos de trabalhos formais foram desativados na Capital do Agreste.
Um pequeno exemplo deste quantitativo alarmante de profissionais desocupados pode ser facilmente observado na área interna da Agência do Trabalho de Caruaru, no Bairro Maurício de Nassau. Nela, diariamente, um volume extenso de desempregados vem se concentrando em meio às cadeiras disponíveis à procura de uma oportunidade de trabalho. Por lá, a reportagem VANGUARDA acabou encontrando, na manhã da última terça-feira (24), o desempregado Cícero Adriano, de 40 anos. Pai de três filhos e com um amontoado de contas para pagar, ele já tratou de deixar de lado a busca por vagas voltadas apenas para um segmento profissional: o de motorista.
“Do jeito que as coisas andam no mercado de trabalho local, estou pegando qualquer emprego que possa dar comida aos meus filhos. O meu último trabalho foi de motorista, mas também tenho experiência como auxiliar de escritório e porteiro e, caso surjam oportunidades nestas duas últimas áreas, não pensarei duas vezes em aceitar as propostas. Quem hoje com essa crise se encontra empregado e está de férias, por exemplo, numa praia, pode se sentir um privilegiado. A situação está muito difícil para muita gente, inclusive para minha família”, lamentou Cícero.
O primeiro estudo feito neste ano pela Agência do Trabalho de Caruaru também não deixou por menos a exemplificação do alto quantitativo de desocupados presentes hoje na esfera local. De acordo com o coordenador do serviço, Tássio Patrese, somente no intervalo do dia 1º até o dia 23 de janeiro, 2.986 pessoas estiveram recebendo atendimento na unidade à procura de consultas por vagas. No mesmo período de 2016, o mesmo procedimento foi realizado para 2.498 pessoas. Quanto aos atendimentos voltados para os profissionais que tinham a intenção de protocolar os seguros desempregos, de um ano para o outro, o número referente saltou de 443 para 613.
“Esses números citados demonstram que realmente a situação encontra-se muito difícil em Caruaru em termos de emprego. Pelo menos aqui na nossa unidade, hoje a demanda por postos de trabalho está maior do que o montante de vagas em aberto. Temos percebido que cada vez mais os desempregados estão procurando por postos que exigem qualificações menores para tentar conseguir retornar ao mercado. De um ano para cá, essa migração vem ocorrendo bastante”, confirmou Tássio Patrese.
De acordo com a análise do economista Maurício Assuero, a expectativa é de que o sol volte a brilhar para um número maior de trabalhadores somente no segundo semestre deste ano. “O nível de desemprego no Brasil, incluindo Caruaru, tende a se manter alto neste primeiro semestre do ano, visto que as medidas governamentais propostas não produzirão o efeito desejado no curto prazo. Não vejo como dissociar Caruaru do cenário nacional e regional do ponto de vista econômico, mas acho que a cidade pode implantar políticas públicas para atenuar as perdas. A cidade terá duas datas fundamentais para geração de renda: a Semana Santa e o São João. Como a crise é geral, muito provavelmente estas datas terão um desempenho reduzido em relação ao ano passado, mas é preciso trabalhar bem as potencialidades para que a renda das pessoas volte a subir.”