Pedro Augusto
Com resultados alarmantes nos últimos dois anos, em decorrência da crise financeira nacional, o comércio de Caruaru passou a aguardar, enfim, por dias melhores. Em paralelo aos períodos tradicionais da Páscoa, do Dia das Mães e do São João, que costumam incrementar bastante as vendas na cidade, neste primeiro semestre a projeção por parte dos integrantes do varejo é de que o setor mais pujante da economia local obtenha desempenhos mais expressivos em relação às temporadas anteriores devido aos saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Neste primeiro momento, o procedimento está sendo realizado por parte daqueles trabalhadores que nasceram nos meses de janeiro e fevereiro e que pediram ou foram demitidos por justa causa com contrato finalizado até o dia 31 de dezembro.
Mas até o próximo dia 31 de julho, data de encerramento do calendário alusivo aos saques, a expectativa é de que todos os 30,2 milhões de brasileiros enquadrados na medida do Governo Federal tenham pego em mãos os seus dinheirinhos extras. Na Capital do Agreste, obviamente o volume de pessoas aptas a receber as quantias paradas chega a ser irrisório, quando comparado com o contingente nacional, entretanto não está deixando de animar os varejistas locais. Pelo menos foi o que destacou o presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), com sede Caruaru, Márcio Porto.
“Ainda não contamos com pesquisas referentes às porcentagens que deverão ser observadas para o consumo e para o pagamento de dívidas por parte dos trabalhadores que têm o direito aos saques. Entretanto, não temos dúvidas de que essa medida incrementará bastante o movimento no nosso comércio. Os repasses começaram a ser feitos já há duas semanas e se estenderão até o próximo mês de julho, então, durante todo esse intervalo, acreditamos que as lojas locais deverão vender a mais no que diz respeito aos últimos anos. Por conta da crise, muitas pessoas acabaram reduzindo os valores das feiras, bem como tiveram de cortar os seus planos de saúde. Desta forma, projetamos que esses valores provenientes dos saques das contas inativas deverão ser mais injetados nos setores de alimentação (supermercados) e medicação (farmácias)”, disse.
Entretanto, a expectativa é de que outros setores do comércio local também sejam bastante impulsionados. Especializada na comercialização de eletrodomésticos, a Laser já está sentindo o efeito positivo provocado pelos saques das contas inativas. “Para se ter ideia, somente no último fim de semana, vendemos em torno de R$ 40 mil em mercadorias. Esse resultado foi considerado excelente, haja vista que estávamos comercializando, em média, R$ 10 mil antes do início do calendário do FGTS. Além de estarmos vendendo bastante à vista artigos como geladeiras, fogões e aparelhos celulares, cujos preços são mais altos, também estamos observando um incremento considerável no número de pesquisas por parte dos clientes. Ou seja, já tem trabalhador se programando para consumir tão logo faça o saque. Essa medida do governo veio em boa hora, porque o nosso comércio vinha capegando bastante”, analisou o gerente Moisés Antônio.
Sem fugir da realidade da maioria dos trabalhadores brasileiros, a professora Micélia Barbosa acabou tendo de utilizar grande parte do dinheiro proveniente da conta inativa do FGTS para quitar dívidas. Entretanto, ainda sobrou uma graninha extra para ela ir às compras. “Estava precisando urgentemente de um novo fogão e, graças a Deus, consegui levar para casa um bom modelo. Se não deu para comprar tudo que gostaria, pelo menos não saí de mãos abanando. Deixei a loja satisfeita”, comentou. De acordo com a estimativa do Ministério da Fazenda, os saques deverão injetar pouco mais de R$ 35 bilhões na economia nacional.